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O TOMISMO MILITANTE: O DISCURSO-AÇÃO DE PLÍNIO CORRÊA DE
OLIVEIRA.
Ivanaldo Santos – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
www.aquinate.net/estudos ISSN 1808-5733
AQUINATE, n°9, (2009), 192-200
Resumo: O objetivo desse pequeno artigo é apresentar apenas o tomismo militante de Plínio
Corrêa de Oliveira e o discurso-ação decorrente dessa militância. Para isso, ele foi
dividido em quatro partes: Plínio Corrêa de Oliveira e o tomismo, o conceito de
discurso-ação, o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira e a conclusão.
Palavras-chave: Tomismo, Militância e Discurso-ação.
Abstract: The purpose of this pape ris Orly to presente the “Militant Thomism” of Plínio
Corrêa de Oliveira and the “Action-discourse” that results of this militancy. In
order to it, it was organized in four parts: Plínio Corrêa de Oliveira and the
Thomism; the concepto f “Action-discourse”; the “Action-discourse” of Plínio
Corrêa de Oliveira and the conclusion.
Keywords: Thomism, Militancy “Action-discourse”.
1. INTRODUÇÃO.
O objetivo desse pequeno artigo é apresentar apenas o tomismo militante
de Plínio Corrêa de Oliveira e o discurso-ação decorrente dessa militância.
Para isso ele foi dividido em – partes: Plínio Corrêa de Oliveira e o tomismo,
o conceito de discurso-ação, o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira e a
conclusão.
2. PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA E O TOMISMO.
Nas palavras do Cardeal Alfonso M. Stickler, Plínio Corrêa de Oliveira é
“o grande pensador e homem de acção brasileiro. [...]. Com a coerência da sua
vida de autêntico católico confirma-nos a fecundidade da Igreja”1. Este
pensador produziu uma das mais vigorosas e vastas obras que o pós-segunda
guerra presenciou. Publicou intensamente artigos em diversos jornais de
circulação no Brasil como, por exemplo, o Jornal do Brasil, O Estado de São
Paulo, Folha de São Paulo, O Globo e o jornal católico O Legionário. Além disso,
fundou a revista Catolicismo, um dos mais importantes e combativos
instrumentos da apologética católica na segunda metade do século XX.
1 STICKLER, C. A. M. Prefácio. In MATTEI, R. DE. O cruzado do século XX: Plínio Corrêa de
Oliveira. Porto: Livraria Civilização Editora, 1997, p. 3.
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Em 1959 ele publicou um dos livros de metodologia-filosófica mais
influentes do século XX. Trata-se de Revolução e contra-revolução2 - mais
conhecido pela sigla RCR. Sobre este livro Heitor de Paola3 afirma que se trata
de uma obra fundamental para todos que desejam compreender como os
antigos e superados valores culturais e morais do paganismo grego-romano
lentamente renasceram no Ocidente após o século XV e como esses valores
aparecem na forma de uma revolução cultural, a qual tem por objetivo
destruir a civilização cristã e transformar a Igreja em apenas uma instituição
social superada.
Neste livro, Plínio Corrêa de Oliveira demonstra, com grande
fundamentação histórico-filosófica, que os grandes movimentos
revolucionários do Ocidente moderno (protestantismo, liberalismo, revolução
francesa, positivismo, socialismo, nazi-fascismo e outros) são etapas da
revolução cultural anticristã. Diante dessa revolução, ele propõe a realização
da contra-revolução, ou seja, “restaurar e promover a cultura e a civilização
católica”4. Essa restauração tem por objetivo “promover, entre os indivíduos e
as multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião
verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e a verdadeira literatura”5.
Dentro do pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira deve-se entender a
expressão verdadeira religião como sendo a religião cristã e a expressão verdadeira
filosofia deve ser entendida como sendo a filosofia produzida por Tomás de
Aquino e, por conseguinte, pelo tomismo. Pois, só a filosofia iluminada pelo
pensamento do aquinate, ou seja, o tomismo tem reais condições de analisar,
construir e criticar a história das idéias, a sociedade e todas as estruturas que
dela fazem parte.
Em 1960 ele fundou, juntamente com um grupo de congregados
marianos, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
- mais conhecida pela sigla TFP. Essa sociedade leiga, católica e de cunho
jurídico espalhou-se por dezenas de países, tendo inclusive grande influência
em países como, por exemplo, Itália, Espanha, EUA, Argentina e Chile. Ela
foi e continua sendo um instrumento de propagação dos ideais e da sociedade
cristã.
Apesar do nome de Plínio Corrêa de Oliveira não ser citado no livro de
historia do tomismo no Brasil, Tomismo e neotomismo no Brasil, organizado por
2 Este livro veio a público pela primeira vez em abril de 1959, no centésimo número da
revisa cultural Catolicismo. Posteriormente foi impresso com pequenas modificações na
forma de livro. Ele foi traduzido para dezenas de países e obteve grande repercussão nos
meios intelectuais brasileiros e de outros países como, por exemplo, EUA, França,
Espanha, Argentina e Chile.
3 DE PAOLA, H. Soberania como farsa. Jornal Inconfidência. Ano XIII, n. 125. Belo Horizonte.
Em www.grupoinconfidencia.com.br, em 12/04/2008.
4 OLIVEIRA, P. C. de. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Artpres, 1998, p. 59.
5 IBIDEM, p. 98.
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Fernando Arruda Campos6, ele foi um dos grandes pensadores tomistas
brasileiros do pós-segunda guerra mundial. Com relação à ausência do nome
do referido pensador do livro de Fernando Arruda Campos é bom ter em
mente a advertência de Luís Washington Vita7 realiza quando afirma que o
citado livro trata-se de um levantamento pioneiro do legado especulativo de
Santo Tomás no Brasil, desde os tempos coloniais até o século XX.
Entretanto, é preciso ter consciência que “algo ficou de fora”, ou seja, nem
todos os pensadores tomistas brasileiros constam do livro Tomismo e neotomismo
no Brasil.
Plínio Corrêa de Oliveira é uma dessas ausências citadas por Luís
Washington Vita. Entretanto, em hipótese alguma se deve duvidar da
fidelidade desse pensador à obra do aquinate. Sobre a questão de Plínio
Corrêa de Oliveira ser um tomista, Roberto de Mattei afirma:
“Plínio Corrêa de Oliveira definiu-se, sem hesitações,
como um tomista convicto, conformando-se nisto com
o Magistério da Igreja que no último século, desde Leão
XIII até João Paulo II, não cessou de indicar o Doctor
Communis Ecclesiae como ponto de referência dos estudos
filosóficos para os católicos. [...]. Ele fez seu o princípio
fundamental do tomismo, segundo o qual o objecto
próprio da inteligência humana não é o ser indefinido,
mas a quidditas rei sensibilis, as essências específicas do
real”8.
Ele manteve contato estreito com dois influentes tomistas. O primeiro
foi o padre jesuíta Leonel Franca. Plínio Corrêa de Oliveira e o Pe. Leonel
Franca mantiveram estreita amizade e colaboração intelectual. Inclusive
Roberto de Mattei faz questão de lembrar um fato marcante da formação
intelectual de Plínio. Sobre essa questão Mattei afirma:
“Por ocasião da cerimónia de formatura na curso de
direito na Universidade, ousou aquilo que até então
nunca acontecera em qualquer universidade estatal, no
Brasil. Quis fazer celebrar a Missa, que tradicionalmente
concluía o curso dos estudos superiores, não na igreja de
São Francisco, contígua à Faculdade, mas no pátio
interno desta. Celebrou o vigário geral da Diocese,
6 CAMPOS, F. A. Tomismo e neotomismo no Brasil. São Paulo: Grijalbo, 1968.
7 VITA, L. W. À guisa de prefácio. In CAMPOS, F. A Tomismo e neotomismo no Brasil. São Paulo:
Grijalbo, 1968.
8 MATTEI, R. DE. O cruzado do século XX: Plínio Corrêa de Oliveira. Porto: Livraria Civilização
Editora, 1997, p. 98.
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Mons. Gastão Liberal Pinto, e pregou o P. Leonel
Franca, da Companhia de Jesus”9.
É preciso ressaltar que o Pe. Leonel Franca é um dos grandes nomes do
movimento neotomista no Brasil. Sobre ele Fernando Arruda Campos afirma
tratar-se de um “espírito voltado para os mais altos e mais dilatados ideais do
pensamento cristão”10 e Luís Washington Vita ressalta que para o Pe. Franca o
“tomismo é a Filosofia, com maiúscula, enquanto as demais tendências
especulativas são meras filosofias, com minúsculas, precárias estas e perene
aquela”11.
O segundo contato foi com o padre. dominicano Réginald Garrigou-
Lagrange. Um dos maiores nomes da geração tomista da primeira metade do
século XX. Sobre esse contato Roberto de Mattei relata:
“No verão de 1938, esteve no Brasil o célebre Padre
dominicano Réginald Garrigou-Lagrange, para participar
na Primeira Semana de Estudos Tomistas, que teve lugar
no Rio de Janeiro, sob a presidência do Núncio
[Apostólico] D. Bento Aloisi Masella. O Padre
Garrigou-Lagrange viajou depois a São Paulo, onde
visitou a equipa do Legionário. No número de 18 de
Setembro de 1938, uma fotografia mostra Plínio Corrêa
de Oliveira junto do dominicano francês”12.
Com os tomistas Leonel Franca e Réginald Garrigou-Lagrange, Plínio
Corrêa de Oliveira travou uma intensa relação de amizade, mas também pode
aprofundar o conhecimento e as discussões em torno do pensamento do
aquinate e de todas as conseqüências desse pensamento para a sociedade e
para o ser humano.
Na perspectiva de Plínio o tomismo não é uma mera área da filosofia
limitada à Idade Média ou uma simples disciplina dentro da história da
filosofia. Para ele, o tomismo é, ao mesmo tempo, a síntese de toda a filosofia
e a possibilidade concreta da mesma pesquisar as questões últimas e radicais
que envolvem o ser humano, questões como, por exemplo, a Verdade, Deus,
a Alma e a Vida Eterna.
É preciso deixar claro que mesmo críticos da obra de Plínio Corrêa de
Oliveira como, por exemplo, Rodrigo Coppe Cardeira13 e Gizele Zanotto14
9 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 35.
10 CAMPOS, F. A. Op. cit., p. 99.
11 VITA, L. W. Op. cit., p. 14.
12 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 68.
13 CALDEIRA, R. C. Domínios diferenciados e refluxos identitários: o pensamento católico “antimoderno”
no Brasil. Horizonte. Belo Horizonte, v. 2, n. 4 (2004), pp. 97-111.
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nunca negaram a influência e, ao mesmo tempo, a fidelidade que esse
pensador sempre devotou a Tomás de Aquino.
Com relação às críticas a obra intelectual e a atividade pastoral é
necessário esclarecer que Plínio Corrêa de Oliveira foi um dos pensadores
tomistas mais criticados no Brasil e no exterior durante o século XX. Essas
críticas vão desde a acusação caluniosa de adepto do nazi-fascismo15 até as
tradicionais acusações de puritanismo e dogmatismo realizadas contra os
intelectuais cristãos. Sobre as críticas contra a figura de Plínio Corrêa de
Oliveira, o Cardeal Alfonso M. Stickler afirma:
“Todos os fundadores e personalidades de relevo na
história da Igreja sofreram incompreensões e calúnias.
Não admira, pois, que também Plínio Corrêa de Oliveira
tenha sido objecto, e possa continuar a sê-lo no futuro,
de campanhas difamatórias, alimentadas habilmente por
aqueles que se opõem ao seu ideal de recristianização da
sociedade. Tais campanhas caluniosas também
atingiram, no nosso século, muitas outras associações
católicas, contra as quais se quis lançar a pecha
demoníaca de "seitas". É interessante notar que tais
campanhas se tornam tanto mais agressivas quanto
maior é a fidelidade católica das associações atingidas.
Isso demonstra que o verdadeiro alvo das acusações é a
Igreja, à qual se pretende negar o papel de ‘Mestra da
14 ZANOTTO, G. Tradição, Família e Propriedade: Cristianismo, sociedade e salvação. In XI
CONGRESSO LATINOAMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE – MUNDOS RELIGIOSOS:
IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS. São Bernardo do Campo, 2006. Anais do XI Congresso
Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade - Mundos Religiosos: Identidades e Convergências. Vol. I.
São Bernardo do Campo: UMESP/ALER, 2006.
15 Com relação ao fato das acusações de que Plínio Corrêa de Oliveira era um adepto do
nazi-fascismo é preciso deixar esclarecer que ele foi um dos intelectuais brasileiros que mais
criticaram e denunciaram o caráter desumano e anticristão desse sistema ideológicopolítico.
Sobre esse sistema, ele afirma no artigo À margem da crise, publicado no jornal O
Legionário (25/09/1938): "É incontestável que o comunismo é a antítese do catolicismo.
Mas o nazismo, por seu lado, constitui uma outra antítese da doutrina católica, muito mais
próximo do comunismo do que qualquer destes do catolicismo". Sobre essa mesma
questão Mattei (MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 45) ressalta: “Entre 1929 e 1947 foram
publicados no Legionário nada menos que 2.936 artigos contra o nazismo e o fascismo, dos
quais 447 de Plínio Corrêa de Oliveira. É importante sublinhar que grande parte destes
escritos vieram a lume não apenas antes da guerra, mas também antes da encíclica Mit
brennender Sorge, num momento em que muitos equívocos ainda se acumulavam a respeito
do nazismo. Na perseguição anti-religiosa hitlerista o Prof. Plínio não viu um aspecto
acidental e extrínseco da política do Terceiro Reich, mas a consequência lógica de uma
visão do mundo antitética à católica.
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Verdade’ recentemente reafirmado pelo Santo Padre
João Paulo II na encíclica Veritatis Splendor”16.
As palavras do Cardeal Alfonso M. Stickler são muito esclarecedoras. O
problema não é a obra intelectual e a atividade pastoral desenvolvida por
Plínio Corrêa de Oliveira, mas sim o projeto de recristianização do Ocidente
desenvolvido por ele e por muitos outros intelectuais e movimentos
apostólicos católicos. Basta ver a dura campanha de difamação realizada
atualmente pela mídia internacional contra movimentos piedosos católicos
que visam à conversão do homem e da sociedade neopagã. Entre esses
movimentos citam-se: os Cavaleiros de Colombo, o movimento tradicionalista
católico e o Opus Dei.
3. O CONCEITO DE DISCURSO-AÇÃO.
Há quase que um senso comum dentro dos ambientes universitários que
afirma que todo discurso é portador de uma ação. Em si mesmo, o discurso
já é uma forma do ser humano ter algum tipo de ação. Em grande medida,
essa postura é oriunda da filosofia analítica, especialmente pelo pensamento
desenvolvido por Wittgenstein na segunda fase de sua obra, especificamente
nas Investigações filosóficas.
De certa forma, essa postura não é totalmente errada. Entretanto, é
preciso deixar claro que o objetivo desse pequeno artigo não é discutir a
relação entre a filosofia analítica e o conceito de discurso-ação. Pelo contrário,
o objetivo é bem mais simples. Como já afirmado: tenciona-se apresentar
apenas o tomismo militante de Plínio Corrêa de Oliveira e o discurso-ação
decorrente dessa militância.
Entretanto, é preciso apresentar – mesmo que de forma rudimentar – o
conceito de discurso-ação. Para Isabela Francisca Freitas Gouvéia de
Vasconcelos17 o discurso-ação é a expressão das “experiências concretas dos
atores sociais”, ou seja, as ações realizadas pelos grupos e indivíduos que se
destacaram dentro da sociedade. Ocasionando, com isso, algum tipo de
transformação social. Obviamente, que não está em discussão se essa
transformação é ética ou não. Já para Juscéia Aparecida Veiga Galbelini o
discurso-ação consiste em toda manifestação do discurso que sirva de
“suporte para ação”18, isto é, há vários tipos de manifestação do discurso na
sociedade, mas apenas os discursos que se transformem em ação podem ser
considerados como discurso-ação.
16 STICKLER, C. A. M. Op. cit., p. 4.
17 VASCONCELOS, I. F. F. G. DE. Etnografia e teoria dos papeis: uma breve discussão dos paradoxos
que envolvem a pesquisa. In Regen jan/abril 2007, v. 5, n. 1, p. 30.
18 GALBELINI, J. A. V. Da ação e do sujeito da ação. Tese de doutorado. PPGeL. Belo
Horizonte: UFMG, 2007, p. 131-132.
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4. O DISCURSO-AÇÃO DE PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA.
Como visto anteriormente, Plínio Corrêa de Oliveira é um pensador
genuinamente tomista. É dentro e, ao mesmo tempo, inspirado na tradição
tomista que ele desde a juventude tem uma postura moldada pelo discursoação.
Como afirma Roberto de Mattei19, ele desde a mais tenra juventude
sempre nutriu um ideal de dedicação profundo a fé cristã. E esse ideal o
próprio Plínio deixa bem claro que é a restauração da civilização cristã.
Não é intenção desse pequeno artigo realizar uma longo exegese da via
público de Plínio Corrêa de Oliveira. Entretanto, apresentam-se três pontos
cruciais de sua vida pública que enfatizam o discurso-ação.
O primeiro ponto é sua atividade como acadêmico do curso de direito da
Universidade de São Paulo. Em 1928, juntamente com alguns congregados
marianos, ele funda nesta universidade a Ação Universitária Católica (AUC).
Um grupo de jovens católicos que além do estudo acurado da filosofia tomista
e da doutrina cristã, pretendiam desenvolver uma série de ações no meio
universitário com o intuito de evangelização e de promoção da civilização
cristã. Nas atividades desenvolvidas pela AUC já se antevê o grande líder
intelectual e o ativista católico que Plínio Corrêa de Oliveira se transformaria
no futuro. É preciso ressaltar que o ativismo pró-civilização cristã foi tamanho
dentro das atividades públicas que Plínio Corrêa de Oliveira terminou
ganhando o apelido de cruzado do século XX.
O segundo ponto é sua intensa atividade de escritor. Ele escrever
intensamente até o dia de sua more em 1995. Entretanto, para ele essa
atividade não era pura abstração acadêmica bem ao gosto da intelectualidade
universitária contemporânea. Pelo contrário, para ele escrever era uma forma
de combater, de lutar em prol do ideal da recristianização do Ocidente. Seus
artigos e livros eram discursos que denunciavam o caráter individual e
antiético da sociedade contemporânea. E diante desse caráter apenas a luz do
evangelho poderia trazer o ser humano novamente ao caminho da vida digna
e honrada. O discurso de Plínio Corrêa de Oliveira era essencialmente uma
ação ética em prol da dignidade do ser humano.
O terceiro e último ponto é a fundação em 1960 da Sociedade Brasileira
de Defesa da Tradição, Família e Propriedade - mais conhecida pela sigla TFP.
Essa Sociedade logo se espalhou por dezenas de países. E mesmo os países
que não possuíam oficialmente casas da TFP eram influenciados por sua ação
pastoral. Plínio Corrêa de Oliveira imprimiu na TFP toda a sua determinação
e a experiência acumulada durante décadas de defesa da sociedade cristã.
