miércoles, 24 de junio de 2009

O TOMISMO MILITANTE: O DISCURSO-AÇÃO DE PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA.

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O TOMISMO MILITANTE: O DISCURSO-AÇÃO DE PLÍNIO CORRÊA DE
OLIVEIRA.

Ivanaldo Santos – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

www.aquinate.net/estudos ISSN 1808-5733
AQUINATE, n°9, (2009), 192-200

Resumo: O objetivo desse pequeno artigo é apresentar apenas o tomismo militante de Plínio
Corrêa de Oliveira e o discurso-ação decorrente dessa militância. Para isso, ele foi
dividido em quatro partes: Plínio Corrêa de Oliveira e o tomismo, o conceito de
discurso-ação, o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira e a conclusão.
Palavras-chave: Tomismo, Militância e Discurso-ação.
Abstract: The purpose of this pape ris Orly to presente the “Militant Thomism” of Plínio
Corrêa de Oliveira and the “Action-discourse” that results of this militancy. In
order to it, it was organized in four parts: Plínio Corrêa de Oliveira and the
Thomism; the concepto f “Action-discourse”; the “Action-discourse” of Plínio
Corrêa de Oliveira and the conclusion.
Keywords: Thomism, Militancy “Action-discourse”.
1. INTRODUÇÃO.
O objetivo desse pequeno artigo é apresentar apenas o tomismo militante
de Plínio Corrêa de Oliveira e o discurso-ação decorrente dessa militância.
Para isso ele foi dividido em – partes: Plínio Corrêa de Oliveira e o tomismo,
o conceito de discurso-ação, o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira e a
conclusão.
2. PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA E O TOMISMO.
Nas palavras do Cardeal Alfonso M. Stickler, Plínio Corrêa de Oliveira é
“o grande pensador e homem de acção brasileiro. [...]. Com a coerência da sua
vida de autêntico católico confirma-nos a fecundidade da Igreja”1. Este
pensador produziu uma das mais vigorosas e vastas obras que o pós-segunda
guerra presenciou. Publicou intensamente artigos em diversos jornais de
circulação no Brasil como, por exemplo, o Jornal do Brasil, O Estado de São
Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e o jornal católico O Legionário. Além disso,
fundou a revista Catolicismo, um dos mais importantes e combativos
instrumentos da apologética católica na segunda metade do século XX.
1 STICKLER, C. A. M. Prefácio. In MATTEI, R. DE. O cruzado do século XX: Plínio Corrêa de
Oliveira. Porto: Livraria Civilização Editora, 1997, p. 3.
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Em 1959 ele publicou um dos livros de metodologia-filosófica mais
influentes do século XX. Trata-se de Revolução e contra-revolução2 - mais
conhecido pela sigla RCR. Sobre este livro Heitor de Paola3 afirma que se trata
de uma obra fundamental para todos que desejam compreender como os
antigos e superados valores culturais e morais do paganismo grego-romano
lentamente renasceram no Ocidente após o século XV e como esses valores
aparecem na forma de uma revolução cultural, a qual tem por objetivo
destruir a civilização cristã e transformar a Igreja em apenas uma instituição
social superada.
Neste livro, Plínio Corrêa de Oliveira demonstra, com grande
fundamentação histórico-filosófica, que os grandes movimentos
revolucionários do Ocidente moderno (protestantismo, liberalismo, revolução
francesa, positivismo, socialismo, nazi-fascismo e outros) são etapas da
revolução cultural anticristã. Diante dessa revolução, ele propõe a realização
da contra-revolução, ou seja, “restaurar e promover a cultura e a civilização
católica”4. Essa restauração tem por objetivo “promover, entre os indivíduos e
as multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião
verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e a verdadeira literatura”5.