Para ele todos os meios modernos devem ser utilizados pela TFP para a
proclamação da filosofia tomista e da doutrina cristã. Entre esses meios citam-
19 MATTEI, R. DE. Op. cit., p. 34.
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se: rádio, TV, jornal, revistas, livros e mais recentemente a internet. Além
disso, ele criou e incentivou várias campanhas casa-a-casa que foram
realizadas por militantes da TFP. Essas campanhas casa-a-casa tinham por
objetivo precípuo o contato direto com o cidadão. A partir desse contado
esperava-se que a verdade do evangelho pudesse penetrar na vida do cidadão.
A estratégia das campanhas casa-a-casa realizadas por militantes da TFP é um
ótimo exemplo do discurso-ação desenvolvido por Plínio Corrêa de Oliveira.
A TFP foi durante a segunda metade do século XX um das organizações
católicas que mais combateram o ateísmo e o totalitarismo oriundo da
ideologia marxista-socialista20 e as demais formas de organização e
manifestação da sociedade neopagã. Seus militantes sempre trabalharam dia-adia
para que o discurso-ação de Plínio Corrêa de Oliveira pudesse transformar
a sociedade contemporânea.
5. CONCLUSÃO.
Por fim, é preciso ressaltar que o discurso-ação de Plínio Corrêa de
Oliveira fica patente no Discurso no encerramento do ano de 1936, no Colégio
Arquidiocesano de São Paulo. Um discurso muito conhecido pelas pessoas que
conviveram com Plínio e pelos militantes da TFP. Neste discurso ele afirma:
“Concebemos a vida, não como um festim, mas como
uma luta. O nosso destino deve ser de heróis e não de
sibaritas. É esta verdade sobre a qual mil vezes
meditamos, que hoje vos venho repetir. [...]. Colocai
Cristo no centro das vossas vidas. Fazei convergir para
Ele todos os vossos ideais”21.
Neste discurso fica claro o ideal de Plínio Corrêa de Oliveira, ou seja, ser
um herói e poder contribuir para que milhares de pessoas também sejam
heróis. Entretanto, esse heroísmo pregado por ele não é o heroísmo vulgar e
violento apresentado pela mídia e pelo cinema atualmente, mas o heroísmo
para o qual todo cristão é convocado, ou seja, ter Cristo Salvador como centro
e guia da vida humana e, por conseguinte, ter a doutrina da Igreja como uma
experiência cotidiana. Dentro desse espírito de ação heróica o tomismo
20 Com relação ao fato de Plínio Corrêa de Oliveira e da TFP combaterem o ateísmo e o
totalitarismo oriundo da ideologia marxista-socialista, Abel de Oliveira Campos Filho
(CAMPOS FILHO, A. DE O. Meio século de epopéia anticomunista. São Paulo: Vera Cruz, 1980.)
afirma que um dos grandes objetivos desse pensador era a conversão dessa ideologia à fé
cristã.
21 OLIVEIRA, P. C. DE. Discurso no encerramento do ano de 1936, no Colégio Arquidiocesano de São
Paulo. Echos, n. 29 (1937), pp. 88-92.
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emerge como a única filosofia capaz de compreender e de orientar o ser
humano para a autêntica experiência da Verdade, ou seja, a Verdade
construída e revelada por Deus ao ser humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CALDEIRA, R. C. Domínios diferenciados e refluxos identitários: o pensamento católico
“antimoderno” no Brasil. Horizonte. Belo Horizonte, v. 2, n. 4 (2004), pp. 97-111.
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Horizonte. Em www.grupoinconfidencia.com.br, em 12/04/2008.
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paradoxos que envolvem a pesquisa. In Regen jan/abril 2007, v. 5, n. 1, pp. 22-36.
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XI CONGRESSO LATINOAMERICANO SOBRE RELIGIÃO E ETNICIDADE –
MUNDOS RELIGIOSOS: IDENTIDADES E CONVERGÊNCIAS. São Bernardo do
Campo, 2006. Anais do XI Congresso Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade -
Mundos Religiosos: Identidades e Convergências. Vol. I. São Bernardo do Campo:
UMESP/ALER, 2006.
miércoles, 24 de junio de 2009
martes, 23 de junio de 2009
DECLARACIÓN SOBRE EL ANTEPROYECTO DE «LEY DEL ABORTO»
DECLARACIÓN SOBRE EL ANTEPROYECTO DE «LEY DEL ABORTO»: ATENTAR CONTRA LA VIDA DE LOS QUE VAN A NACER, CONVERTIDO EN «DERECHO» CCXIII COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
Madrid, 17 de junio de 2009
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
http://www.conferenciaepiscopal.es conferenciaepiscopal@planalfa.es
Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 3
ÍNDICE
I. La mera voluntad de la gestante anula el derecho a la vida del que va a
nacer
II. La salud como excusa para eliminar a los que van a nacer
III. Se niega o devalúa al ser humano para intentar justificar su eliminación
IV. No se apoya a la mujer para ahorrarle el trauma del aborto y sus graves
secuelas
V. Privar de la vida a los que van a nacer no es algo privado
VI. La educación, instrumentalizada también al servicio del aborto
VII. Conclusión: por el Pueblo de la Vida
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
http://www.conferenciaepiscopal.es conferenciaepiscopal@planalfa.es
Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 4
1. Hecho ya público, el pasado 14 de mayo, el denominado «Anteproyecto de Ley Orgánica
de salud sexual y reproductiva y de la interrupción voluntaria del embarazo», los
obispos tenemos el deber de pronunciarnos públicamente sobre sus graves implicaciones
morales negativas; porque forma parte esencial de nuestro servicio anunciar el esplendor
del Evangelio de la vida, que ilumina la conciencia de los católicos y de todos
los que deseen acogerlo en orden a una mejor convivencia en justicia y libertad. Estamos
convencidos de que «todo hombre abierto sinceramente a la verdad y al bien, aun
entre dificultades e incertidumbres, con la luz de la razón y no sin el influjo de la gracia,
puede llegar a descubrir en la ley natural escrita en su corazón (cf. Rom 2, 14-14) el valor
sagrado de la vida humana desde su inicio hasta su término»1. Por eso, aunque nosotros
hablamos desde la fe católica y la experiencia de la Iglesia, nuestras reflexiones
se dirigen a todos y pensamos que podrían ser aceptadas también por muchos que no
comparten esa fe, pues giran en torno al derecho a la vida de todo ser humano inocente,
un patrimonio común de la razón humana.
2. Los obispos españoles han anunciado el Evangelio de la vida y han denunciado la
cultura de la muerte en muchas ocasiones2. Con esta nueva declaración deseamos poner
de relieve algunos aspectos del Anteproyecto en cuestión que, de llegar a convertirse
en Ley, supondrían un serio retroceso en la protección del derecho a la vida de los
que van a nacer, un mayor abandono de las madres gestantes y, en definitiva, un daño
muy serio para el bien común.
I. La mera voluntad de la gestante anula el derecho a la vida del que va a nacer
En las primeras catorce semanas, la gestante decide
sobre la muerte del que va a nacer: la violación del
derecho a la vida, tratada como si fuera un derecho.
3. El aspecto tal vez más sombrío del Anteproyecto es su pretensión de calificar el aborto
provocado como un derecho que habría de ser protegido por el Estado. He ahí una
fuente envenenada de inmoralidad e injusticia que vicia todo el texto.
4. En el artículo 3. 2. «se reconoce el derecho a la maternidad libremente decidida».
Lamentablemente esta expresión no significa aquí que toda mujer tiene derecho a elegir
si quiere o no quiere ser madre; significa, más bien, que tiene derecho a decidir eliminar
a su hijo ya concebido. Tal es la lectura que viene exigida por las afirmaciones recogidas
en la Exposición de motivos referentes a «los derechos humanos de las mujeres» en el
ámbito de la «salud reproductiva» (I) y, en concreto, «al derecho de todo ser humano, y
en particular de las mujeres, al respeto de su integridad física y a la libre disposición de
su cuerpo y, en este contexto, a que la decisión última de recurrir o no a un aborto corresponda
a la mujer interesada» (II). En consecuencia, el Anteproyecto establece un
primer plazo de catorce semanas dentro del cual la voluntad de la madre se convierte en
1 JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium Vitæ, 2.
2 Cf. LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia,
santuario de la vida y esperanza de la sociedad (27 de abril de 2001); XLII ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA
EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral Actitudes morales y cristianas ante la despenalización del
aborto (28 de junio de 1985); y las Declaraciones de la COMISIÓN PERMANENTE La vida y el aborto (5 de febrero
de 1983), Despenalización del aborto y conciencia moral (10 de mayo de 1985) y Sobre la proyectada
nueva «Ley del aborto» (22 de septiembre de 1994). Estos y otros documentos se encuentran en la colección
«Conferencia Episcopal Española», La vida humana, don precioso de Dios. Documentos sobre la vida
1974-2006, EDICE, Madrid 2006, así como también en: www.conferenciaepiscopal.es (Colección Documental
Informática).
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árbitro absoluto sobre la vida o la muerte del hijo que lleva en sus entrañas (artículo 14:
«interrupción del embarazo a petición de la mujer»).
5. Ahora bien, decidir abortar es optar por quitar la vida a un hijo ya concebido y eso sobrepasa
con mucho las posibles decisiones sobre el propio cuerpo, sobre la salud de la
madre o sobre la elección de la maternidad. Es una decisión sobre un hijo indefenso y
totalmente dependiente de quien lo lleva en su seno. Es, según el Concilio Vaticano II,
un «crimen abominable»3, «un acto intrínsecamente malo que viola muy gravemente la
dignidad de un ser humano inocente, quitándole la vida. Asimismo hiere gravemente la
dignidad de quienes lo cometen, dejando profundos traumas psicológicos y morales»4.
6. El Estado que otorga la calificación de derecho a algo que, en realidad, es un atentado
contra el derecho fundamental a la vida, pervierte el elemental orden de racionalidad
que se encuentra en la base de su propia legitimidad. La tutela del bien fundamental de
la vida humana y del derecho a vivir forma parte esencial de las obligaciones de la autoridad5.
«El derecho a la vida no es una concesión del Estado, es un derecho anterior al
Estado mismo y este tiene siempre la obligación de tutelarlo. Tampoco tiene el Estado
autoridad para establecer un plazo, dentro de cuyos límites la práctica del aborto dejaría
de ser un crimen»6.
II. La salud como excusa para eliminar a los que van a nacer
Hasta la vigésimo segunda semana, ambiguas indicaciones
médico-sociales: la medicina y la sanidad,
falseadas, al servicio de la muerte.
7. El Anteproyecto de Ley presenta el aborto provocado como un derecho que forma
parte de un programa de «salud sexual y reproductiva». La salud, por su parte, es definida,
a los efectos de lo dispuesto en esta ley, como «el estado de completo bienestar
físico, mental y social y no solamente como la ausencia de afecciones o enfermedades»
(art. 2. a).
8. El Anteproyecto establece que desde la decimocuarta semana de gestación el aborto
ya no sería un derecho absoluto de la madre, puesto que para poder ser realizado sin
sanción habrá de existir entonces «riesgo de graves anomalías en el feto» (art. 15, b) o
«grave riesgo para la vida o la salud de la embarazada» (art. 15, a). A tenor de la definición
de salud señalada, los facultativos podrán certificar la existencia de esta indicación
médica para el aborto cuando el niño que va a nacer suponga un grave inconveniente
para «el completo bienestar físico, mental y social» de la madre. Lo que no se sabe es
cuáles serán los criterios que el médico habrá de emplear para poder diagnosticar un
grave quebranto de un tal «completo bienestar» eventualmente causado por el que va a
nacer. Ante esta indefinición, el segundo plazo, teóricamemente ligado a indicaciones
3 Constitución Gaudium et spes, 51.
4 LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia, santuario
de la vida y esperanza de la sociedad, 111.
5 Cf. BENEDICTO XVI, Discurso en el Encuentro con las autoridades y el cuerpo diplomático, Viena, 7 de septiembre
de 2007: «El derecho humano fundamental, el presupuesto de todos los demás derechos, es el derecho
a la vida misma. Esto vale para la vida desde el momento de la concepción hasta la muerte natural.
En consecuencia, el aborto no puede ser un derecho humano; es exactamente lo opuesto. Es una profunda
‘herida social’ (…). Hago un llamamiento a los líderes políticos para que no permitan que los hijos sean considerados
una especie de enfermedad, y para que en vuestro ordenamiento jurídico no sea abolida, en la
práctica, la calificación de injusticia atribuida al aborto».
6 CLX COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Sobre la proyectada nueva «Ley del
aborto», 6.
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médicas, queda también prácticamente asimilado al primero, en el que prima el derecho
absoluto de la madre a decidir sobre la vida de su hijo.
9. La inclusión del aborto entre los medios supuestamente necesarios para cuidar la salud
es de por sí una grave falsedad. El acto médico se dirige a prevenir la enfermedad o
a curarla. Pero el embarazo no será nunca de por sí una enfermedad, aunque pueda
conllevar complicaciones de salud, ser inesperado o incluso fruto de la violencia. Por
eso, abortar no es nunca curar, es siempre matar. Cosa distinta es que una determinada
terapia necesaria lleve consigo un aborto como efecto indirecto no buscado. De ahí que
incluir el aborto en la política sanitaria falsee siempre gravemente el acto médico, que
queda desnaturalizado cuando es puesto al servicio de la muerte. La falsificación es
más sangrante cuando el concepto de salud empleado –aunque sea el de la Organización
Mundial de la Salud– se convierte en una excusa para encubrir el deseo particular
de no tener un hijo, aun quitándole la vida. En efecto, si salud es «completo bienestar
físico, mental y social», y tal bienestar se considera amenazado por el que va nacer, éste
puede ser tratado como un obstáculo para la calidad de vida, cuya eliminación pasa
entonces a ser tenida por lícita.
10. Una auténtica política sanitaria debe tener siempre en cuenta la salud de la madre
gestante, pero también la vida y la salud del niño que va a nacer. Por lo demás, la imposición
del aborto procurado en el sistema sanitario como prestación asistencial para la
salud bio-psico-social de la gestante, a la que ésta tendría un supuesto derecho, lleva
consigo la transferencia de la obligatoriedad a los profesionales de la sanidad. De este
modo queda abierta la posibilidad de que no se respete a quienes por muy justificados
motivos de conciencia se nieguen a realizar abortos, cargándolos arbitrariamente con un
supuesto deber e incluso con eventuales sanciones7. Es necesario reconocer y agradecer
el valor mostrado por tantos ginecólogos y profesionales de la sanidad que, fieles a
su vocación y al verdadero sentido de su trabajo, resisten presiones de todo tipo e incluso
afrontan ciertas marginaciones con tal de servir siempre a la vida de cada ser humano.
III. Se niega o devalúa al ser humano para intentar justificar su eliminación
Frente a la evidencia de que donde hay un cuerpo
humano vivo, aunque sea incipiente, hay un ser
humano y una dignidad humana inviolable, se establecen
plazos de gestación y de presencia humana
de los que no es posible dar razón suficiente.
11. Sorprendentemente, el Anteproyecto no explica en ningún momento por qué fragmenta
el tiempo de la gestación en tres periodos o plazos pretendidamente determinantes
de diferentes tipos de trato del ser humano en gestación. ¿Por qué durante las catorce
primeras semanas «prevalece el derecho de autodeterminación de las mujeres» y
el aborto puede ser realizado por simple petición de la gestante? ¿Por qué se establece
un segundo plazo, hasta la semana vigésimo segunda, durante el cual será preciso aducir
indicaciones supuestamente médicas? ¿Y por qué las «anomalías fetales incompatibles
con la vida» o «una enfermedad extremadamente grave e incurable» del feto (art.
15, c) permitirían el aborto en cualquier momento de la gestación? ¿Por qué no, enton-
7 Hay que recordar la sentencia del Tribunal Constitucional de 11de abril de 1985, en la que, tratando precisamente
del aborto, afirma del «derecho a la objeción de conciencia que existe y puede ser ejercido con independencia
de que se haya dictado o no tal regulación. La objeción de conciencia forma parte del contenido
del derecho fundamental a la libertad ideológica y religiosa reconocido en el art. 16.1 de la Constitución
y, como ha indicado este Tribunal en diversas ocasiones, la Constitución es directamente aplicable, especialmente
en materia de derechos fundamentales».
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ces, en el momento mismo del nacimiento o un minuto después? En vano se buscará
una respuesta a estas preguntas, todas ellas de gran calado moral.
12. Se oye decir a veces que durante algún tiempo determinado el ser vivo producto de
la fecundación humana no sería un ser humano. Es necesario –no cabe duda– hacer
tan irracional afirmación cuando se quiere justificar o tolerar que la mujer decida sobre la
vida de ese ser que lleva en su seno, como si se tratara de un derecho suyo que el Estado
debería tutelar y hacer respetar. Porque es muy duro reconocer que el fruto de la
fecundación es un ser humano, distinto de la madre, aunque dependiente de ella, y, al
mismo tiempo, afirmar que se le puede quitar la vida simplemente porque así lo decide
quien lo gesta. Sería tanto como reconocer que hay un derecho a matar a un inocente.
La razón humana se vendría abajo de modo clamoroso y, con ella, el Estado y la autoridad
misma que tal cosa reconocieran. Se hace, pues, necesario, afirmar engañosamente
que el objeto de la pretendida «decisión sanitaria», tomada en ejercicio de un supuesto
derecho, no sería en realidad un ser humano.
13. Pero «el cuerpo humano, en cuanto elemento constitutivo de la persona humana, es
una realidad personal básica, cuya presencia nos permite reconocer la existencia de una
persona. La fecundación es precisamente el momento de la aparición de un cuerpo
humano distinto del de los progenitores. Ese es, pues, el momento de la aparición de
una nueva persona humana (cf. Evangelium vitæ, 44-45). El cuerpo, naturalmente, se
desarrolla, pero dentro de una continuidad fundamental que no permite calificar de prehumana
ni de post-humana ninguna de las fases de su desarrollo. Donde hay un cuerpo
humano vivo, hay persona humana y, por tanto, dignidad humana inviolable»8.
14. Estos principios antropológicos básicos han sido reconocidos también por la jurisprudencia
constitucional de nuestro país9.
IV. No se apoya a la mujer para ahorrarle el trauma del aborto y sus graves
secuelas
Se facilita a las gestantes la eliminación de sus hijos,
en lugar de proteger la maternidad y la familia para
evitar que las mujeres se conviertan en víctimas del
aborto.
15. El Anteproyecto incorpora una definición de la salud en términos de bienestar psicológico
y social que, por desgracia, se orienta más que nada a introducir subrepticiamente
la llamada «indicación social» para el aborto. Así lo pone también de manifiesto el que
se silencien las graves consecuencias psicológicas y morales que el aborto tiene para
quienes lo procuran. La inconsecuente apelación a la salud ignora y oculta que las mujeres
que abortan se convierten también ellas mismas en víctimas del aborto.
8 LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia, santuario
de la vida y esperanza de la sociedad, 109.
9 El Tribunal Constitucional, en sentencia de 5 de abril de 1995, se expresa así: «El concebido tiene un patrimonio
genético totalmente diferenciado y propio sistema inmunológico, que puede ser sujeto paciente
dentro del útero», de modo que «negar al embrión o al feto condición humana independiente y alteridad,
manteniendo la idea de mulieris portio, es desconocer la realidad». De ahí que «el mismo Código Civil
-constata el alto Tribunal- se ve forzado a tener por persona al concebido a todos los efectos favorables
(arts. 29 y 30), y no hay nada más beneficioso para el ser humano en gestación que el conservar la integridad
física y psíquica». En otra sentencia anterior, de 11 de abril de 1985, que forma parte del llamado «bloque
de constitucionalidad», el mismo Tribunal precisaba: «La vida humana es un devenir, un proceso que
comienza con la gestación. Esta ha generado un tertium existencialmente distinto de la madre». Por tanto,
el que va a nacer está protegido por la Constitución, lo cual implica para el Estado la obligación «de establecer
un sistema legal para la defensa de la vida que suponga la protección efectiva de la misma y que,
dado el carácter fundamental de la vida, incluya también, como última garantía, las normas penales».
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Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 8
16. El Anteproyecto estipula que se entregará a la mujer que solicita abortar una información
en sobre cerrado que podrá leer en un plazo máximo de tres días. Sin embargo,
ningún proceso médico de consentimiento informado se realiza de un modo tan frío e
impersonal. La situación de angustia que empuja a la mayoría de las mujeres que se
plantean abortar, más que sobres cerrados reclama corazones abiertos que les presten
el apoyo humano que necesitan para no equivocarse quitando la vida a un hijo y destrozando
la propia.
17. Las dolorosas secuelas del aborto se intensifican en las personas que no han alcanzado
todavía la madurez personal. Facilitar a las adolescentes la decisión de abortar,
marginando a sus padres de tal decisión, es propiciar su soledad e indefensión ante un
hecho muy nocivo para su salud espiritual y su desarrollo humano. Este proyecto legal
no manifiesta interés real por el bien de las mujeres tentadas de abortar y, en particular,
de las más jóvenes. Se limita a tratar de despejarles el camino hacia el abismo moral y
hacia el síndrome post-aborto.
18. Por otro lado, es llamativa la ausencia total de la figura del padre del niño que va a
ser abortado. ¿Por qué se le exime de toda responsabilidad y se le priva de todo derecho?
No parece admisible que se margine a los padres en algo tan fundamental como
es el nacimiento o la muerte de sus propios hijos.
19. Agradecemos la dedicación de tantas personas que, en un número cada vez mayor
de instituciones eclesiales o civiles, se dedican a prestar su apoyo personal a las mujeres
gestantes. Es una alegría el testimonio de tantas madres y padres que, gracias a la
ayuda recibida, han decidido por fin acoger a sus hijos, reconociendo en ellos un don
inestimable que trae luz y sentido a sus vidas. También es laudable el trabajo realizado
por las asociaciones de mujeres víctimas del aborto. Es muy valioso su valiente testimonio
público, que ayuda a la sociedad a recapacitar sobre un camino ya demasiado largo
de sufrimiento para las mujeres. Ellas ponen particularmente de relieve que no es este el
tipo de legislación que se necesita para ayudar a las gestantes y para la dignificación de
la sociedad. Las mujeres tentadas de abortar o las que ya han pasado por esa tragedia
encontrarán siempre en la comunidad católica el hogar de la misericordia y del consuelo.
Como madre, la Iglesia comprende sus dificultades y nunca las dejará solas con sus
problemas ni con sus culpas.
V. Privar de la vida a los que van a nacer no es algo privado
Se deja al arbitrio individual la vida de los que van a
nacer, en vez de reconocerla como un fundamental
elemento constitutivo del bien común que merece
protección y promoción.
20. El Anteproyecto de Ley presenta el aborto como si fuera un asunto privado ligado
prácticamente sólo a la decisión individual de la gestante. La decisión de eliminar una
vida humana incipiente es calificada una y otra vez de asunto íntimo suyo en el que nadie
podría intervenir: ni el padre del que va a nacer, ni los padres de la menor, ni el Estado.
21. Sin embargo, es claro que no «se puede invocar el derecho a las decisiones íntimas
o a la vida privada para privar a otros de la vida»10. Eliminar una vida humana no es
nunca un asunto meramente privado. Por el contrario, se trata de un acto de gran trascendencia
pública que afecta grave y directamente al bien común. La vida de cada ser
humano es un bien básico, sagrado e intangible; y el derecho a vivir no está a disposi-
10 CLX COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Sobre la proyectada nueva «Ley del
aborto», 8.
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Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 9
ción de nadie: no puede ser violado por ningún ciudadano ni por el Estado; menos, si
cabe, por aquellos que tienen particulares obligaciones de atención a la vida incipiente
de un ser indefenso como son sus padres o los médicos.
22. Se reduce el aborto a mera decisión privada porque se concibe de modo perverso la
libertad, como si se tratara de la mera capacidad de decidir cualquier cosa de modo absolutamente
desvinculado del entorno humano en el que se mueve el yo solitario que
decide. De este modo se fomenta una visión individualista y antisocial de la persona, cuya
libertad vendría a coincidir con su capacidad de hacer prevalecer el propio sentir o el
propio interés. Pero eso no es libertad. La libertad es, más bien, la capacidad de querer
el bien por encima del aparente interés inmediato de quien decide. Porque el bien propio
no está desligado del bien del otro y del bien de todos. «Sí, cada hombre es “guarda de
su hermano”, porque Dios confía el hombre al hombre»11. Todos sin excepción tenemos
el deber de proteger la vida del niño en el seno materno. Para todos es un bien esa vida
incipiente, no sólo para sus padres y su familia.
23. El orden social justo no puede basarse en una concepción individualista de la libertad.
La autoridad del Estado dimite de su obligación básica si da curso legal a la pretendida
libertad que se siente autorizada para eliminar vidas humanas inocentes. El Estado
no puede erigirse en árbitro sobre la vida humana adoptando medidas legales que toleran
o justifican como supuestos derechos acciones individuales que atentan contra el
derecho a la vida. Si lo hace, deja de ser garante del bien común en un asunto decisivo.
24. Por el contrario, como garante del bien común, el Estado debe legislar para proteger
la vida de todos, en particular de los más indefensos y vulnerables, entre los cuales se
hallan sin duda los que van a nacer, así como para establecer políticas de protección y
promoción de la maternidad y la paternidad, ayudando de modo eficaz a los padres que
experimentan dificultades para acoger a sus hijos; y debe favorecer las iniciativas sociales
a este respecto12.
VI. La educación, instrumentalizada también al servicio del aborto
Se comete la injusticia de imponer una determinada
educación moral sexual, que, además, por ser abortista
y «de género», tampoco será eficaz ni como verdadera
educación ni como camino de prevención del
aborto.
25. El Título primero del Anteproyecto de Ley trata fundamentalmente de la promoción
de una estrategia de formación en «salud sexual y reproductiva» para todo el sistema
educativo y, en particular, para los programas de los estudios relacionados con las ciencias
de la salud. Ciertamente –como se afirma en la Exposición de motivos– «el desarrollo
de la sexualidad y de la capacidad de procreación está directamente vinculado a la
dignidad de la persona». Pero las directivas de este Anteproyecto no pueden ayudar a
una formación de los jóvenes en este campo tan decisivo para su felicidad, porque se
11 JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium vitæ, 19.
12 Todavía hay mucho por hacer en este campo, si se tiene presente que, según datos de 2005, el gasto
público de España en la familia está muy por debajo de la media europea, con sólo un 1,2% del PIB, frente
al 3,8% de Francia, el 3,0% de Alemania o el 1,7% de Portugal. O que las prestaciones por hijo a cargo se
mantienen congeladas desde el año 2000, lo que supone que su porcentaje respecto al salario mínimo interprofesional
ha disminuido del 5,71% al 3,92% en 2009. Un retraso y un estancamiento que nos coloca en
niveles de protección a la maternidad/paternidad muy por debajo de los alcanzados en otros países de
nuestro entorno. Así, por ejemplo, mientras que una familia con tres hijos recibe en Luxemburgo una prestación
mensual de 1.492 euros o, en Italia, de 774 euros, en España tan sólo llega a los 72,75 euros.
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mueven en el marco de una ideología contradictoria con la verdad del ser humano y la
dignidad de la persona, como es la llamada ideología de género.
26. En efecto el «enfoque de género» que se preceptúa en el artículo 5, 2a para toda la
educación en el ámbito sanitario incorpora conceptos como «opción sexual individual»
(art. 5, 1a), «orientación sexual» (art. 5, 2b) o «sexo seguro» (art. 5, 2c). Detrás de tales
conceptos se hallan, como es sabido, opciones antropológicas incapaces de enfocar
adecuadamente cuestiones de tanta belleza e importancia como las siguientes: el significado
básico del cuerpo sexuado para la identidad de la persona, la íntima unión de las
dimensiones unitiva y procreativa del amor conyugal y, en definitiva, la integración moral
de la sexualidad y la vocación al amor de todo ser humano13.
27. ¡Es fascinante la educación en el amor y para el amor! Alentamos a los padres católicos,
a las escuelas a quienes ellos han confiado la educación de sus hijos, a los sacerdotes,
catequistas y a todos los agentes de la educación en la múltiple acción pastoral
de la Iglesia a empeñarse seriamente en la educación de los jóvenes en este campo tan
hermoso e importante de la afectividad y la sexualidad de acuerdo con la visión del ser
humano que dimana de una razón iluminada por la fe. A ellos corresponden primordialmente
el deber y el derecho de la formación humana integral de la juventud. El Estado
«no puede imponer ninguna moral a todos: ni una supuestamente mayoritaria, ni la católica,
ni ninguna otra. Vulneraría los derechos de los padres y/o de la escuela libremente
elegida por ellos según sus convicciones»14.
28. La injusta imposición de una determinada concepción del ser humano a toda la sociedad
por medio del sistema educativo, inspirado además en modelos antropológicos
parciales y poco respetuosos de la verdad del ser humano, no podrá dar frutos buenos.
Es necesario permitir y promover que la sociedad desarrolle sus capacidades educativas
y morales. Es necesario corregir la deriva que nos ha conducido a cifras escandalosas
de abortos con todo su entorno de fracasos personales.
Conclusión: por el Pueblo de la Vida
29. El Evangelio de la vida proclama que cada ser humano que viene a este mundo no
es ningún producto del azar ni de las leyes ciegas de la materia, sino un ser único, capaz
de conocer y de amar a su Creador, precisamente porque Dios lo ha amado desde
siempre por sí mismo. Cada ser humano es, por eso, un don sagrado para sus padres y
para toda la sociedad. No ha de ser considerado jamás como un objeto subordinado al
deseo de otras personas. Su vida no puede quedar al arbitrio de nadie, y menos del Estado,
cuyo cometido más básico es precisamente garantizar el derecho de todos a la vida,
como elemento fundamental del bien común.
30. Hablamos precisamente en favor de quienes tienen derecho a nacer y a ser acogidos
por sus padres con amor; hablamos en favor de las madres, que tienen derecho a
recibir el apoyo social y estatal necesario para evitar convertirse en víctimas del aborto;
hablamos en favor de la libertad de los padres y de las escuelas que colaboran con ellos
para dar a sus hijos una formación afectiva y sexual de acuerdo con unas convicciones
morales que los preparen de verdad para ser padres y acoger el don de la vida; habla-
13 Cf. LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia,
santuario de la vida y esperanza de la sociedad, 53-55.
14 CCIV COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, La Ley Orgánica de Educación
(LOE), los Reales Decretos que la desarrollan y los derechos fundamentales de padres y escuelas, 10.
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
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mos en favor de una sociedad que tiene derecho a contar con leyes justas que no confundan
la injusticia con el derecho15.
31. El Anteproyecto presentado constituye un serio retroceso respecto de la actual legislación
despenalizadora, ya de por sí injusta. Por tanto, de acuerdo con la doctrina de la
Iglesia, ningún católico coherente con su fe podrá aprobarla ni darle su voto16. Tampoco
debería hacerlo nadie que atienda a los justos imperativos de la razón.
32. Pedimos al Señor y a su Santísima Madre su gracia y su ayuda para el Pueblo de la
Vida. Que las comunidades católicas y todos los fieles perseveren en la plegaria, en especial
en este año dedicado a la oración por la vida de los que van a nacer.
Madrid, 17 de junio de 2009
15 Las legislaciones abortistas son un elemento de lo que Julián Marías ha calificado como «sin excepción,
lo más grave que ha acontecido» en el siglo XX (Diario ABC, 10 de septiembre de 1992); a saber: la aceptación
social del aborto. Pero este hecho, igual que ha tenido un comienzo, también puede y debe tener un
fin. Conviene recordar a este respecto que el primer país europeo en legalizar el aborto fue la Unión Soviética
de Lenin (el 18 de noviembre de 1920). Hitler utilizó el aborto legal como parte de sus políticas racistas
(desde 1933) en Alemania y en la Europa sometida, donde el aborto fue legalizado para los no arios, mientras
era severamente castigado para los pertenecientes a la «raza de los señores». Después de la guerra,
Stalin forzó legislaciones abortistas en los países sometidos al yugo soviético. Más tarde, también los países
occidentales introdujeron legislaciones semejantes bajo la presión de ideologías individualistas y materialistas.
16 Cf. JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium vitæ, 73: «En el caso, pues, de una ley intrínsecamente injusta,
como la que admite el aborto o la eutanasia, nunca es lícito someterse a ella, ni participar en una
campaña de opinión a favor de una ley semejante, ni darle el sufragio del propio voto».
Madrid, 17 de junio de 2009
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
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Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 3
ÍNDICE
I. La mera voluntad de la gestante anula el derecho a la vida del que va a
nacer
II. La salud como excusa para eliminar a los que van a nacer
III. Se niega o devalúa al ser humano para intentar justificar su eliminación
IV. No se apoya a la mujer para ahorrarle el trauma del aborto y sus graves
secuelas
V. Privar de la vida a los que van a nacer no es algo privado
VI. La educación, instrumentalizada también al servicio del aborto
VII. Conclusión: por el Pueblo de la Vida
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA
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Declaración sobre el Anteproyecto de «Ley del Aborto» pág. 4
1. Hecho ya público, el pasado 14 de mayo, el denominado «Anteproyecto de Ley Orgánica
de salud sexual y reproductiva y de la interrupción voluntaria del embarazo», los
obispos tenemos el deber de pronunciarnos públicamente sobre sus graves implicaciones
morales negativas; porque forma parte esencial de nuestro servicio anunciar el esplendor
del Evangelio de la vida, que ilumina la conciencia de los católicos y de todos
los que deseen acogerlo en orden a una mejor convivencia en justicia y libertad. Estamos
convencidos de que «todo hombre abierto sinceramente a la verdad y al bien, aun
entre dificultades e incertidumbres, con la luz de la razón y no sin el influjo de la gracia,
puede llegar a descubrir en la ley natural escrita en su corazón (cf. Rom 2, 14-14) el valor
sagrado de la vida humana desde su inicio hasta su término»1. Por eso, aunque nosotros
hablamos desde la fe católica y la experiencia de la Iglesia, nuestras reflexiones
se dirigen a todos y pensamos que podrían ser aceptadas también por muchos que no
comparten esa fe, pues giran en torno al derecho a la vida de todo ser humano inocente,
un patrimonio común de la razón humana.
2. Los obispos españoles han anunciado el Evangelio de la vida y han denunciado la
cultura de la muerte en muchas ocasiones2. Con esta nueva declaración deseamos poner
de relieve algunos aspectos del Anteproyecto en cuestión que, de llegar a convertirse
en Ley, supondrían un serio retroceso en la protección del derecho a la vida de los
que van a nacer, un mayor abandono de las madres gestantes y, en definitiva, un daño
muy serio para el bien común.
I. La mera voluntad de la gestante anula el derecho a la vida del que va a nacer
En las primeras catorce semanas, la gestante decide
sobre la muerte del que va a nacer: la violación del
derecho a la vida, tratada como si fuera un derecho.
3. El aspecto tal vez más sombrío del Anteproyecto es su pretensión de calificar el aborto
provocado como un derecho que habría de ser protegido por el Estado. He ahí una
fuente envenenada de inmoralidad e injusticia que vicia todo el texto.
4. En el artículo 3. 2. «se reconoce el derecho a la maternidad libremente decidida».
Lamentablemente esta expresión no significa aquí que toda mujer tiene derecho a elegir
si quiere o no quiere ser madre; significa, más bien, que tiene derecho a decidir eliminar
a su hijo ya concebido. Tal es la lectura que viene exigida por las afirmaciones recogidas
en la Exposición de motivos referentes a «los derechos humanos de las mujeres» en el
ámbito de la «salud reproductiva» (I) y, en concreto, «al derecho de todo ser humano, y
en particular de las mujeres, al respeto de su integridad física y a la libre disposición de
su cuerpo y, en este contexto, a que la decisión última de recurrir o no a un aborto corresponda
a la mujer interesada» (II). En consecuencia, el Anteproyecto establece un
primer plazo de catorce semanas dentro del cual la voluntad de la madre se convierte en
1 JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium Vitæ, 2.
2 Cf. LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia,
santuario de la vida y esperanza de la sociedad (27 de abril de 2001); XLII ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA
EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral Actitudes morales y cristianas ante la despenalización del
aborto (28 de junio de 1985); y las Declaraciones de la COMISIÓN PERMANENTE La vida y el aborto (5 de febrero
de 1983), Despenalización del aborto y conciencia moral (10 de mayo de 1985) y Sobre la proyectada
nueva «Ley del aborto» (22 de septiembre de 1994). Estos y otros documentos se encuentran en la colección
«Conferencia Episcopal Española», La vida humana, don precioso de Dios. Documentos sobre la vida
1974-2006, EDICE, Madrid 2006, así como también en: www.conferenciaepiscopal.es (Colección Documental
Informática).
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árbitro absoluto sobre la vida o la muerte del hijo que lleva en sus entrañas (artículo 14:
«interrupción del embarazo a petición de la mujer»).
5. Ahora bien, decidir abortar es optar por quitar la vida a un hijo ya concebido y eso sobrepasa
con mucho las posibles decisiones sobre el propio cuerpo, sobre la salud de la
madre o sobre la elección de la maternidad. Es una decisión sobre un hijo indefenso y
totalmente dependiente de quien lo lleva en su seno. Es, según el Concilio Vaticano II,
un «crimen abominable»3, «un acto intrínsecamente malo que viola muy gravemente la
dignidad de un ser humano inocente, quitándole la vida. Asimismo hiere gravemente la
dignidad de quienes lo cometen, dejando profundos traumas psicológicos y morales»4.
6. El Estado que otorga la calificación de derecho a algo que, en realidad, es un atentado
contra el derecho fundamental a la vida, pervierte el elemental orden de racionalidad
que se encuentra en la base de su propia legitimidad. La tutela del bien fundamental de
la vida humana y del derecho a vivir forma parte esencial de las obligaciones de la autoridad5.