Dentro do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira deve-se entender a
expressão verdadeira religião como sendo a religião cristã e a expressão verdadeira
filosofia deve ser entendida como sendo a filosofia produzida por Tomás de
Aquino e, por conseguinte, pelo tomismo. Pois, só a filosofia iluminada pelo
pensamento do aquinate, ou seja, o tomismo tem reais condições de analisar,
construir e criticar a história das idéias, a sociedade e todas as estruturas que
dela fazem parte.
Em 1960 ele fundou, juntamente com um grupo de congregados
marianos, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
- mais conhecida pela sigla TFP. Essa sociedade leiga, católica e de cunho
jurídico espalhou-se por dezenas de países, tendo inclusive grande influência
em países como, por exemplo, Itália, Espanha, EUA, Argentina e Chile. Ela
foi e continua sendo um instrumento de propagação dos ideais e da sociedade
cristã.
Apesar do nome de Plínio Corrêa de Oliveira não ser citado no livro de
historia do tomismo no Brasil, Tomismo e neotomismo no Brasil, organizado por
2 Este livro veio a público pela primeira vez em abril de 1959, no centésimo número da
revisa cultural Catolicismo. Posteriormente foi impresso com pequenas modificações na
forma de livro. Ele foi traduzido para dezenas de países e obteve grande repercussão nos
meios intelectuais brasileiros e de outros países como, por exemplo, EUA, França,
Espanha, Argentina e Chile.
3 DE PAOLA, H. Soberania como farsa. Jornal Inconfidência. Ano XIII, n. 125. Belo Horizonte.
Em www.grupoinconfidencia.com.br, em 12/04/2008.
4 OLIVEIRA, P. C. de. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Artpres, 1998, p. 59.
5 IBIDEM, p. 98.
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Fernando Arruda Campos6, ele foi um dos grandes pensadores tomistas
brasileiros do pós-segunda guerra mundial. Com relação à ausência do nome
do referido pensador do livro de Fernando Arruda Campos é bom ter em
mente a advertência de Luís Washington Vita7 realiza quando afirma que o
citado livro trata-se de um levantamento pioneiro do legado especulativo de
Santo Tomás no Brasil, desde os tempos coloniais até o século XX.
Entretanto, é preciso ter consciência que “algo ficou de fora”, ou seja, nem
todos os pensadores tomistas brasileiros constam do livro Tomismo e neotomismo
no Brasil.
Plínio Corrêa de Oliveira é uma dessas ausências citadas por Luís
Washington Vita. Entretanto, em hipótese alguma se deve duvidar da
fidelidade desse pensador à obra do aquinate. Sobre a questão de Plínio
Corrêa de Oliveira ser um tomista, Roberto de Mattei afirma:
“Plínio Corrêa de Oliveira definiu-se, sem hesitações,
como um tomista convicto, conformando-se nisto com
o Magistério da Igreja que no último século, desde Leão
XIII até João Paulo II, não cessou de indicar o Doctor
Communis Ecclesiae como ponto de referência dos estudos
filosóficos para os católicos. [...]. Ele fez seu o princípio
fundamental do tomismo, segundo o qual o objecto
próprio da inteligência humana não é o ser indefinido,
mas a quidditas rei sensibilis, as essências específicas do
real”8.
Ele manteve contato estreito com dois influentes tomistas. O primeiro
foi o padre jesuíta Leonel Franca. Plínio Corrêa de Oliveira e o Pe. Leonel
Franca mantiveram estreita amizade e colaboração intelectual. Inclusive
Roberto de Mattei faz questão de lembrar um fato marcante da formação
intelectual de Plínio. Sobre essa questão Mattei afirma:
“Por ocasião da cerimónia de formatura na curso de
direito na Universidade, ousou aquilo que até então
nunca acontecera em qualquer universidade estatal, no
Brasil. Quis fazer celebrar a Missa, que tradicionalmente
concluía o curso dos estudos superiores, não na igreja de
São Francisco, contígua à Faculdade, mas no pátio
interno desta. Celebrou o vigário geral da Diocese,
6 CAMPOS, F. A. Tomismo e neotomismo no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1968.
7 VITA, L. W. À guisa de prefácio. In CAMPOS, F. A Tomismo e neotomismo no Brasil. São Paulo:
Grijalbo, 1968.
8 MATTEI, R. DE. O cruzado do século XX: Plínio Corrêa de Oliveira. Porto: Livraria Civilização
Editora, 1997, p. 98.
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Mons. Gastão Liberal Pinto, e pregou o P. Leonel
Franca, da Companhia de Jesus”9.
É preciso ressaltar que o Pe. Leonel Franca é um dos grandes nomes do
movimento neotomista no Brasil. Sobre ele Fernando Arruda Campos afirma
tratar-se de um “espírito voltado para os mais altos e mais dilatados ideais do
pensamento cristão”10 e Luís Washington Vita ressalta que para o Pe. Franca o
“tomismo é a Filosofia, com maiúscula, enquanto as demais tendências
especulativas são meras filosofias, com minúsculas, precárias estas e perene
aquela”11.
O segundo contato foi com o padre. dominicano Réginald Garrigou-
Lagrange. Um dos maiores nomes da geração tomista da primeira metade do
século XX. Sobre esse contato Roberto de Mattei relata:
“No verão de 1938, esteve no Brasil o célebre Padre
dominicano Réginald Garrigou-Lagrange, para participar
na Primeira Semana de Estudos Tomistas, que teve lugar
no Rio de Janeiro, sob a presidência do Núncio
[Apostólico] D. Bento Aloisi Masella. O Padre
Garrigou-Lagrange viajou depois a São Paulo, onde
visitou a equipa do Legionário. No número de 18 de
Setembro de 1938, uma fotografia mostra Plínio Corrêa
de Oliveira junto do dominicano francês”12.
Com os tomistas Leonel Franca e Réginald Garrigou-Lagrange, Plínio
Corrêa de Oliveira travou uma intensa relação de amizade, mas também pode
aprofundar o conhecimento e as discussões em torno do pensamento do
aquinate e de todas as conseqüências desse pensamento para a sociedade e
para o ser humano.
Na perspectiva de Plínio o tomismo não é uma mera área da filosofia
limitada à Idade Média ou uma simples disciplina dentro da história da
filosofia. Para ele, o tomismo é, ao mesmo tempo, a síntese de toda a filosofia
e a possibilidade concreta da mesma pesquisar as questões últimas e radicais
que envolvem o ser humano, questões como, por exemplo, a Verdade, Deus,
a Alma e a Vida Eterna.
É preciso deixar claro que mesmo críticos da obra de Plínio Corrêa de
Oliveira como, por exemplo, Rodrigo Coppe Cardeira13 e Gizele Zanotto14
9 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 35.
10 CAMPOS, F. A. Op. cit., p. 99.
11 VITA, L. W. Op. cit., p. 14.
12 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 68.
13 CALDEIRA, R. C. Domínios diferenciados e refluxos identitários: o pensamento católico “antimoderno”
no Brasil. Horizonte. Belo Horizonte, v. 2, n. 4 (2004), pp. 97-111.
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nunca negaram a influência e, ao mesmo tempo, a fidelidade que esse
pensador sempre devotou a Tomás de Aquino.
Com relação às críticas a obra intelectual e a atividade pastoral é
necessário esclarecer que Plínio Corrêa de Oliveira foi um dos pensadores
tomistas mais criticados no Brasil e no exterior durante o século XX. Essas
críticas vão desde a acusação caluniosa de adepto do nazi-fascismo15 até as
tradicionais acusações de puritanismo e dogmatismo realizadas contra os
intelectuais cristãos. Sobre as críticas contra a figura de Plínio Corrêa de
Oliveira, o Cardeal Alfonso M. Stickler afirma:
“Todos os fundadores e personalidades de relevo na
história da Igreja sofreram incompreensões e calúnias.