«El derecho a la vida no es una concesión del Estado, es un derecho anterior al
Estado mismo y este tiene siempre la obligación de tutelarlo. Tampoco tiene el Estado
autoridad para establecer un plazo, dentro de cuyos límites la práctica del aborto dejaría
de ser un crimen»6.
II. La salud como excusa para eliminar a los que van a nacer
Hasta la vigésimo segunda semana, ambiguas indicaciones
médico-sociales: la medicina y la sanidad,
falseadas, al servicio de la muerte.
7. El Anteproyecto de Ley presenta el aborto provocado como un derecho que forma
parte de un programa de «salud sexual y reproductiva». La salud, por su parte, es definida,
a los efectos de lo dispuesto en esta ley, como «el estado de completo bienestar
físico, mental y social y no solamente como la ausencia de afecciones o enfermedades»
(art. 2. a).
8. El Anteproyecto establece que desde la decimocuarta semana de gestación el aborto
ya no sería un derecho absoluto de la madre, puesto que para poder ser realizado sin
sanción habrá de existir entonces «riesgo de graves anomalías en el feto» (art. 15, b) o
«grave riesgo para la vida o la salud de la embarazada» (art. 15, a). A tenor de la definición
de salud señalada, los facultativos podrán certificar la existencia de esta indicación
médica para el aborto cuando el niño que va a nacer suponga un grave inconveniente
para «el completo bienestar físico, mental y social» de la madre. Lo que no se sabe es
cuáles serán los criterios que el médico habrá de emplear para poder diagnosticar un
grave quebranto de un tal «completo bienestar» eventualmente causado por el que va a
nacer. Ante esta indefinición, el segundo plazo, teóricamemente ligado a indicaciones
3 Constitución Gaudium et spes, 51.
4 LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia, santuario
de la vida y esperanza de la sociedad, 111.
5 Cf. BENEDICTO XVI, Discurso en el Encuentro con las autoridades y el cuerpo diplomático, Viena, 7 de septiembre
de 2007: «El derecho humano fundamental, el presupuesto de todos los demás derechos, es el derecho
a la vida misma. Esto vale para la vida desde el momento de la concepción hasta la muerte natural.
En consecuencia, el aborto no puede ser un derecho humano; es exactamente lo opuesto. Es una profunda
‘herida social’ (…). Hago un llamamiento a los líderes políticos para que no permitan que los hijos sean considerados
una especie de enfermedad, y para que en vuestro ordenamiento jurídico no sea abolida, en la
práctica, la calificación de injusticia atribuida al aborto».
6 CLX COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Sobre la proyectada nueva «Ley del
aborto», 6.
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médicas, queda también prácticamente asimilado al primero, en el que prima el derecho
absoluto de la madre a decidir sobre la vida de su hijo.
9. La inclusión del aborto entre los medios supuestamente necesarios para cuidar la salud
es de por sí una grave falsedad. El acto médico se dirige a prevenir la enfermedad o
a curarla. Pero el embarazo no será nunca de por sí una enfermedad, aunque pueda
conllevar complicaciones de salud, ser inesperado o incluso fruto de la violencia. Por
eso, abortar no es nunca curar, es siempre matar. Cosa distinta es que una determinada
terapia necesaria lleve consigo un aborto como efecto indirecto no buscado. De ahí que
incluir el aborto en la política sanitaria falsee siempre gravemente el acto médico, que
queda desnaturalizado cuando es puesto al servicio de la muerte. La falsificación es
más sangrante cuando el concepto de salud empleado –aunque sea el de la Organización
Mundial de la Salud– se convierte en una excusa para encubrir el deseo particular
de no tener un hijo, aun quitándole la vida. En efecto, si salud es «completo bienestar
físico, mental y social», y tal bienestar se considera amenazado por el que va nacer, éste
puede ser tratado como un obstáculo para la calidad de vida, cuya eliminación pasa
entonces a ser tenida por lícita.
10. Una auténtica política sanitaria debe tener siempre en cuenta la salud de la madre
gestante, pero también la vida y la salud del niño que va a nacer. Por lo demás, la imposición
del aborto procurado en el sistema sanitario como prestación asistencial para la
salud bio-psico-social de la gestante, a la que ésta tendría un supuesto derecho, lleva
consigo la transferencia de la obligatoriedad a los profesionales de la sanidad. De este
modo queda abierta la posibilidad de que no se respete a quienes por muy justificados
motivos de conciencia se nieguen a realizar abortos, cargándolos arbitrariamente con un
supuesto deber e incluso con eventuales sanciones7. Es necesario reconocer y agradecer
el valor mostrado por tantos ginecólogos y profesionales de la sanidad que, fieles a
su vocación y al verdadero sentido de su trabajo, resisten presiones de todo tipo e incluso
afrontan ciertas marginaciones con tal de servir siempre a la vida de cada ser humano.
III. Se niega o devalúa al ser humano para intentar justificar su eliminación
Frente a la evidencia de que donde hay un cuerpo
humano vivo, aunque sea incipiente, hay un ser
humano y una dignidad humana inviolable, se establecen
plazos de gestación y de presencia humana
de los que no es posible dar razón suficiente.
11. Sorprendentemente, el Anteproyecto no explica en ningún momento por qué fragmenta
el tiempo de la gestación en tres periodos o plazos pretendidamente determinantes
de diferentes tipos de trato del ser humano en gestación. ¿Por qué durante las catorce
primeras semanas «prevalece el derecho de autodeterminación de las mujeres» y
el aborto puede ser realizado por simple petición de la gestante? ¿Por qué se establece
un segundo plazo, hasta la semana vigésimo segunda, durante el cual será preciso aducir
indicaciones supuestamente médicas? ¿Y por qué las «anomalías fetales incompatibles
con la vida» o «una enfermedad extremadamente grave e incurable» del feto (art.
15, c) permitirían el aborto en cualquier momento de la gestación? ¿Por qué no, enton-
7 Hay que recordar la sentencia del Tribunal Constitucional de 11de abril de 1985, en la que, tratando precisamente
del aborto, afirma del «derecho a la objeción de conciencia que existe y puede ser ejercido con independencia
de que se haya dictado o no tal regulación. La objeción de conciencia forma parte del contenido
del derecho fundamental a la libertad ideológica y religiosa reconocido en el art. 16.1 de la Constitución
y, como ha indicado este Tribunal en diversas ocasiones, la Constitución es directamente aplicable, especialmente
en materia de derechos fundamentales».
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ces, en el momento mismo del nacimiento o un minuto después? En vano se buscará
una respuesta a estas preguntas, todas ellas de gran calado moral.
12. Se oye decir a veces que durante algún tiempo determinado el ser vivo producto de
la fecundación humana no sería un ser humano. Es necesario –no cabe duda– hacer
tan irracional afirmación cuando se quiere justificar o tolerar que la mujer decida sobre la
vida de ese ser que lleva en su seno, como si se tratara de un derecho suyo que el Estado
debería tutelar y hacer respetar. Porque es muy duro reconocer que el fruto de la
fecundación es un ser humano, distinto de la madre, aunque dependiente de ella, y, al
mismo tiempo, afirmar que se le puede quitar la vida simplemente porque así lo decide
quien lo gesta. Sería tanto como reconocer que hay un derecho a matar a un inocente.
La razón humana se vendría abajo de modo clamoroso y, con ella, el Estado y la autoridad
misma que tal cosa reconocieran. Se hace, pues, necesario, afirmar engañosamente
que el objeto de la pretendida «decisión sanitaria», tomada en ejercicio de un supuesto
derecho, no sería en realidad un ser humano.
13. Pero «el cuerpo humano, en cuanto elemento constitutivo de la persona humana, es
una realidad personal básica, cuya presencia nos permite reconocer la existencia de una
persona. La fecundación es precisamente el momento de la aparición de un cuerpo
humano distinto del de los progenitores. Ese es, pues, el momento de la aparición de
una nueva persona humana (cf. Evangelium vitæ, 44-45). El cuerpo, naturalmente, se
desarrolla, pero dentro de una continuidad fundamental que no permite calificar de prehumana
ni de post-humana ninguna de las fases de su desarrollo. Donde hay un cuerpo
humano vivo, hay persona humana y, por tanto, dignidad humana inviolable»8.
14. Estos principios antropológicos básicos han sido reconocidos también por la jurisprudencia
constitucional de nuestro país9.
IV. No se apoya a la mujer para ahorrarle el trauma del aborto y sus graves
secuelas
Se facilita a las gestantes la eliminación de sus hijos,
en lugar de proteger la maternidad y la familia para
evitar que las mujeres se conviertan en víctimas del
aborto.
15. El Anteproyecto incorpora una definición de la salud en términos de bienestar psicológico
y social que, por desgracia, se orienta más que nada a introducir subrepticiamente
la llamada «indicación social» para el aborto. Así lo pone también de manifiesto el que
se silencien las graves consecuencias psicológicas y morales que el aborto tiene para
quienes lo procuran. La inconsecuente apelación a la salud ignora y oculta que las mujeres
que abortan se convierten también ellas mismas en víctimas del aborto.
8 LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia, santuario
de la vida y esperanza de la sociedad, 109.
9 El Tribunal Constitucional, en sentencia de 5 de abril de 1995, se expresa así: «El concebido tiene un patrimonio
genético totalmente diferenciado y propio sistema inmunológico, que puede ser sujeto paciente
dentro del útero», de modo que «negar al embrión o al feto condición humana independiente y alteridad,
manteniendo la idea de mulieris portio, es desconocer la realidad». De ahí que «el mismo Código Civil
-constata el alto Tribunal- se ve forzado a tener por persona al concebido a todos los efectos favorables
(arts. 29 y 30), y no hay nada más beneficioso para el ser humano en gestación que el conservar la integridad
física y psíquica». En otra sentencia anterior, de 11 de abril de 1985, que forma parte del llamado «bloque
de constitucionalidad», el mismo Tribunal precisaba: «La vida humana es un devenir, un proceso que
comienza con la gestación. Esta ha generado un tertium existencialmente distinto de la madre». Por tanto,
el que va a nacer está protegido por la Constitución, lo cual implica para el Estado la obligación «de establecer
un sistema legal para la defensa de la vida que suponga la protección efectiva de la misma y que,
dado el carácter fundamental de la vida, incluya también, como última garantía, las normas penales».
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16. El Anteproyecto estipula que se entregará a la mujer que solicita abortar una información
en sobre cerrado que podrá leer en un plazo máximo de tres días. Sin embargo,
ningún proceso médico de consentimiento informado se realiza de un modo tan frío e
impersonal. La situación de angustia que empuja a la mayoría de las mujeres que se
plantean abortar, más que sobres cerrados reclama corazones abiertos que les presten
el apoyo humano que necesitan para no equivocarse quitando la vida a un hijo y destrozando
la propia.
17. Las dolorosas secuelas del aborto se intensifican en las personas que no han alcanzado
todavía la madurez personal. Facilitar a las adolescentes la decisión de abortar,
marginando a sus padres de tal decisión, es propiciar su soledad e indefensión ante un
hecho muy nocivo para su salud espiritual y su desarrollo humano. Este proyecto legal
no manifiesta interés real por el bien de las mujeres tentadas de abortar y, en particular,
de las más jóvenes. Se limita a tratar de despejarles el camino hacia el abismo moral y
hacia el síndrome post-aborto.
18. Por otro lado, es llamativa la ausencia total de la figura del padre del niño que va a
ser abortado. ¿Por qué se le exime de toda responsabilidad y se le priva de todo derecho?
No parece admisible que se margine a los padres en algo tan fundamental como
es el nacimiento o la muerte de sus propios hijos.
19. Agradecemos la dedicación de tantas personas que, en un número cada vez mayor
de instituciones eclesiales o civiles, se dedican a prestar su apoyo personal a las mujeres
gestantes. Es una alegría el testimonio de tantas madres y padres que, gracias a la
ayuda recibida, han decidido por fin acoger a sus hijos, reconociendo en ellos un don
inestimable que trae luz y sentido a sus vidas. También es laudable el trabajo realizado
por las asociaciones de mujeres víctimas del aborto. Es muy valioso su valiente testimonio
público, que ayuda a la sociedad a recapacitar sobre un camino ya demasiado largo
de sufrimiento para las mujeres. Ellas ponen particularmente de relieve que no es este el
tipo de legislación que se necesita para ayudar a las gestantes y para la dignificación de
la sociedad. Las mujeres tentadas de abortar o las que ya han pasado por esa tragedia
encontrarán siempre en la comunidad católica el hogar de la misericordia y del consuelo.
Como madre, la Iglesia comprende sus dificultades y nunca las dejará solas con sus
problemas ni con sus culpas.
V. Privar de la vida a los que van a nacer no es algo privado
Se deja al arbitrio individual la vida de los que van a
nacer, en vez de reconocerla como un fundamental
elemento constitutivo del bien común que merece
protección y promoción.
20. El Anteproyecto de Ley presenta el aborto como si fuera un asunto privado ligado
prácticamente sólo a la decisión individual de la gestante. La decisión de eliminar una
vida humana incipiente es calificada una y otra vez de asunto íntimo suyo en el que nadie
podría intervenir: ni el padre del que va a nacer, ni los padres de la menor, ni el Estado.
21. Sin embargo, es claro que no «se puede invocar el derecho a las decisiones íntimas
o a la vida privada para privar a otros de la vida»10. Eliminar una vida humana no es
nunca un asunto meramente privado. Por el contrario, se trata de un acto de gran trascendencia
pública que afecta grave y directamente al bien común. La vida de cada ser
humano es un bien básico, sagrado e intangible; y el derecho a vivir no está a disposi-
10 CLX COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Sobre la proyectada nueva «Ley del
aborto», 8.
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ción de nadie: no puede ser violado por ningún ciudadano ni por el Estado; menos, si
cabe, por aquellos que tienen particulares obligaciones de atención a la vida incipiente
de un ser indefenso como son sus padres o los médicos.
22. Se reduce el aborto a mera decisión privada porque se concibe de modo perverso la
libertad, como si se tratara de la mera capacidad de decidir cualquier cosa de modo absolutamente
desvinculado del entorno humano en el que se mueve el yo solitario que
decide. De este modo se fomenta una visión individualista y antisocial de la persona, cuya
libertad vendría a coincidir con su capacidad de hacer prevalecer el propio sentir o el
propio interés. Pero eso no es libertad. La libertad es, más bien, la capacidad de querer
el bien por encima del aparente interés inmediato de quien decide. Porque el bien propio
no está desligado del bien del otro y del bien de todos. «Sí, cada hombre es “guarda de
su hermano”, porque Dios confía el hombre al hombre»11. Todos sin excepción tenemos
el deber de proteger la vida del niño en el seno materno. Para todos es un bien esa vida
incipiente, no sólo para sus padres y su familia.
23. El orden social justo no puede basarse en una concepción individualista de la libertad.
La autoridad del Estado dimite de su obligación básica si da curso legal a la pretendida
libertad que se siente autorizada para eliminar vidas humanas inocentes. El Estado
no puede erigirse en árbitro sobre la vida humana adoptando medidas legales que toleran
o justifican como supuestos derechos acciones individuales que atentan contra el
derecho a la vida. Si lo hace, deja de ser garante del bien común en un asunto decisivo.
24. Por el contrario, como garante del bien común, el Estado debe legislar para proteger
la vida de todos, en particular de los más indefensos y vulnerables, entre los cuales se
hallan sin duda los que van a nacer, así como para establecer políticas de protección y
promoción de la maternidad y la paternidad, ayudando de modo eficaz a los padres que
experimentan dificultades para acoger a sus hijos; y debe favorecer las iniciativas sociales
a este respecto12.
VI. La educación, instrumentalizada también al servicio del aborto
Se comete la injusticia de imponer una determinada
educación moral sexual, que, además, por ser abortista
y «de género», tampoco será eficaz ni como verdadera
educación ni como camino de prevención del
aborto.
25. El Título primero del Anteproyecto de Ley trata fundamentalmente de la promoción
de una estrategia de formación en «salud sexual y reproductiva» para todo el sistema
educativo y, en particular, para los programas de los estudios relacionados con las ciencias
de la salud. Ciertamente –como se afirma en la Exposición de motivos– «el desarrollo
de la sexualidad y de la capacidad de procreación está directamente vinculado a la
dignidad de la persona». Pero las directivas de este Anteproyecto no pueden ayudar a
una formación de los jóvenes en este campo tan decisivo para su felicidad, porque se
11 JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium vitæ, 19.
12 Todavía hay mucho por hacer en este campo, si se tiene presente que, según datos de 2005, el gasto
público de España en la familia está muy por debajo de la media europea, con sólo un 1,2% del PIB, frente
al 3,8% de Francia, el 3,0% de Alemania o el 1,7% de Portugal. O que las prestaciones por hijo a cargo se
mantienen congeladas desde el año 2000, lo que supone que su porcentaje respecto al salario mínimo interprofesional
ha disminuido del 5,71% al 3,92% en 2009. Un retraso y un estancamiento que nos coloca en
niveles de protección a la maternidad/paternidad muy por debajo de los alcanzados en otros países de
nuestro entorno. Así, por ejemplo, mientras que una familia con tres hijos recibe en Luxemburgo una prestación
mensual de 1.492 euros o, en Italia, de 774 euros, en España tan sólo llega a los 72,75 euros.
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mueven en el marco de una ideología contradictoria con la verdad del ser humano y la
dignidad de la persona, como es la llamada ideología de género.
26. En efecto el «enfoque de género» que se preceptúa en el artículo 5, 2a para toda la
educación en el ámbito sanitario incorpora conceptos como «opción sexual individual»
(art. 5, 1a), «orientación sexual» (art. 5, 2b) o «sexo seguro» (art. 5, 2c). Detrás de tales
conceptos se hallan, como es sabido, opciones antropológicas incapaces de enfocar
adecuadamente cuestiones de tanta belleza e importancia como las siguientes: el significado
básico del cuerpo sexuado para la identidad de la persona, la íntima unión de las
dimensiones unitiva y procreativa del amor conyugal y, en definitiva, la integración moral
de la sexualidad y la vocación al amor de todo ser humano13.
27. ¡Es fascinante la educación en el amor y para el amor! Alentamos a los padres católicos,
a las escuelas a quienes ellos han confiado la educación de sus hijos, a los sacerdotes,
catequistas y a todos los agentes de la educación en la múltiple acción pastoral
de la Iglesia a empeñarse seriamente en la educación de los jóvenes en este campo tan
hermoso e importante de la afectividad y la sexualidad de acuerdo con la visión del ser
humano que dimana de una razón iluminada por la fe. A ellos corresponden primordialmente
el deber y el derecho de la formación humana integral de la juventud. El Estado
«no puede imponer ninguna moral a todos: ni una supuestamente mayoritaria, ni la católica,
ni ninguna otra. Vulneraría los derechos de los padres y/o de la escuela libremente
elegida por ellos según sus convicciones»14.
28. La injusta imposición de una determinada concepción del ser humano a toda la sociedad
por medio del sistema educativo, inspirado además en modelos antropológicos
parciales y poco respetuosos de la verdad del ser humano, no podrá dar frutos buenos.
Es necesario permitir y promover que la sociedad desarrolle sus capacidades educativas
y morales. Es necesario corregir la deriva que nos ha conducido a cifras escandalosas
de abortos con todo su entorno de fracasos personales.