Não admira, pois, que também Plínio Corrêa de Oliveira
tenha sido objecto, e possa continuar a sê-lo no futuro,
de campanhas difamatórias, alimentadas habilmente por
aqueles que se opõem ao seu ideal de recristianização da
sociedade. Tais campanhas caluniosas também
atingiram, no nosso século, muitas outras associações
católicas, contra as quais se quis lançar a pecha
demoníaca de "seitas". É interessante notar que tais
campanhas se tornam tanto mais agressivas quanto
maior é a fidelidade católica das associações atingidas.
Isso demonstra que o verdadeiro alvo das acusações é a
Igreja, à qual se pretende negar o papel de ‘Mestra da
14 ZANOTTO, G. Tradição, Família e Propriedade: Cristianismo, sociedade e salvação. In XI
CONGRESSO LATINOAMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE – MUNDOS RELIGIOSOS:
IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS. São Bernardo do Campo, 2006. Anais do XI Congresso
Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade - Mundos Religiosos: Identidades e Convergências. Vol. I.
São Bernardo do Campo: UMESP/ALER, 2006.
15 Com relação ao fato das acusações de que Plínio Corrêa de Oliveira era um adepto do
nazi-fascismo é preciso deixar esclarecer que ele foi um dos intelectuais brasileiros que mais
criticaram e denunciaram o caráter desumano e anticristão desse sistema ideológicopolítico.
Sobre esse sistema, ele afirma no artigo À margem da crise, publicado no jornal O
Legionário (25/09/1938): "É incontestável que o comunismo é a antítese do catolicismo.
Mas o nazismo, por seu lado, constitui uma outra antítese da doutrina católica, muito mais
próximo do comunismo do que qualquer destes do catolicismo". Sobre essa mesma
questão Mattei (MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 45) ressalta: “Entre 1929 e 1947 foram
publicados no Legionário nada menos que 2.936 artigos contra o nazismo e o fascismo, dos
quais 447 de Plínio Corrêa de Oliveira. É importante sublinhar que grande parte destes
escritos vieram a lume não apenas antes da guerra, mas também antes da encíclica Mit
brennender Sorge, num momento em que muitos equívocos ainda se acumulavam a respeito
do nazismo. Na perseguição anti-religiosa hitlerista o Prof. Plínio não viu um aspecto
acidental e extrínseco da política do Terceiro Reich, mas a consequência lógica de uma
visão do mundo antitética à católica.
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Verdade’ recentemente reafirmado pelo Santo Padre
João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor”16.
As palavras do Cardeal Alfonso M. Stickler são muito esclarecedoras. O
problema não é a obra intelectual e a atividade pastoral desenvolvida por
Plínio Corrêa de Oliveira, mas sim o projeto de recristianização do Ocidente
desenvolvido por ele e por muitos outros intelectuais e movimentos
apostólicos católicos. Basta ver a dura campanha de difamação realizada
atualmente pela mídia internacional contra movimentos piedosos católicos
que visam à conversão do homem e da sociedade neopagã. Entre esses
movimentos citam-se: os Cavaleiros de Colombo, o movimento tradicionalista
católico e o Opus Dei.
3. O CONCEITO DE DISCURSO-AÇÃO.
Há quase que um senso comum dentro dos ambientes universitários que
afirma que todo discurso é portador de uma ação. Em si mesmo, o discurso
já é uma forma do ser humano ter algum tipo de ação. Em grande medida,
essa postura é oriunda da filosofia analítica, especialmente pelo pensamento
desenvolvido por Wittgenstein na segunda fase de sua obra, especificamente
nas Investigações filosóficas.
De certa forma, essa postura não é totalmente errada. Entretanto, é
preciso deixar claro que o objetivo desse pequeno artigo não é discutir a
relação entre a filosofia analítica e o conceito de discurso-ação. Pelo contrário,
o objetivo é bem mais simples. Como já afirmado: tenciona-se apresentar
apenas o tomismo militante de Plínio Corrêa de Oliveira e o discurso-ação
decorrente dessa militância.
Entretanto, é preciso apresentar – mesmo que de forma rudimentar – o
conceito de discurso-ação. Para Isabela Francisca Freitas Gouvéia de
Vasconcelos17 o discurso-ação é a expressão das “experiências concretas dos
atores sociais”, ou seja, as ações realizadas pelos grupos e indivíduos que se
destacaram dentro da sociedade. Ocasionando, com isso, algum tipo de
transformação social. Obviamente, que não está em discussão se essa
transformação é ética ou não. Já para Juscéia Aparecida Veiga Galbelini o
discurso-ação consiste em toda manifestação do discurso que sirva de
“suporte para ação”18, isto é, há vários tipos de manifestação do discurso na
sociedade, mas apenas os discursos que se transformem em ação podem ser
considerados como discurso-ação.
16 STICKLER, C. A. M. Op. cit., p. 4.
17 VASCONCELOS, I. F. F. G. DE. Etnografia e teoria dos papeis: uma breve discussão dos paradoxos
que envolvem a pesquisa. In Regen jan/abril 2007, v. 5, n. 1, p. 30.
18 GALBELINI, J. A. V. Da ação e do sujeito da ação. Tese de doutorado. PPGeL. Belo
Horizonte: UFMG, 2007, p. 131-132.
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4. O DISCURSO-AÇÃO DE PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA.
Como visto anteriormente, Plínio Corrêa de Oliveira é um pensador
genuinamente tomista. É dentro e, ao mesmo tempo, inspirado na tradição
tomista que ele desde a juventude tem uma postura moldada pelo discursoação.
Como afirma Roberto de Mattei19, ele desde a mais tenra juventude
sempre nutriu um ideal de dedicação profundo a fé cristã. E esse ideal o
próprio Plínio deixa bem claro que é a restauração da civilização cristã.
Não é intenção desse pequeno artigo realizar uma longo exegese da via
público de Plínio Corrêa de Oliveira. Entretanto, apresentam-se três pontos
cruciais de sua vida pública que enfatizam o discurso-ação.
O primeiro ponto é sua atividade como acadêmico do curso de direito da
Universidade de São Paulo. Em 1928, juntamente com alguns congregados
marianos, ele funda nesta universidade a Ação Universitária Católica (AUC).
Um grupo de jovens católicos que além do estudo acurado da filosofia tomista
e da doutrina cristã, pretendiam desenvolver uma série de ações no meio
universitário com o intuito de evangelização e de promoção da civilização
cristã. Nas atividades desenvolvidas pela AUC já se antevê o grande líder
intelectual e o ativista católico que Plínio Corrêa de Oliveira se transformaria
no futuro. É preciso ressaltar que o ativismo pró-civilização cristã foi tamanho
dentro das atividades públicas que Plínio Corrêa de Oliveira terminou
ganhando o apelido de cruzado do século XX.
O segundo ponto é sua intensa atividade de escritor. Ele escrever
intensamente até o dia de sua more em 1995. Entretanto, para ele essa
atividade não era pura abstração acadêmica bem ao gosto da intelectualidade
universitária contemporânea. Pelo contrário, para ele escrever era uma forma
de combater, de lutar em prol do ideal da recristianização do Ocidente. Seus
artigos e livros eram discursos que denunciavam o caráter individual e
antiético da sociedade contemporânea. E diante desse caráter apenas a luz do
evangelho poderia trazer o ser humano novamente ao caminho da vida digna
e honrada. O discurso de Plínio Corrêa de Oliveira era essencialmente uma
ação ética em prol da dignidade do ser humano.
O terceiro e último ponto é a fundação em 1960 da Sociedade Brasileira
de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - mais conhecida pela sigla TFP.