Conclusión: por el Pueblo de la Vida
29. El Evangelio de la vida proclama que cada ser humano que viene a este mundo no
es ningún producto del azar ni de las leyes ciegas de la materia, sino un ser único, capaz
de conocer y de amar a su Creador, precisamente porque Dios lo ha amado desde
siempre por sí mismo. Cada ser humano es, por eso, un don sagrado para sus padres y
para toda la sociedad. No ha de ser considerado jamás como un objeto subordinado al
deseo de otras personas. Su vida no puede quedar al arbitrio de nadie, y menos del Estado,
cuyo cometido más básico es precisamente garantizar el derecho de todos a la vida,
como elemento fundamental del bien común.
30. Hablamos precisamente en favor de quienes tienen derecho a nacer y a ser acogidos
por sus padres con amor; hablamos en favor de las madres, que tienen derecho a
recibir el apoyo social y estatal necesario para evitar convertirse en víctimas del aborto;
hablamos en favor de la libertad de los padres y de las escuelas que colaboran con ellos
para dar a sus hijos una formación afectiva y sexual de acuerdo con unas convicciones
morales que los preparen de verdad para ser padres y acoger el don de la vida; habla-
13 Cf. LXXXVI ASAMBLEA PLENARIA DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, Instrucción pastoral La familia,
santuario de la vida y esperanza de la sociedad, 53-55.
14 CCIV COMISIÓN PERMANENTE DE LA CONFERENCIA EPISCOPAL ESPAÑOLA, La Ley Orgánica de Educación
(LOE), los Reales Decretos que la desarrollan y los derechos fundamentales de padres y escuelas, 10.
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mos en favor de una sociedad que tiene derecho a contar con leyes justas que no confundan
la injusticia con el derecho15.
31. El Anteproyecto presentado constituye un serio retroceso respecto de la actual legislación
despenalizadora, ya de por sí injusta. Por tanto, de acuerdo con la doctrina de la
Iglesia, ningún católico coherente con su fe podrá aprobarla ni darle su voto16. Tampoco
debería hacerlo nadie que atienda a los justos imperativos de la razón.
32. Pedimos al Señor y a su Santísima Madre su gracia y su ayuda para el Pueblo de la
Vida. Que las comunidades católicas y todos los fieles perseveren en la plegaria, en especial
en este año dedicado a la oración por la vida de los que van a nacer.
Madrid, 17 de junio de 2009
15 Las legislaciones abortistas son un elemento de lo que Julián Marías ha calificado como «sin excepción,
lo más grave que ha acontecido» en el siglo XX (Diario ABC, 10 de septiembre de 1992); a saber: la aceptación
social del aborto. Pero este hecho, igual que ha tenido un comienzo, también puede y debe tener un
fin. Conviene recordar a este respecto que el primer país europeo en legalizar el aborto fue la Unión Soviética
de Lenin (el 18 de noviembre de 1920). Hitler utilizó el aborto legal como parte de sus políticas racistas
(desde 1933) en Alemania y en la Europa sometida, donde el aborto fue legalizado para los no arios, mientras
era severamente castigado para los pertenecientes a la «raza de los señores». Después de la guerra,
Stalin forzó legislaciones abortistas en los países sometidos al yugo soviético. Más tarde, también los países
occidentales introdujeron legislaciones semejantes bajo la presión de ideologías individualistas y materialistas.
16 Cf. JUAN PABLO II, Carta encíclica Evangelium vitæ, 73: «En el caso, pues, de una ley intrínsecamente injusta,
como la que admite el aborto o la eutanasia, nunca es lícito someterse a ella, ni participar en una
campaña de opinión a favor de una ley semejante, ni darle el sufragio del propio voto».
jueves, 18 de junio de 2009
Dictadura
Revolução e Contra-Revolução
Plinio Corrêa de Oliveira
Plinio Corrêa de Oliveira
Capítulo III
Caracteres dessa Crise
F. Revolução, Contra-Revolução e Ditadura
As presentes considerações sobre a posição da Revolução e do pensamento católico em face das formas
de governo suscitarão em vários leitores uma interrogação: a ditadura é um fator de Revolução, ou de Contra-
Revolução?
Para responder com clareza a uma pergunta a que têm sido dadas tantas soluções confusas e até
tendenciosas, é necessário estabelecer uma distinção entre certos elementos que se emaranham
desordenadamente na idéia de ditadura, como a opinião pública a conceitua. Confundindo a ditadura em tese
com o que ela tem sido “in concreto” em nosso século, o público entende por ditadura um estado de coisas em
que um chefe dotado de poderes irrestritos governa um país. Para o bem deste, dizem uns. Para o mal, dizem
outros. Mas em um e outro caso, tal estado de coisas é sempre uma ditadura.
Ora, este conceito envolve dois elementos distintos:
--onipotência do Estado;
-- concentração do poder estatal em uma só pessoa.
No espírito pública, parece que o segundo elemento chama mais a atenção. Entretanto, o elemento
básico é o primeiro, pelo menos se entendermos por ditadura um estado de coisas em que o Poder público,
suspensa qualquer ordem jurídica, dispõe a seu talante de todos os direitos. Que uma ditadura possa ser
exercida por um Rei (a ditadura real, isto é, a suspensão de toda a ordem jurídica e o exercício irrestrito do
poder público pelo Rei, não se confunde com o “Ancien Régime”, em que estas garantias existiam em
considerável medida, e muito menos com a monarquia orgânica medieval) ou um chefe popular, uma
aristocracia hereditária ou um clã de banqueiros, ou até pela massa, é inteiramente evidente.
Em si, uma ditadura exercida por um chefe ou um grupo de pessoas não é revolucionária nem contrarevolucionária.
Ela será uma ou outra coisa em função das circunstância de que se originou, e da obra que
realizar. E isto, quer esteja em mãos de um homem, quer de um grupo.
Há circunstâncias que exigem, para a “salus populi”, uma suspensão provisória de todos os direitos
individuais, e o exercício mais amplo do poder pública. A ditadura pode, portanto, ser legítima em certos casos.
Uma ditadura contra-revolucionária e, pois, inteiramente norteada pelo desejo de Ordem, deve
apresentar três requisitos essenciais:
* Deve suspender os direitos, não para subverter a Ordem, mas para a proteger. E por Ordem não
entendemos apenas a tranqüilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim, e de acordo com a
respectiva escala de valores. Há, pois, uma suspensão de direitos mais aparente do que real, o sacrifício das
garantias jurídicas de que os maus elementos abusavam em detrimento da própria ordem e do bem comum,
sacrifício este todo voltado para a proteção dos verdadeiros direitos dos bons.
* Por definição, esta suspensão deve ser provisória, e deve preparar as circunstâncias para que o mais
cedo possível se volte à ordem e à normalidade. A ditadura, na medida em que é boa, vai fazendo cessar sua
própria razão de ser. A intervenção do Poder público nos vários setores da vida nacional deve fazer-se de
maneira que, o mais breve possível, cada setor possa viver com a necessária autonomia. Assim, cada família
deve poder fazer tudo aquilo de que por sua natureza é capaz, sendo apoiada apenas subsidiariamente por
grupos sociais superiores naquilo que ultrapasse o seu âmbito. Esses grupos, por sua vez, só devem receber o
apoio do município no que excede à normal capacidade deles, e assim por diante nas relações entre o município
e a região, ou entre esta e o país.
* O fim precípuo da ditadura legítima hoje em dia deve ser a Contra-Revolução. O que, aliás, não
implica em afirmar que a ditadura seja normalmente um meio necessário para a derrota da Revolução. Mas em
certas circunstâncias pode ser.
Pelo contrário, a ditadura revolucionária visa eternizar-se, viola os direitos autênticos, e penetra em
todas as esferas da sociedade para as aniquilar, desarticulando a vida de família, prejudicando as elites
genuínas, subvertendo a hierarquia social, alienando de utopias e de aspirações desordenadas a multidão,
extinguindo a vida real dos grupos sociais e sujeitando tudo ao Estado: em uma palavra, favorecendo a obra da
Revolução. Exemplo típico de tal ditadura foi o hitlerismo.
Por isto, a ditadura revolucionária é fundamentalmente anticatólica. Com efeito, em um ambiente
verdadeiramente católico, não pode haver clima para uma tal situação.
O que não quer dizer que a ditadura revolucionária, neste ou naquele país, não tenha procurado
favorecer a Igreja. Mas trata-se de atitude meramente política, que se transforma em perseguição franca ou
velada, logo que a autoridade eclesiástica comece a deter o passo à Revolução.
miércoles, 17 de junio de 2009
Discurso sobre la dictadura de Juan Donoso Cortés
Discurso sobre la dictadura de Juan Donoso Cortés
De Wikisource, la biblioteca libre.
DISCURSO pronunciado POR EL EXCMO. SR. D. JUAN DONOSO CORTÉS,
Marqués de Valdegamás, en la sesión de 4 del corriente, en el Congreso de Diputados.
SEÑORES: el largo discurso que pronunció ayer el señor Cortina, y á que voy á contestar, considerándole bajo un punto de vista restringido, á pesar de sus largas dimensiones, no fue más que un epílogo; el epilogo de los errores del partido progresista, los cuales á su vez no son más que otro epilogo; el epilogo de todos los errores que se han inventado de tres siglos á esta parte, y que traen conturbadas más ó menos hoy día todas las sociedades humanas.
El Sr. Cortina, al comenzar su discurso, manifestó con la buena fe que á S. S. distingue, y que tanto realza su talento, que él mismo algunas veces había llegado á sospechar si sus principios serian falsos, si sus ideas serían desastrosas al ver que nunca estaban en el poder, y siempre en la oposición. Yo diré á S. S. que por poco que reflexione, su duda se cambiará en certidumbre. Sus ideas no están en el poder, y están en la oposición cabalmente porque son ideas de oposición; señores, son ideas infecundas, ideas estériles, ideas desastrosas, que es necesario combatir hasta que mueran, que es necesario combatir hasta que queden enterradas aquí, en su cementerio natural, bajo de estas bóvedas, al pié de esa tribuna.
El Sr. Cortina, siguiendo las tradiciones del partido á quien capitanea y representa; siguiendo, digo, las tradiciones de este partido desde la revolución de febrero, ha pronunciado un discurso dividido en tres partes, que yo llamaré inevitables. Primera, un elogio del partido, fundado en una relación de sus méritos pasados. Segunda, el memorial de agravios presentes del partido. Tercera, un programa ó sea una relación de méritos futuros. Señores de la mayoría, yo vengo aquí á defender vuestros principios, pero no esperéis de mi ni un solo elogio: sois los vencedores, y nada sienta en la frente del vencedor como una corona de modestia.
No esperéis de mí, señores, que hable de vuestros agravios: no tenéis agravios personales que vengar, sino los agravios hechos á la sociedad y al trono por los traidores á su Reina y á su patria. No hablaré de vuestra relación de méritos ¿Para qué fin hablaría de ellos? ¿Para que la nación los sepa? La nación se los sabe de memoria.
El Sr. Cortina, señores, dividió su discurso en dos cuestiones, que desde luego se presentan al alcance de todos los señores diputados. S. S. trató de la política exterior, de la política interior del Gobierno, y llamó política exterior importante para España la política ó los acontecimientos ocurridos en París, en Londres y en Roma. Yo tocaré también esas cuestiones.
Después descendió S. S. á la política interior, y la política interior, tal como la ha tratado el Sr. Cortina, se divide en dos partes: una, cuestión de principios, y otra, cuestión de hechos: una, cuestión de sistema, y otra, cuestión de conducta. A la cuestión de hechos, á la cuestión de conducta, ya ha contestado el Ministerio, que esa quien correspondía contestar, que es quien tiene los datos para ello, por el órgano de los señores ministros de Estado y Gobernación, que han desempeñado este encargo con la elocuencia que acostumbran. Me queda para mi casi intacta la cuestión de principios : esta cuestión solamente abordaré; pero la abordaré, si el Congreso me lo permite , de lleno.
Señores: ¿cuál es el principio del Sr. Cortina? El principio de S. S., bien analizado su discurso, es el siguiente en la política interior : la legalidad, todo por la legalidad, todo para la legalidad, la legalidad siempre, la legalidad en todas circunstancias ,' la legalidad en todas ocasiones : y yo, señores, que creo que las leyes se han hecho para las sociedades, y no las sociedades para las leyes, digo : la sociedad, todo para la sociedad, todo por la sociedad, la sociedad siempre, la sociedad en todas circunstancias, la sociedad en todas ocasiones.
Cuando la legalidad basta para salvar á la sociedad, la legalidad; cuando no basta, la dictadura. Señores, esta palabra tremenda, que tremenda es, aunque no tanto como la palabra revolución, que es la más tremenda de todas; digo que esta palabra tremenda ha sido pronunciada aquí por un hombre que todos conocen : no ha sido hecho por cierto de la madera de los dictadores. Yo he nacido para comprenderlos, no he nacido para imitarlos. Dos cosas me son imposibles: condenar la dictadura y ejercerla. Por eso lo declaro aquí alta, noble y francamente. Estoy incapacitado de gobernar: no puedo aceptar el gobierno en conciencia: yo no podría aceptarle sin poner la mitad de mí mismo en guerra con la otra mitad, sin poner en guerra mi instinto contra mi razón, sin poner en guerra mi razón contra mi instinto.
Por esto, señores, y yo apelo al testimonio de todos los que me conocen, ninguno puede levantarse ni aquí ni fuera de aquí, que haya tropezado conmigo en el camino de la ambición, tan lleno de gentes; ninguno. Pero todos me encontrarán, todos me han encontrado en el camino modesto de los buenos ciudadanos. Solo así, señores, cuando mis días estén contados, cuando baje al sepulcro, bajaré sin el remordimiento de haber dejado sin defensa á la sociedad bárbaramente atacada, y al mismo tiempo sin el amarguísimo, y para mí insoportable dolor, de haber hecho mal á un hombre.
Digo, señores, que la dictadura en ciertas circunstancias, en circunstancias dadas, en circunstancias como las presentes, es un gobierno legítimo, es un gobierno bueno, es un gobierno provechoso como cualquier otro gobierno, es un gobierno racional, que puede defenderse en la teoría, como puede defenderse en la práctica. Y si no, señores, ved lo que es la vida social. La vida social, señores, como la vida humana, se compone de la acción y de la reacción, del flujo y reflujo de ciertas fuerzas invasoras y de ciertas fuerzas resistentes.
Esta es la vida social, así como esta es también la vida humana. Pues bien: las fuerzas invasoras, llamadas enfermedades en el cuerpo humano, y de otra manera en el cuerpo social, pero siendo esencialmente la misma cosa, tienen dos estados: hay uno en que están derramadas por toda la sociedad, en el que estas fuerzas invasoras están reconcentradas solo en individuos: hay otro estado agudísimo de enfermedad, en que se reconcentran más, y están representadas por asociaciones políticas. Pues bien: yo digo que no existiendo las fuerzas resistentes, lo mismo en el cuerpo humano que en el cuerpo social, sino para rechazar las fuerzas invasoras, tienen que proporcionarse necesariamente á su estado. Cuando las fuerzas invasoras están derramadas, las resistentes lo están también; lo están por el Gobierno, por las autoridades y por los tribunales, y en una palabra, por todo el cuerpo social; pero cuando las fuerzas invasoras se reconcentran en asociaciones políticas, entonces necesariamente, sin que nadie lo pueda impedir, sin que nadie tenga derecho á impedirlo, las fuerzas resistentes por sí mismas se reconcentran en una mano. Esta es la teoría clara, luminosa, indestructible de la dictadura.
Y esta teoría, señores, que es una verdad en el orden racional, es un hecho constante en el orden histórico. Citadme una sociedad que no haya tenido la dictadura, citádmela. Ved, sino, qué pasaba en la democrática Atenas, lo que pasaba en la aristocrática Roma, En Atenas, ese poder omnipotente estaba en las manos del pueblo, y se llamaba ostracismo ; en Roma, ese poder omnipotente estaba en manos del Senado, que le delegaba en un barón consular, y se llamaba como entre nosotros dictadura. Ved las sociedades modernas, señores; ved la Francia en todas sus vicisitudes. No hablaré de la primera república, que fue una dictadura gigantesca sin fin, llena de sangre y de horrores. Hablo de época posterior. En la Carta de la Restauración la dictadura se había refugiado ó buscado un asilo en el artículo 14: en la Carta de i 830 se encontró en el preámbulo; ¿y en la república actual? De esta no digamos nada. ¿Qué es sino la dictadura con el mote de República?
Aquí se ha citado, y en mala hora, por el Sr. Galvez Cañero la Constitución inglesa. Señores, la Constitución inglesa cabalmente es la única en el mundo, tan sabios son los ingleses, en que la dictadura no es de derecho excepcional sino de derecho común, y la cosa es clara. El Parlamento tiene en todas ocasiones, en todas épocas, cuando quiere, pues no tiene más límite que el de todos los poderes humanos, la prudencia, este poder.
Tiene todas las facultades, y estas constituyen el poder dictatorial, de hacer todo lo que no sea hacer de una mujer un hombre, ó de un hombre una mujer, como dicen sus jurisconsultos. Tiene facultades para suspender el habeas corpus, para proscribir por medio de un bill d'attaner: puede cambiar de constitución, puede variar hasta de dinastía, y no solo de dinastía, sino hasta de religión, y oprimir las conciencias; en una palabra, lo puede todo. ¿Quién ha visto, señores, una dictadura más monstruosa?
He probado que la dictadura es una verdad en el orden teórico, que es un hecho en el orden histórico. Pues ahora voy á decir más: la dictadura es otro hecho en el orden divino. Señores, Dios ha dejado hasta cierto punto á los hombres el gobierno de las sociedades humanas, y se ha reservado para sí exclusivamente el gobierno del universo. El universo está gobernado por Dios, si pudiera decirse así; y si en cosas tan altas pudieran aplicarse las expresiones del lenguaje parlamentario, diría que Dios gobierna el mundo constitucionalmente. Y, señores, la cosa me parece de la mayor claridad, y sobre todo de la mayor evidencia. Está gobernado por ciertas leyes precisas, indispensables, á que se llama causas secundarias. ¿Qué son estas leyes sino leyes análogas á las que se llaman fundamentales respecto de las sociedades humanas?
Pues bien, señores, si con respecto al mundo físico Dios es el legislador, como respecto á las sociedades humanas lo son los legisladores, ¿gobierna Dios siempre con esas mismas leyes que él á sí mismo se impuso en su eterna sabiduría, y á las que nos sujetó á todos? No, señores, pues algunas veces, directa, clara y explícitamente manifiesta su voluntad soberana, quebrantando esas mismas leyes que él mismo se impuso, y torciendo el curso natural de las cosas. Y bien, señores, cuando obra así, ¿no podría decirse, si el lenguaje humano pudiera aplicarse á las cosas divinas, que obra dictatorialmente?