Essa Sociedade logo se espalhou por dezenas de países. E mesmo os países
que não possuíam oficialmente casas da TFP eram influenciados por sua ação
pastoral. Plínio Corrêa de Oliveira imprimiu na TFP toda a sua determinação
e a experiência acumulada durante décadas de defesa da sociedade cristã.
Para ele todos os meios modernos devem ser utilizados pela TFP para a
proclamação da filosofia tomista e da doutrina cristã. Entre esses meios citam-
19 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 34.
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se: rádio, TV, jornal, revistas, livros e mais recentemente a internet. Além
disso, ele criou e incentivou várias campanhas casa-a-casa que foram
realizadas por militantes da TFP. Essas campanhas casa-a-casa tinham por
objetivo precípuo o contato direto com o cidadão. A partir desse contado
esperava-se que a verdade do evangelho pudesse penetrar na vida do cidadão.
A estratégia das campanhas casa-a-casa realizadas por militantes da TFP é um
ótimo exemplo do discurso-ação desenvolvido por Plínio Corrêa de Oliveira.
A TFP foi durante a segunda metade do século XX um das organizações
católicas que mais combateram o ateísmo e o totalitarismo oriundo da
ideologia marxista-socialista20 e as demais formas de organização e
manifestação da sociedade neopagã. Seus militantes sempre trabalharam dia-adia
para que o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira pudesse transformar
a sociedade contemporânea.
5. CONCLUSÃO.
Por fim, é preciso ressaltar que o discurso-ação de Plínio Corrêa de
Oliveira fica patente no Discurso no encerramento do ano de 1936, no Colégio
Arquidiocesano de São Paulo. Um discurso muito conhecido pelas pessoas que
conviveram com Plínio e pelos militantes da TFP. Neste discurso ele afirma:
“Concebemos a vida, não como um festim, mas como
uma luta. O nosso destino deve ser de heróis e não de
sibaritas. É esta verdade sobre a qual mil vezes
meditamos, que hoje vos venho repetir. [...]. Colocai
Cristo no centro das vossas vidas. Fazei convergir para
Ele todos os vossos ideais”21.
Neste discurso fica claro o ideal de Plínio Corrêa de Oliveira, ou seja, ser
um herói e poder contribuir para que milhares de pessoas também sejam
heróis. Entretanto, esse heroísmo pregado por ele não é o heroísmo vulgar e
violento apresentado pela mídia e pelo cinema atualmente, mas o heroísmo
para o qual todo cristão é convocado, ou seja, ter Cristo Salvador como centro
e guia da vida humana e, por conseguinte, ter a doutrina da Igreja como uma
experiência cotidiana. Dentro desse espírito de ação heróica o tomismo
20 Com relação ao fato de Plínio Corrêa de Oliveira e da TFP combaterem o ateísmo e o
totalitarismo oriundo da ideologia marxista-socialista, Abel de Oliveira Campos Filho
(CAMPOS FILHO, A. DE O. Meio século de epopéia anticomunista. São Paulo: Vera Cruz, 1980.)
afirma que um dos grandes objetivos desse pensador era a conversão dessa ideologia à fé
cristã.
21 OLIVEIRA, P. C. DE. Discurso no encerramento do ano de 1936, no Colégio Arquidiocesano de São
Paulo. Echos, n. 29 (1937), pp. 88-92.
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emerge como a única filosofia capaz de compreender e de orientar o ser
humano para a autêntica experiência da Verdade, ou seja, a Verdade
construída e revelada por Deus ao ser humano.
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“antimoderno” no Brasil. Horizonte. Belo Horizonte, v. 2, n. 4 (2004), pp. 97-111.
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ZANOTTO, G. Tradição, Família e Propriedade: Cristianismo, sociedade e salvação. In
XI CONGRESSO LATINOAMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE –
MUNDOS RELIGIOSOS: IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS. São Bernardo do
Campo, 2006. Anais do XI Congresso Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade -
Mundos Religiosos: Identidades e Convergências. Vol. I. São Bernardo do Campo:
UMESP/ALER, 2006.

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