Esto prueba, señores, cuan grande es el delirio de un partido que cree poder gobernar con menos medios que Dios, quitándose á sí propio el medio, algunas veces necesario, de la dictadura. Señores, siendo esto así, la cuestión, reducida á sus verdaderos términos, no consiste ya en averiguar si la dictadura es sostenible, si en ciertas circunstancias es buena: la cuestión consiste en averiguar si han llegado ó pasado por España estas circunstancias. Este es el punto más importante, y es al que voy á contraerme exclusivamente ahora. Para esto tendré que echar una ojeada, y en esto no haré más que seguir las pisadas de todos los oradores que me han precedido; una ojeada por Europa y otra ojeada por España.
Señores, la revolución de febrero vino como viene la muerte, de improviso. Dios, señores, había condenado á la monarquía francesa. En vano esta institución se había trasformado hondamente para acomodarse á las circunstancias y á los tiempos; ni aun esto la valió: su condenación fue inapelable, y su pérdida infalible. La monarquía de derecho divino concluyó con Luis XVI en un cadalso: la monarquía de la gloria concluyó con Napoleón en una isla: la monarquía hereditaria concluyó con Carlos X en el destierro ; y con Luis Felipe ha concluido la última de todas las monarquías posibles, la monarquía de la prudencia. ¡Triste y lamentable espectáculo, señores, el de una institución venerabilísima, antiquísima, gloriosísima, á quien de nada vale, ni el derecho divino, ni la legitimidad, ni la prudencia ni la gloria!
Señores, cuando vino á España la grande nueva de esa grande revolución, todos nos quedamos consternados y atónitos. Nada era comparable á nuestro asombro y á nuestra consternación, sino la consternación y el asombro de la monarquía vencida. Digo más: había un asombro mayor, una consternación más grande que la de la monarquía vencida, y era la de la república vencedora. Aun ahora mismo: diez meses van pasados ya desde su triunfo; preguntadla cómo venció; preguntadla por qué venció; preguntadla con qué fuerzas venció, y no sabrá qué responderos. Esto consiste en que la república no venció, la república fue el instrumento de victoria de un poder más alto.
Ese poder, señores, cuando esté consumada su obra, así como fue fuerte para destruir la monarquía con un escrúpulo de república, será fuerte también, si necesario fuera y conveniente á sus fines, para derribar la república con un escrúpulo de imperio, ó con un escrúpulo de monarquía. Esta revolución, señores, ha sido objeto de grandes comentarios en sus causas y en sus efectos, en todas las tribunas de Europa, y entre otras en la tribuna española. Yo he admirado aquí y allí la lamentable ligereza con que se trata de las causas hondas de las revoluciones. Señores, aquí, como en otras partes, no se atribuyen las revoluciones sino á los defectos de los gobiernos. Cuando las catástrofes son universales, imprevistas, simultáneas, son siempre cosa providencial; porque, señores, estos y no otros son los caracteres que distinguen las obras de Dios de las obras de los hombres.
Cuando las revoluciones presentan esos síntomas, estad seguros que vienen del cielo, y que vienen por culpa y para castigo de todos. ¿Queréis, señores, saber la verdad, y toda la verdad concerniente á las causas de la revolución última francesa? Pues la verdad llegó el día de la gran liquidación de todas las clases de la sociedad con la Providencia, que en ese día tremendo todas se han encontrado fallidas. En ese día han venido á liquidación con la Providencia, y repito que todas en esa liquidación se han encontrado fallidas. Digo más, señores: la república misma, el día mismo de su victoria se declaró también en quiebra. La república había dicho de sí, que venía á sentar en el mundo la dominación de la libertad, de la igualdad, de la fraternidad, esos tres dogmas que no vienen de la república, sino que vienen del Calvario. Y bien, señores, ¿qué ha hecho después? En nombre de la libertad ha hecho necesaria, ha proclamado, ha aceptado la dictadura; en nombre de la igualdad, con el título de republicanos de la víspera, de republicanos del día siguiente, de republicanos de nacimiento, ha inventado no sé qué especie de democracia aristocrática, y no sé qué género de ridículos blasones; en fin, señores, en nombre de la fraternidad ha restaurado la fraternidad pagana, la fraternidad de Eteocles y Polinices; y los hermanos se han devorado unos á otros en las calles de París, en la batalla más gigantesca que dentro de los muros de una ciudad han presenciado los siglos. A esa república que se llamó de las tres verdades, yo la desmiento; es la república de las tres blasfemias, es la república de las tres mentiras.
Viniendo ahora á las causas de esta revolución, el partido progresista tiene unas mismas causas para todo. El Sr. Cortina nos dijo ayer que hay revoluciones porque hay ilegalidades, y porque el instinto de los pueblos los levanta uniforme y espontáneamente contra los tiranos. Antes nos había dicho el Sr. Ordaz Avecilla: ¿Queréis evitar las revoluciones? dad de comer á los hambrientos. Véase, pues, aquí la teoría del partido progresista en toda su extensión: las causas de la revolución son por una parte la miseria, por otra la tiranía. Señores, esa teoría es contraría, totalmente contraria á la historia. Yo pido que se rae cite un ejemplo de una revolución hecha y llevada á cabo por pueblos esclavos ó por pueblos hambrientos. Las revoluciones son enfermedades de los pueblos ricos; las revoluciones son enfermedades de los pueblos libres. El mundo antiguo era un mando en que los esclavos componían la mayor parte del género humano; citadme cuál revolución fue hecha por esos esclavos.
Lo más que pudieron conseguir fue fomentar algunas guerras civiles; pero, las revoluciones profundas fueron hechas siempre por opulentísimos aristócratas. No, señores; no está en la esclavitud, no está en la miseria el germen de las revoluciones: el germen de las revoluciones está en los deseos sobreexcitados de la muchedumbre por los tribunos que las explotan y benefician. Y seréis como los ricos: ved ahí la fórmula de las revoluciones socialistas contra las clases medias; y seréis como los nobles: ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases medias contra las clases nobiliarias: y seréis como los reyes; ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases nobiliarias contra los reyes; por último, señores; y seréis á manera de Dioses: ved ahí la fórmula de la primera rebelión del primer hombre contra Dios. Desde Adán, el primer rebelde, hasta Prudhom, el último impío, esa es la fórmula de todas las revoluciones.
El gobierno español, como era su deber, no quiso que esa fórmula tuviese su aplicación en España; tanto menos lo quiso cuanto la situación interior no era la más lisonjera; y era menester prevenirse así contra las eventualidades del interior como contra las eventualidades exteriores. Para no haberlo hecho así, era necesario haber desconocido de todo punto la marcha de una corriente magnética que se desprende de los focos de acción revolucionaria, y que va inficionándolo todo por el mundo.
La situación interior, en pocas palabras, era esta. La cuestión política no estaba, no ha estado nunca, no está de todo punto resuelta: no se resuelven así tan fácilmente cuestiones políticas en sociedades tan soliviantadas por las pasiones. La cuestión dinástica no estaba concluida, porque aunque es verdad que en ella somos nosotros los vencedores, no teníamos la resignación del vencido, que es el complemento de la victoria. La cuestión religiosa estaba en muy mal estado. La cuestión de las bodas, todos lo sabéis, estaba exacerbada. Yo pregunto, señores, supuesto, como he probado ya, que la dictadura sea en circunstancias dadas legítima, en circunstancias dadas provechosa, ¿estábamos ó no estábamos en esas circunstancias? Si no habían llegado, decidme cuáles otras más graves han aparecido en el mundo. La experiencia vino á demostrar que los cálculos del Gobierno y la previsión de esta Cámara no habían sido infundados. Todos lo sabéis, señores: yo en esto hablaré muy de paso, porque todo lo que es alimentar pasiones, lo detesto; no he nacido para eso; todos sabéis que se proclamó la república á trabucazos por las calles de Madrid; todos sabéis que se ganó parte de la guarnición de Madrid y de Sevilla; todos sabéis que sin la resistencia enérgica, activa del Gobierno, toda España, desde las columnas de Hércules al Pirineo, de un mar á otro mar, hubiera sido un lago de sangre. Y no solo España: ¿sabéis qué males, si hubiera triunfado la revolución, se habrían propagado por el mundo? ¡Ah señores! Cuando se piensa en estas cosas, fuerza es exclamar que el Ministerio que supo resistir y supo vencer, mereció bien de su patria.
Esta cuestión vino á complicarse con la cuestión inglesa: voy á decir antes de entrar en ella, y desde ahora anuncio que no entraré sino para salir de ella inmediatamente, porque así lo conceptúo conveniente y oportuno ; pero antes de entrar en ella me permitirá el Congreso que exponga algunas ideas generales que me parecen convenientes.
Señores, yo he creído siempre que la ceguedad es una señal así en los hombres, como en los gobiernos, como en las naciones, de perdición. Yo he creído que Dios comienza por cegar siempre á los que quiere perder; yo he creído que para que no vean el abismo que pone á sus pies, comienza por turbarles la cabeza. Aplicando estas ideas á la política general seguida de algunos años á esta parte por la Inglaterra y por la Francia, señores, lo diré aquí, hace mucho que yo he predicho grandes desventuras y catástrofes: un hecho histórico, un hecho averiguado, un hecho incontrovertible es que el encargo providencial de la Francia es ser el instrumento de la Providencia en la propagación de las ideas nuevas, así políticas como religiosas y sociales. En los tiempos modernos tres grandes ideas han invadido la Europa: la idea católica, la idea filosófica, la idea revolucionaria.
Pues bien, señores, en esos tres períodos la Francia se ha hecho siempre hombre para propagar esas ideas. Carlo- Magno fué la Francia hecha hombre para propagar la idea católica; Voltaire fue la Francia hecha hombre para propagar la idea filosófica; Napoleón ha sido la Francia hecha hombre para propagar la idea revolucionaria. Del mismo modo creo que el encargo providencial de la Inglaterra es mantener el justo equilibrio moral del mundo, haciendo contraste perpetuo con la Francia. La Francia es lo que el flujo, la Inglaterra lo que el reflujo del mar.
Suponed por un momento el flujo sin el reflujo; los mares se extenderían por todos los continentes: suponed el reflujo sin el flujo, los mares desaparecerían de la tierra. Suponed la Francia sin la Inglaterra; el mundo no se movería sino en medio de convulsiones, cada día tendría una nueva constitución, cada hora una nueva forma de gobierno. Suponed la Inglaterra sin la Francia: el mundo vegetaría siempre bajo la carta del venerable Juan sin Tierra, que es el tipo permanente de todas las constituciones británicas. ¿Qué significa, pues, señores, la coexistencia de estas dos naciones poderosas? Significa, señores, el progreso limitado por la estabilidad, la estabilidad vivificada por el progreso.
Pues bien, señores; de algunos años á esta parte, y apelo á la historia contemporánea y á vuestros recuerdos, esas dos grandes naciones han perdido la memoria de sus hechos, han perdido la memoria de su encargo providencial en el mundo. La Francia, en vez de derramar por la tierra ideas nuevas, predicó por todas partes el statu quo: el statu quo en Francia, el statu quo en España, el statu quo en Italia, el statu quo en el Oriente. Y la Inglaterra en vez de predicar la estabilidad, predicó en todas partes las revueltas: en España, en Portugal, en Francia, en Italia y en la Grecia. ¿Y qué resultó de aquí? Lo que había de resultar forzosamente; que las dos naciones, representando un papel que no había sido el suyo nunca, le han representado pésimamente. La Francia quiso convertirse de diablo en predicador: la Inglaterra de predicador en diablo.
Esta es, señores, la historia contemporánea; pero hablando solamente de la Inglaterra, porque es de la que me propongo hablar muy brevemente, diré que yo pido al cielo, señores, que no vengan sobre ella, como han venido sobre la Francia, las catástrofes que ha merecido por sus errores; porque nada es comparable al error de la Inglaterra de apoyar en todas partes los partidos revolucionarios. ¡Desgraciada! ¿No sabe que el día del peligro esos partidos con más instinto que ella la habrán de volver las espaldas? ¿No ha sucedido esto ya? Y ha debido suceder, señores, porque todos los revolucionarios del mundo saben que cuando las revoluciones van de veras, que cuando las nubes se agrupan, que cuando los horizontes se oscurecen, que cuando las olas suben á lo alto, el navío de la revolución no tiene más piloto que la Francia.
Señores, esta fue la política seguida por la Inglaterra, ó por mejor decir, por su gobierno y sus agentes durante la última época. Yo he dicho, y repito, que no quiero tratar esta cuestión; me mueven á ello grandes consideraciones. Primera: la consideración del bien público, porque debo declarar aquí solemnemente que yo quiero la alianza más íntima, la unión más completa entre la nación española y la nación inglesa, á quien admiro y respeto como la nación quizá más libre, más fuerte y más digna de serlo en la tierra. No quisiera, pues, con mis palabras exacerbar esta cuestión, y no quisiera tampoco perjudicar ó embarazar ulteriores declaraciones. Hay otra consideración que me mueve á no hablar más de este asunto. Para hablar de él tendría que hacerlo de un hombre de quien fui amigo, más amigo que el señor Cortina; pero yo no puedo ayudarle hasta el punto que el Sr. Cortina le ayudaba; la honra no me permite más ayuda que el silencio.
El Sr. Cortina al tratar esta cuestión, permítame que se lo diga con franqueza, tuvo una especie de vahído, y se le olvidó quién era, dónde estaba y quiénes somos. S. S. creyó que era un abogado, y no era un abogado, que era un orador del Parlamento. S. S. creyó que hablaba ante jueces, y hablaba ante diputados. S. S. creyó que hablaba en un tribunal, y hablaba en una asamblea deliberante; creyó que hablaba de un pleito, y hablaba de un asunto político, grande, nacional, que si pleito era, era pleito entre dos naciones. Ahora bien, señores; ¿debe doler profundamente al Sr. Cortina haber sido el abogado de la parte contraria á la nación española? ¡Y qué, señores! ¿ es eso patriotismo por ventura?¿Es eso ser patriota? ¡Ah! no. ¿Sabéis lo que es ser patriota? Ser patriota, señores, es amar, es aborrecer, es sentir como ama, como aborrece nuestra patria.
Dije, señores, que pasaría muy de ligero por esta cuestión, y ya he pasado.
El Sr. SECRETARIO Lafuente Alcántara: Pasadas las horas de reglamento, se pregunta al Congreso si se prorroga la sesión. (Muchas voces: Sí, sí.) Se acordó afirmativamente.
El Sr. Marqués de VALDEGAMÁS: Pero, señores, ni las circunstancias interiores que eran tan graves, ni las circunstancias exteriores que eran tan complicadas y peligrosas, son bastantes para disminuir la oposición en los señores que se sientan en aquellos bancos. ¡Y la libertad! nos dicen. ¡Pues qué! la libertad, ¿no es sobre todo? Y la libertad, á lo menos la individual, ¿no ha sido sacrificada? ¡La libertad, señores! ¿Saben el principio que proclaman y el nombre que pronuncian los que pronuncian esa palabra sagrada? ¿Saben los tiempos en que viven? ¿No ha llegado hasta nosotros, señores, el ruido de las últimas catástrofes? ¡Qué! ¿ no saben á esta hora que la libertad acabó? Pues qué, ¿no han asistido como he asistido yo con los ojos de mi espíritu á su dolorosa pasión? Pues qué, señores, ¿no la habéis visto vejada, escarnecida, herida alevemente por todos los demagogos del mundo? ¿ No la habéis visto llevar su angustia por las montañas de la Suiza, por las orillas del Sena, por las riberas del Rhin y del Danubio, por la» márgenes del Tíber? ¿No la habéis visto subir al Quirinal, que ha sido su calvario?
Señores, tremenda es la palabra; pero no debemos retraernos de pronunciar palabras tremendas si dicen la verdad, y yo estoy resuelto á decirla. ¡La libertad acabó! No rematará, señores, ni al tercer día, ni al tercer año, ni al tercer siglo quizá. ¿Os gusta, señores, la tiranía que sufrimos? De poco os asustáis; veréis cosas mayores. Y aquí os ruego, señores, que guardéis en vuestra memoria mis palabras, porque lo que voy á decir, los sucesos que voy á anunciar en un porvenir más próximo ó más lejano, pero muy lejano nunca, se han de cumplir á la letra.
El fundamento, señores, de todos vuestros errores (dirigiéndose á los bancos de la izquierda) consiste en no saber cuál es la dirección de la civilización y del mundo. Vosotros creéis que la civilización y el mundo van, cuando la civilización y el mundo vuelven. El mundo, señores, camina con pasos rapidísimos á la constitución de un despotismo el más gigantesco y asolador de que hay memoria en los hombres. A esto camina la civilización, y á esto camina el mundo. Para anunciar estas cosas no necesito ser profeta. Me basta considerar la combinación pavorosa de los acontecimientos humanos desde su único punto de vista verdadero, desde las alturas católicas.
Señores, no hay más que dos represiones posibles, una interior y otra exterior; la religiosa y la política. Estas son de tal naturaleza, que cuando el termómetro religioso está subido, el termómetro de la represión política está bajo; y cuando el termómetro religioso está bajo, el termómetro político, la represión política, la tiranía está alta. Esta es una ley de la humanidad, una ley de la historia. Y si no, señores, ved lo que era el mundo, ved lo que era la sociedad que cae al otro lado de la Cruz, decid lo que era cuando no había represión interior, cuando no había represión religiosa. Entonces aquella era una sociedad de tiranías y de esclavos. Citadme un solo pueblo donde no haya esclavos y donde no haya tiranía. Este es un hecho incontrovertible, este es un hecho incontrovertido, este es un hecho evidente. La libertad, la libertad verdadera, la libertad de todos y para todos no vino al mundo sino con el Salvador del mundo. Este también es un hecho incontrovertido , es un hecho confesado hasta por los mismos socialistas que lo confiesan. Los socialistas llaman á Jesús un hombre divino, y los socialistas hacen más, se llaman sus continuadores. ¡Sus continuadores, Santo Dios! ¿Ellos, los hombres de sangre y de venganzas, continuadores del que no vivió sino para hacer bien; del que no abrió la boca sino para bendecir; del que no hizo prodigios sino para librar á los pecadores del pecado, á los muertos de la muerte; el que en el espacio de tres años hizo la revolución más grande que han presenciado los siglos, y la llevó á cabo sin haber derramado más sangre que la suya?
Señores, os ruego me prestéis atención; voy á poneros en presencia del paralelismo más maravilloso que ofrece la historia. Vosotros habéis visto que en el mundo antiguo, cuando la represión religiosa no podía bajar más porque no existia ninguna, la represión política subió hasta no poder más, porque subió hasta la tiranía. Pues bien, con Jesucristo, donde nace la represión religiosa, desaparece completamente la represión política. Es esto tan cierto, que habiendo fundado Jesucristo una sociedad con sus discípulos, fue aquella la única sociedad que ha existido sin gobierno. Entre Jesús y sus discípulos no había más gobierno que el amor del Maestro á los discípulos y el amor de los discípulos al Maestro. Es decir, que cuando la represión era completa, la libertad era absoluta.
Sigamos el paralelismo. Llegan los tiempos apostólicos, que los extenderé, porque así conviene ahora á mi propósito, desde los tiempos apostólicos propiamente dichos, hasta la subida del cristianismo al Capitolio en tiempo de Constantino el Grande. En este tiempo, señores, la religión cristiana, es decir la represión religiosa interior, estaba en todo su apogeo; pero aunque estaba en todo su apogeo, sucedió lo que sucede en todas las sociedades compuestas de hombres, que comenzó á desarrollarse un germen, nada más que un germen de licencia y de libertad religiosa. Pues bien, señores, observad el paralelismo: á este principio de descenso en el termómetro religioso corresponde un principio de subida en el termómetro político. No hay todavía gobierno, no es necesario el gobierno, pero es necesario ya un germen de gobierno. Así en la sociedad cristiana entonces no había de hecho verdaderos magistrados, sino jueces árbitros y amigables componedores, que son el embrión del gobierno. Realmente no había más que eso; los cristianos de los tiempos apostólicos no tuvieron pleitos, no iban á los tribunales, decidían sus contiendas por medio de árbitros. Obsérvese, señores, cómo con la corrupción va creciendo el gobierno.
Llegan los tiempos feudales, y en estos la religión se encuentra todavía en su apogeo, pero hasta cierto punto viciada por las pasiones humanas. ¿Qué es lo que sucede, señores, en este tiempo en el mundo político? Que ya es necesario un gobierno real y efectivo, pero que basta el más débil de todos, y así se establece la monarquía feudal, la más débil de las monarquías.
Seguid observando el paralelismo. Llega, señores, el siglo XVI. En este siglo, con la gran reforma luterana, con ese grande escándalo político y social, tanto como religioso, con ese acto de emancipación intelectual y moral de los pueblos, coinciden las siguientes instituciones. En primer lugar, en el instante, las monarquías, de feudales, se hacen absolutas. Vosotros creeréis, señores, que más que absoluta no puede ser una monarquía: un gobierno, ¿qué puede ser más que absoluto? Pero era necesario, señores, que el termómetro de la represión política subiera más, porque el termómetro religioso seguía bajando; y con efecto subió más. ¿Y qué nueva institución se creó? La de los ejércitos permanentes. ¿Y sabéis, señores, lo que son ejércitos permanentes? Para saberlo, basta saber lo que es un soldado: un soldado es un esclavo con uniforme. Así, pues, veis que en el momento en que la represión religiosa baja, la represión política sube al absolutismo, y pasa más allá. No bastaba á los gobiernos ser absolutos; pidieron y obtuvieron el privilegio de ser absolutos y tener un millón de brazos.
A pesar de esto, señores, era necesario que el termómetro político subiera más, porque el termómetro religioso seguía bajando; y subió más. ¿Qué nueva institución, señores, se creó entonces? Los gobiernos dijeron: tenemos un millón de brazos y no nos bastan; necesitamos más, necesitamos un millón de ojos; y tuvieron la policía, y con la policía un millón de ojos. A pesar de esto, señores, todavía el termómetro político y la represión política debían subir, porque á pesar de todo, el termómetro religioso seguía bajando; y subieron.
A los gobiernos, señores, no les bastó tener un millón de brazos; no les bastó tener un millón de ojos; quisieron tener un millón de oídos, y los tuvieron con la centralización administrativa, por la cual vienen á parar al gobierno todas las reclamaciones y todas las quejas.
Y bien, señores; no bastaba esto, porque el termómetro religioso siguió bajando, y era necesario que el termómetro político subiera más. ¡Señores, hasta dónde! Pues subió más.
Los gobiernos dijeron: no me bastan para reprimir, un millón de brazos; no me bastan para reprimir, un millón de ojos; no me bastan para reprimir, un millón de oídos; necesitamos más : necesitamos tener el privilegio de hallarnos á un mismo tiempo en todas partes. Y lo tuvieron; y se inventó el telégrafo.
Señores, tal era el estado de la Europa y del mundo cuando el primer estallido de la última revolución vino á anunciarnos, á anunciarnos á todos, que no había bastante despotismo en el mundo; porque el termómetro religioso estaba por bajo de cero. Ahora bien, señores, una de dos...
Yo he prometido, y cumpliré mi palabra, hablar hoy con toda franqueza.
Pues bien, una de dos : ó la reacción religiosa viene ó no : si hay reacción religiosa, ya veréis, señores, como subiendo el termómetro religioso comienza á bajar natural, espontáneamente, sin esfuerzo ninguno de los pueblos, ni de los gobiernos, ni de los hombres, el termómetro político, hasta señalar el día templado de la libertad de los pueblos : pero si por el contrario, señores, y esto es grave (no hay la costumbre de llamar la atención de las asambleas deliberantes sobre las cuestiones hacia donde yo la he llamado hoy; pero la gravedad de los acontecimientos del mundo me dispensa, y yo creo que vuestra benevolencia sabrá también dispensarme); pues bien, señores, yo digo que si el termómetro religioso continúa bajando, no sé a donde hemos de parar. Yo, señores, no lo sé, y tiemblo cuando lo pienso. Contemplad las analogías que he puesto á vuestros ojos; y si cuando la represión religiosa estaba en su apogeo no era necesario ni gobierno ninguno siquiera, cuando la represión religiosa no exista, no habrá bastante con ningún género de gobierno, todos los despotismos serán pocos.
Señores, esto es poner el dedo en la llaga, esta es la cuestión de España, la cuestión de Europa, la cuestión de la humanidad, la cuestión del mundo.
Considerad una cosa, señores. En el mundo antiguo la tiranía fue feroz y asoladora, y sin embargo esa tiranía estaba limitada físicamente, porque todos los Estados eran pequeños, y porque las relaciones internacionales eran imposibles de todo punto; por consiguiente en la antigüedad no pudo haber tiranías en grande escala, sino una sola, la de Roma. Pero ahora, señores, ¡cuán mudadas están las cosas! Señores, las vías están preparadas para un tirano gigantesco, colosal, universal, inmenso; todo está preparado para ello : señores, miradlo bien; ya no hay resistencias ni físicas ni morales : no hay resistencias físicas, porque con los barcos de vapor y los caminos de hierro no hay fronteras; no hay resistencias físicas, porque con el telégrafo eléctrico no hay distancias; y no hay resistencias morales, porque todos los ánimos están divididos y todos los patriotismos están muertos. Decidme, pues, si tengo ó no razón cuando me preocupo por el porvenir próximo del mundo: decidme si al tratar de esta cuestión no trato de la cuestión verdadera.
Una sola cosa puede evitar la catástrofe, una y nada más: eso no se evita con dar más libertad, más garantías, nuevas constituciones; eso se evita procurando todos, hasta donde nuestras fuerzas alcancen, provocar una reacción saludable, religiosa. Ahora bien, señores: ¿es posible esta reacción? Posible lo es: pero ¿es probable? Señores, aquí hablo con la más profunda tristeza: no la creo probable. Yo he visto, señores, y conocido á muchos individuos que salieron de la fe y han vuelto á ella: por desgracia, señores, no he visto jamás á ningún pueblo que haya vuelto á la fe después de haberla perdido.
Si aun me quedara alguna esperanza, la hubieran disipado, señores, los últimos sucesos de Roma : y aquí voy á decir dos palabras sobre esta cuestión, tratada también por el Sr. Cortina.
Señores, los sucesos de Roma no tienen un nombre: ¿cómo los llamaríais, señores? ¿Los llamaríais deplorables? Deplorables, todos los que he citado lo son; esos son mucho más. ¿Los llamaríais horribles? Señores, esos acontecimientos son sobre todo horror.
Había en Roma, ya no le hay, sobre el trono más eminente el varón más justo, el varón más evangélico de la tierra. ¿Qué ha hecho Roma de ese varón evangélico, de ese varón justo? ¿Qué ha hecho esa ciudad en donde han imperado los héroes, los Césares y los pontífices? Ha trocado el trono de los pontífices por el trono de los demagogos. Rebelde á Dios, ha caído bajo la idolatría del puñal. Eso ha hecho. El puñal, señores, el puñal demagógico, el puñal sangriento, ese es el ídolo de Roma. Ese es el ídolo que ha derribado á Pió IX. Ese es el ídolo que pasean por las calles tropas de caribes. ¿Dije caribes? dije mal, que los caribes son feroces, pero los caribes no son ingratos.
Señores, me he propuesto hablar con toda franqueza, y hablaré. Digo que es necesario que el rey de Roma vuelva á Roma, ó que no quede en Roma, aunque pese al Sr. Cortina, piedra sobre piedra.
El mundo católico no puede consentir, y no consentirá en la destrucción virtual del cristianismo por una ciudad sola entregada al frenesí de la locura. La Europa civilizada no puede consentir, y no consentirá que se desplome, señores, la cúpula del edificio de la civilización europea. El mundo, señores, no puede consentir, y no consentirá que en Roma, esa ciudad insensata, se verifique el advenimiento al trono de una nueva y extraña dinastía, la dinastía del crimen. Y no se diga, señores, como dice el Sr. Cortina, como dicen en periódicos y discursos los señores que se sientan en aquellos bancos, que hay dos cuestiones allí, una temporal y otra espiritual, y que la cuestión ha sido entre el rey temporal y su pueblo. Que el pontífice ha sido respetado, que el pontífice existe todavía. Dos palabras sobre esta cuestión, dos palabras, señores, lo explicarán todo.
Sin duda ninguna el poder espiritual es lo principal en el Papa, el temporal es accesorio; pero ese accesorio es necesario : el mundo católico tiene el derecho de exigir que el oráculo infalible de sus dogmas sea libre é independiente : el mundo católico no puede tener una ciencia cierta, como se necesita, de que es independiente y libre, sino cuando es soberano, porque solo el soberano no depende de nadie. Por consiguiente, señores, la cuestión de soberanía, que es una cuestión política en todas partes, es en Roma además una cuestión religiosa; el pueblo que puede ser soberano en todas partes, no puede serlo en Roma; asambleas constituyentes que pueden existir en todas partes, no pueden existir en Roma; en Roma no puede haber más poder constituyente que el poder constituido. Roma, señores, los Estados pontificios, no pertenecen al Estado de Roma, no pertenecen al papa; los Estados pontificios pertenecen al mundo católico; el mundo católico se los ha reconocido al papa para que fuera libre é independiente, y el papa mismo no puede despojarse de esa soberanía, de esa independencia.
Señores, voy á concluir, porque el Congreso está muy cansado y yo lo estoy también. (Varios señores: No, no.) Señores, francamente tengo que declarar aquí, que no puedo extenderme más porque tengo la boca mala, y ha sido un prodigio que yo pueda hablar, pero lo principal que tenía que decir lo he dicho ya.
Después de haber tratado las tres cuestiones exteriores que trató el Sr. Cortina, vuelvo, para concluir, á la interior. Señores , desde el principio del mundo hasta ahora ha sido una cosa discutible si convenía más el sistema de la resistencia ó el sistema de las concesiones, para evitar las revoluciones y los trastornos; pero afortunadamente, señores, esa que ha sido una cuestión desde el primer año de la creación hasta el año 48, en el año de gracia de 48 ya no es cuestión de ninguna especie, porque es cosa resuelta : yo, señores, si me lo permitiera el mal que padezco en la boca, haría aquí una reseña de todos los acontecimientos desde febrero hasta ahora, que prueban estas aserciones; pero me contentaré con recordar dos : el de la Francia, señores : allí la monarquía, que no cedió, fue vencida por la república que apenas tenía fuerza para moverse; y la república que apenas tenía fuerza para moverse, porque resistió, venció al socialismo.
En Roma, que es otro ejemplo que quiero citar, ¿qué ha sucedido? ¿No estaba allí vuestro modelo? Decidme: si vosotros fuerais pintores y quisierais pintar el modelo de un rey, ¿encontraríais otro modelo que no fuera su original Pió IX? Señores, Pió IX quiso ser, como su divino Maestro, magnífico y dadivoso: halló proscriptos en su país, y les tendió la mano y los devolvió á su pátria: había reformistas, señores, y les dio reformas: había liberales, señores, y los hizo libres : cada palabra suya, señores, fue un beneficio : y ahora, señores, decidme, ¿ sus beneficios no igualan, si no exceden, á sus ignominias? Y en vista de esto, señores, ¿el sistema de las concesiones no es una cosa resuelta?
Señores, si aquí se tratara de elegir, de escoger entre la libertad por un lado y la dictadura por otro, aquí no habría disenso ninguno; porque ¿quién, pudiendo abrazarse con la libertad, se hinca de rodillas ante la dictadura? Pero no es esta la cuestión. La libertad no existe de hecho en Europa; los gobiernos constitucionales que la representaban años atrás, no son ya en casi todas partes, señores, sino una armazón de un esqueleto sin vida. Recordad una cosa, recordad á Roma imperial. En la Roma imperial existen todas las instituciones republicanas, existen los omnipotentes dictadores, existen los inviolables tribunos, existen las familias senatorias, existen los eminentes cónsules; todo esto, señores, existe; no falta más que una cosa, y no sobra más que otra cosa: sobra un hombre, y falta la república.
Pues esos son, señores, en casi toda Europa los gobiernos constitucionales; sin pensarlo, sin saberlo el señor Cortina, nos lo demostró el otro día. ¿No nos decía V. S. que prefiere, y con razón, lo que dice la historia á lo que dicen las teorías? A la historia apelo. ¿Qué son, señor Cortina, esos gobiernos con sus mayorías legítimas, vencidas siempre por las minorías turbulentas, con sus ministros responsables que de nada responden, con sus reyes inviolables siempre violados? Así, señores, la cuestión, como he dicho antes, no está entre la libertad y la dictadura; si estuviera entre la libertad y la dictadura, yo votaría por la libertad, como todos los que nos sentamos aquí. Pero la cuestión es esta, y concluyo : se trata de escoger entre la dictadura de la insurrección y la dictadura del Gobierno ; puesto en este caso yo escojo la dictadura del Gobierno, como menos pesada y menos afrentosa : se trata de escoger entre la dictadura que viene de abajo y la dictadura que viene de arriba; yo escojo lo que viene de arriba, porque viene de regiones más limpias y serenas: se trata de escoger, por último, entre la dictadura del puñal y la dictadura del sable; yo escojo la dictadura del sable, porque es más noble. Señores, al votar nos dividiremos en esta cuestión, y dividiéndonos seremos consecuentes con nosotros mismos. Vosotros, señores, votaréis, como siempre, lo más popular; nosotros, señores, como siempre, votaremos lo más saludable.
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DISCURSO pronunciado POR EL EXCMO. SR. D. JUAN DONOSO CORTÉS,
Marqués de Valdegamás, en la sesión de 4 del corriente, en el Congreso de Diputados.
SEÑORES: el largo discurso que pronunció ayer el señor Cortina, y á que voy á contestar, considerándole bajo un punto de vista restringido, á pesar de sus largas dimensiones, no fue más que un epílogo; el epilogo de los errores del partido progresista, los cuales á su vez no son más que otro epilogo; el epilogo de todos los errores que se han inventado de tres siglos á esta parte, y que traen conturbadas más ó menos hoy día todas las sociedades humanas.
El Sr. Cortina, al comenzar su discurso, manifestó con la buena fe que á S. S. distingue, y que tanto realza su talento, que él mismo algunas veces había llegado á sospechar si sus principios serian falsos, si sus ideas serían desastrosas al ver que nunca estaban en el poder, y siempre en la oposición. Yo diré á S. S. que por poco que reflexione, su duda se cambiará en certidumbre. Sus ideas no están en el poder, y están en la oposición cabalmente porque son ideas de oposición; señores, son ideas infecundas, ideas estériles, ideas desastrosas, que es necesario combatir hasta que mueran, que es necesario combatir hasta que queden enterradas aquí, en su cementerio natural, bajo de estas bóvedas, al pié de esa tribuna.
El Sr. Cortina, siguiendo las tradiciones del partido á quien capitanea y representa; siguiendo, digo, las tradiciones de este partido desde la revolución de febrero, ha pronunciado un discurso dividido en tres partes, que yo llamaré inevitables. Primera, un elogio del partido, fundado en una relación de sus méritos pasados. Segunda, el memorial de agravios presentes del partido. Tercera, un programa ó sea una relación de méritos futuros. Señores de la mayoría, yo vengo aquí á defender vuestros principios, pero no esperéis de mi ni un solo elogio: sois los vencedores, y nada sienta en la frente del vencedor como una corona de modestia.
No esperéis de mí, señores, que hable de vuestros agravios: no tenéis agravios personales que vengar, sino los agravios hechos á la sociedad y al trono por los traidores á su Reina y á su patria. No hablaré de vuestra relación de méritos ¿Para qué fin hablaría de ellos? ¿Para que la nación los sepa? La nación se los sabe de memoria.
El Sr. Cortina, señores, dividió su discurso en dos cuestiones, que desde luego se presentan al alcance de todos los señores diputados. S. S. trató de la política exterior, de la política interior del Gobierno, y llamó política exterior importante para España la política ó los acontecimientos ocurridos en París, en Londres y en Roma. Yo tocaré también esas cuestiones.
Después descendió S. S. á la política interior, y la política interior, tal como la ha tratado el Sr. Cortina, se divide en dos partes: una, cuestión de principios, y otra, cuestión de hechos: una, cuestión de sistema, y otra, cuestión de conducta. A la cuestión de hechos, á la cuestión de conducta, ya ha contestado el Ministerio, que esa quien correspondía contestar, que es quien tiene los datos para ello, por el órgano de los señores ministros de Estado y Gobernación, que han desempeñado este encargo con la elocuencia que acostumbran. Me queda para mi casi intacta la cuestión de principios : esta cuestión solamente abordaré; pero la abordaré, si el Congreso me lo permite , de lleno.
Señores: ¿cuál es el principio del Sr. Cortina? El principio de S. S., bien analizado su discurso, es el siguiente en la política interior : la legalidad, todo por la legalidad, todo para la legalidad, la legalidad siempre, la legalidad en todas circunstancias ,' la legalidad en todas ocasiones : y yo, señores, que creo que las leyes se han hecho para las sociedades, y no las sociedades para las leyes, digo : la sociedad, todo para la sociedad, todo por la sociedad, la sociedad siempre, la sociedad en todas circunstancias, la sociedad en todas ocasiones.
Cuando la legalidad basta para salvar á la sociedad, la legalidad; cuando no basta, la dictadura. Señores, esta palabra tremenda, que tremenda es, aunque no tanto como la palabra revolución, que es la más tremenda de todas; digo que esta palabra tremenda ha sido pronunciada aquí por un hombre que todos conocen : no ha sido hecho por cierto de la madera de los dictadores. Yo he nacido para comprenderlos, no he nacido para imitarlos. Dos cosas me son imposibles: condenar la dictadura y ejercerla. Por eso lo declaro aquí alta, noble y francamente. Estoy incapacitado de gobernar: no puedo aceptar el gobierno en conciencia: yo no podría aceptarle sin poner la mitad de mí mismo en guerra con la otra mitad, sin poner en guerra mi instinto contra mi razón, sin poner en guerra mi razón contra mi instinto.
Por esto, señores, y yo apelo al testimonio de todos los que me conocen, ninguno puede levantarse ni aquí ni fuera de aquí, que haya tropezado conmigo en el camino de la ambición, tan lleno de gentes; ninguno. Pero todos me encontrarán, todos me han encontrado en el camino modesto de los buenos ciudadanos. Solo así, señores, cuando mis días estén contados, cuando baje al sepulcro, bajaré sin el remordimiento de haber dejado sin defensa á la sociedad bárbaramente atacada, y al mismo tiempo sin el amarguísimo, y para mí insoportable dolor, de haber hecho mal á un hombre.
Digo, señores, que la dictadura en ciertas circunstancias, en circunstancias dadas, en circunstancias como las presentes, es un gobierno legítimo, es un gobierno bueno, es un gobierno provechoso como cualquier otro gobierno, es un gobierno racional, que puede defenderse en la teoría, como puede defenderse en la práctica. Y si no, señores, ved lo que es la vida social. La vida social, señores, como la vida humana, se compone de la acción y de la reacción, del flujo y reflujo de ciertas fuerzas invasoras y de ciertas fuerzas resistentes.
Esta es la vida social, así como esta es también la vida humana. Pues bien: las fuerzas invasoras, llamadas enfermedades en el cuerpo humano, y de otra manera en el cuerpo social, pero siendo esencialmente la misma cosa, tienen dos estados: hay uno en que están derramadas por toda la sociedad, en el que estas fuerzas invasoras están reconcentradas solo en individuos: hay otro estado agudísimo de enfermedad, en que se reconcentran más, y están representadas por asociaciones políticas. Pues bien: yo digo que no existiendo las fuerzas resistentes, lo mismo en el cuerpo humano que en el cuerpo social, sino para rechazar las fuerzas invasoras, tienen que proporcionarse necesariamente á su estado. Cuando las fuerzas invasoras están derramadas, las resistentes lo están también; lo están por el Gobierno, por las autoridades y por los tribunales, y en una palabra, por todo el cuerpo social; pero cuando las fuerzas invasoras se reconcentran en asociaciones políticas, entonces necesariamente, sin que nadie lo pueda impedir, sin que nadie tenga derecho á impedirlo, las fuerzas resistentes por sí mismas se reconcentran en una mano. Esta es la teoría clara, luminosa, indestructible de la dictadura.
Y esta teoría, señores, que es una verdad en el orden racional, es un hecho constante en el orden histórico. Citadme una sociedad que no haya tenido la dictadura, citádmela. Ved, sino, qué pasaba en la democrática Atenas, lo que pasaba en la aristocrática Roma, En Atenas, ese poder omnipotente estaba en las manos del pueblo, y se llamaba ostracismo ; en Roma, ese poder omnipotente estaba en manos del Senado, que le delegaba en un barón consular, y se llamaba como entre nosotros dictadura. Ved las sociedades modernas, señores; ved la Francia en todas sus vicisitudes. No hablaré de la primera república, que fue una dictadura gigantesca sin fin, llena de sangre y de horrores. Hablo de época posterior. En la Carta de la Restauración la dictadura se había refugiado ó buscado un asilo en el artículo 14: en la Carta de i 830 se encontró en el preámbulo; ¿y en la república actual? De esta no digamos nada. ¿Qué es sino la dictadura con el mote de República?
Aquí se ha citado, y en mala hora, por el Sr. Galvez Cañero la Constitución inglesa. Señores, la Constitución inglesa cabalmente es la única en el mundo, tan sabios son los ingleses, en que la dictadura no es de derecho excepcional sino de derecho común, y la cosa es clara. El Parlamento tiene en todas ocasiones, en todas épocas, cuando quiere, pues no tiene más límite que el de todos los poderes humanos, la prudencia, este poder.
Tiene todas las facultades, y estas constituyen el poder dictatorial, de hacer todo lo que no sea hacer de una mujer un hombre, ó de un hombre una mujer, como dicen sus jurisconsultos. Tiene facultades para suspender el habeas corpus, para proscribir por medio de un bill d'attaner: puede cambiar de constitución, puede variar hasta de dinastía, y no solo de dinastía, sino hasta de religión, y oprimir las conciencias; en una palabra, lo puede todo. ¿Quién ha visto, señores, una dictadura más monstruosa?
He probado que la dictadura es una verdad en el orden teórico, que es un hecho en el orden histórico. Pues ahora voy á decir más: la dictadura es otro hecho en el orden divino. Señores, Dios ha dejado hasta cierto punto á los hombres el gobierno de las sociedades humanas, y se ha reservado para sí exclusivamente el gobierno del universo. El universo está gobernado por Dios, si pudiera decirse así; y si en cosas tan altas pudieran aplicarse las expresiones del lenguaje parlamentario, diría que Dios gobierna el mundo constitucionalmente. Y, señores, la cosa me parece de la mayor claridad, y sobre todo de la mayor evidencia. Está gobernado por ciertas leyes precisas, indispensables, á que se llama causas secundarias. ¿Qué son estas leyes sino leyes análogas á las que se llaman fundamentales respecto de las sociedades humanas?
Pues bien, señores, si con respecto al mundo físico Dios es el legislador, como respecto á las sociedades humanas lo son los legisladores, ¿gobierna Dios siempre con esas mismas leyes que él á sí mismo se impuso en su eterna sabiduría, y á las que nos sujetó á todos? No, señores, pues algunas veces, directa, clara y explícitamente manifiesta su voluntad soberana, quebrantando esas mismas leyes que él mismo se impuso, y torciendo el curso natural de las cosas. Y bien, señores, cuando obra así, ¿no podría decirse, si el lenguaje humano pudiera aplicarse á las cosas divinas, que obra dictatorialmente?
Esto prueba, señores, cuan grande es el delirio de un partido que cree poder gobernar con menos medios que Dios, quitándose á sí propio el medio, algunas veces necesario, de la dictadura. Señores, siendo esto así, la cuestión, reducida á sus verdaderos términos, no consiste ya en averiguar si la dictadura es sostenible, si en ciertas circunstancias es buena: la cuestión consiste en averiguar si han llegado ó pasado por España estas circunstancias. Este es el punto más importante, y es al que voy á contraerme exclusivamente ahora. Para esto tendré que echar una ojeada, y en esto no haré más que seguir las pisadas de todos los oradores que me han precedido; una ojeada por Europa y otra ojeada por España.
Señores, la revolución de febrero vino como viene la muerte, de improviso. Dios, señores, había condenado á la monarquía francesa. En vano esta institución se había trasformado hondamente para acomodarse á las circunstancias y á los tiempos; ni aun esto la valió: su condenación fue inapelable, y su pérdida infalible. La monarquía de derecho divino concluyó con Luis XVI en un cadalso: la monarquía de la gloria concluyó con Napoleón en una isla: la monarquía hereditaria concluyó con Carlos X en el destierro ; y con Luis Felipe ha concluido la última de todas las monarquías posibles, la monarquía de la prudencia. ¡Triste y lamentable espectáculo, señores, el de una institución venerabilísima, antiquísima, gloriosísima, á quien de nada vale, ni el derecho divino, ni la legitimidad, ni la prudencia ni la gloria!
Señores, cuando vino á España la grande nueva de esa grande revolución, todos nos quedamos consternados y atónitos. Nada era comparable á nuestro asombro y á nuestra consternación, sino la consternación y el asombro de la monarquía vencida. Digo más: había un asombro mayor, una consternación más grande que la de la monarquía vencida, y era la de la república vencedora. Aun ahora mismo: diez meses van pasados ya desde su triunfo; preguntadla cómo venció; preguntadla por qué venció; preguntadla con qué fuerzas venció, y no sabrá qué responderos. Esto consiste en que la república no venció, la república fue el instrumento de victoria de un poder más alto.
Ese poder, señores, cuando esté consumada su obra, así como fue fuerte para destruir la monarquía con un escrúpulo de república, será fuerte también, si necesario fuera y conveniente á sus fines, para derribar la república con un escrúpulo de imperio, ó con un escrúpulo de monarquía. Esta revolución, señores, ha sido objeto de grandes comentarios en sus causas y en sus efectos, en todas las tribunas de Europa, y entre otras en la tribuna española. Yo he admirado aquí y allí la lamentable ligereza con que se trata de las causas hondas de las revoluciones. Señores, aquí, como en otras partes, no se atribuyen las revoluciones sino á los defectos de los gobiernos. Cuando las catástrofes son universales, imprevistas, simultáneas, son siempre cosa providencial; porque, señores, estos y no otros son los caracteres que distinguen las obras de Dios de las obras de los hombres.
Cuando las revoluciones presentan esos síntomas, estad seguros que vienen del cielo, y que vienen por culpa y para castigo de todos. ¿Queréis, señores, saber la verdad, y toda la verdad concerniente á las causas de la revolución última francesa? Pues la verdad llegó el día de la gran liquidación de todas las clases de la sociedad con la Providencia, que en ese día tremendo todas se han encontrado fallidas. En ese día han venido á liquidación con la Providencia, y repito que todas en esa liquidación se han encontrado fallidas. Digo más, señores: la república misma, el día mismo de su victoria se declaró también en quiebra. La república había dicho de sí, que venía á sentar en el mundo la dominación de la libertad, de la igualdad, de la fraternidad, esos tres dogmas que no vienen de la república, sino que vienen del Calvario. Y bien, señores, ¿qué ha hecho después? En nombre de la libertad ha hecho necesaria, ha proclamado, ha aceptado la dictadura; en nombre de la igualdad, con el título de republicanos de la víspera, de republicanos del día siguiente, de republicanos de nacimiento, ha inventado no sé qué especie de democracia aristocrática, y no sé qué género de ridículos blasones; en fin, señores, en nombre de la fraternidad ha restaurado la fraternidad pagana, la fraternidad de Eteocles y Polinices; y los hermanos se han devorado unos á otros en las calles de París, en la batalla más gigantesca que dentro de los muros de una ciudad han presenciado los siglos. A esa república que se llamó de las tres verdades, yo la desmiento; es la república de las tres blasfemias, es la república de las tres mentiras.
Viniendo ahora á las causas de esta revolución, el partido progresista tiene unas mismas causas para todo. El Sr. Cortina nos dijo ayer que hay revoluciones porque hay ilegalidades, y porque el instinto de los pueblos los levanta uniforme y espontáneamente contra los tiranos. Antes nos había dicho el Sr. Ordaz Avecilla: ¿Queréis evitar las revoluciones? dad de comer á los hambrientos. Véase, pues, aquí la teoría del partido progresista en toda su extensión: las causas de la revolución son por una parte la miseria, por otra la tiranía. Señores, esa teoría es contraría, totalmente contraria á la historia. Yo pido que se rae cite un ejemplo de una revolución hecha y llevada á cabo por pueblos esclavos ó por pueblos hambrientos. Las revoluciones son enfermedades de los pueblos ricos; las revoluciones son enfermedades de los pueblos libres. El mundo antiguo era un mando en que los esclavos componían la mayor parte del género humano; citadme cuál revolución fue hecha por esos esclavos.
Lo más que pudieron conseguir fue fomentar algunas guerras civiles; pero, las revoluciones profundas fueron hechas siempre por opulentísimos aristócratas. No, señores; no está en la esclavitud, no está en la miseria el germen de las revoluciones: el germen de las revoluciones está en los deseos sobreexcitados de la muchedumbre por los tribunos que las explotan y benefician. Y seréis como los ricos: ved ahí la fórmula de las revoluciones socialistas contra las clases medias; y seréis como los nobles: ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases medias contra las clases nobiliarias: y seréis como los reyes; ved ahí la fórmula de las revoluciones de las clases nobiliarias contra los reyes; por último, señores; y seréis á manera de Dioses: ved ahí la fórmula de la primera rebelión del primer hombre contra Dios. Desde Adán, el primer rebelde, hasta Prudhom, el último impío, esa es la fórmula de todas las revoluciones.
El gobierno español, como era su deber, no quiso que esa fórmula tuviese su aplicación en España; tanto menos lo quiso cuanto la situación interior no era la más lisonjera; y era menester prevenirse así contra las eventualidades del interior como contra las eventualidades exteriores. Para no haberlo hecho así, era necesario haber desconocido de todo punto la marcha de una corriente magnética que se desprende de los focos de acción revolucionaria, y que va inficionándolo todo por el mundo.
La situación interior, en pocas palabras, era esta. La cuestión política no estaba, no ha estado nunca, no está de todo punto resuelta: no se resuelven así tan fácilmente cuestiones políticas en sociedades tan soliviantadas por las pasiones. La cuestión dinástica no estaba concluida, porque aunque es verdad que en ella somos nosotros los vencedores, no teníamos la resignación del vencido, que es el complemento de la victoria. La cuestión religiosa estaba en muy mal estado. La cuestión de las bodas, todos lo sabéis, estaba exacerbada. Yo pregunto, señores, supuesto, como he probado ya, que la dictadura sea en circunstancias dadas legítima, en circunstancias dadas provechosa, ¿estábamos ó no estábamos en esas circunstancias? Si no habían llegado, decidme cuáles otras más graves han aparecido en el mundo. La experiencia vino á demostrar que los cálculos del Gobierno y la previsión de esta Cámara no habían sido infundados. Todos lo sabéis, señores: yo en esto hablaré muy de paso, porque todo lo que es alimentar pasiones, lo detesto; no he nacido para eso; todos sabéis que se proclamó la república á trabucazos por las calles de Madrid; todos sabéis que se ganó parte de la guarnición de Madrid y de Sevilla; todos sabéis que sin la resistencia enérgica, activa del Gobierno, toda España, desde las columnas de Hércules al Pirineo, de un mar á otro mar, hubiera sido un lago de sangre. Y no solo España: ¿sabéis qué males, si hubiera triunfado la revolución, se habrían propagado por el mundo? ¡Ah señores! Cuando se piensa en estas cosas, fuerza es exclamar que el Ministerio que supo resistir y supo vencer, mereció bien de su patria.
Esta cuestión vino á complicarse con la cuestión inglesa: voy á decir antes de entrar en ella, y desde ahora anuncio que no entraré sino para salir de ella inmediatamente, porque así lo conceptúo conveniente y oportuno ; pero antes de entrar en ella me permitirá el Congreso que exponga algunas ideas generales que me parecen convenientes.
Señores, yo he creído siempre que la ceguedad es una señal así en los hombres, como en los gobiernos, como en las naciones, de perdición. Yo he creído que Dios comienza por cegar siempre á los que quiere perder; yo he creído que para que no vean el abismo que pone á sus pies, comienza por turbarles la cabeza. Aplicando estas ideas á la política general seguida de algunos años á esta parte por la Inglaterra y por la Francia, señores, lo diré aquí, hace mucho que yo he predicho grandes desventuras y catástrofes: un hecho histórico, un hecho averiguado, un hecho incontrovertible es que el encargo providencial de la Francia es ser el instrumento de la Providencia en la propagación de las ideas nuevas, así políticas como religiosas y sociales. En los tiempos modernos tres grandes ideas han invadido la Europa: la idea católica, la idea filosófica, la idea revolucionaria.
Pues bien, señores, en esos tres períodos la Francia se ha hecho siempre hombre para propagar esas ideas. Carlo- Magno fué la Francia hecha hombre para propagar la idea católica; Voltaire fue la Francia hecha hombre para propagar la idea filosófica; Napoleón ha sido la Francia hecha hombre para propagar la idea revolucionaria. Del mismo modo creo que el encargo providencial de la Inglaterra es mantener el justo equilibrio moral del mundo, haciendo contraste perpetuo con la Francia. La Francia es lo que el flujo, la Inglaterra lo que el reflujo del mar.
Suponed por un momento el flujo sin el reflujo; los mares se extenderían por todos los continentes: suponed el reflujo sin el flujo, los mares desaparecerían de la tierra. Suponed la Francia sin la Inglaterra; el mundo no se movería sino en medio de convulsiones, cada día tendría una nueva constitución, cada hora una nueva forma de gobierno. Suponed la Inglaterra sin la Francia: el mundo vegetaría siempre bajo la carta del venerable Juan sin Tierra, que es el tipo permanente de todas las constituciones británicas. ¿Qué significa, pues, señores, la coexistencia de estas dos naciones poderosas? Significa, señores, el progreso limitado por la estabilidad, la estabilidad vivificada por el progreso.
Pues bien, señores; de algunos años á esta parte, y apelo á la historia contemporánea y á vuestros recuerdos, esas dos grandes naciones han perdido la memoria de sus hechos, han perdido la memoria de su encargo providencial en el mundo. La Francia, en vez de derramar por la tierra ideas nuevas, predicó por todas partes el statu quo: el statu quo en Francia, el statu quo en España, el statu quo en Italia, el statu quo en el Oriente. Y la Inglaterra en vez de predicar la estabilidad, predicó en todas partes las revueltas: en España, en Portugal, en Francia, en Italia y en la Grecia. ¿Y qué resultó de aquí? Lo que había de resultar forzosamente; que las dos naciones, representando un papel que no había sido el suyo nunca, le han representado pésimamente. La Francia quiso convertirse de diablo en predicador: la Inglaterra de predicador en diablo.
Esta es, señores, la historia contemporánea; pero hablando solamente de la Inglaterra, porque es de la que me propongo hablar muy brevemente, diré que yo pido al cielo, señores, que no vengan sobre ella, como han venido sobre la Francia, las catástrofes que ha merecido por sus errores; porque nada es comparable al error de la Inglaterra de apoyar en todas partes los partidos revolucionarios. ¡Desgraciada! ¿No sabe que el día del peligro esos partidos con más instinto que ella la habrán de volver las espaldas? ¿No ha sucedido esto ya? Y ha debido suceder, señores, porque todos los revolucionarios del mundo saben que cuando las revoluciones van de veras, que cuando las nubes se agrupan, que cuando los horizontes se oscurecen, que cuando las olas suben á lo alto, el navío de la revolución no tiene más piloto que la Francia.
Señores, esta fue la política seguida por la Inglaterra, ó por mejor decir, por su gobierno y sus agentes durante la última época. Yo he dicho, y repito, que no quiero tratar esta cuestión; me mueven á ello grandes consideraciones. Primera: la consideración del bien público, porque debo declarar aquí solemnemente que yo quiero la alianza más íntima, la unión más completa entre la nación española y la nación inglesa, á quien admiro y respeto como la nación quizá más libre, más fuerte y más digna de serlo en la tierra. No quisiera, pues, con mis palabras exacerbar esta cuestión, y no quisiera tampoco perjudicar ó embarazar ulteriores declaraciones. Hay otra consideración que me mueve á no hablar más de este asunto. Para hablar de él tendría que hacerlo de un hombre de quien fui amigo, más amigo que el señor Cortina; pero yo no puedo ayudarle hasta el punto que el Sr. Cortina le ayudaba; la honra no me permite más ayuda que el silencio.
El Sr. Cortina al tratar esta cuestión, permítame que se lo diga con franqueza, tuvo una especie de vahído, y se le olvidó quién era, dónde estaba y quiénes somos. S. S. creyó que era un abogado, y no era un abogado, que era un orador del Parlamento. S. S. creyó que hablaba ante jueces, y hablaba ante diputados. S. S. creyó que hablaba en un tribunal, y hablaba en una asamblea deliberante; creyó que hablaba de un pleito, y hablaba de un asunto político, grande, nacional, que si pleito era, era pleito entre dos naciones. Ahora bien, señores; ¿debe doler profundamente al Sr. Cortina haber sido el abogado de la parte contraria á la nación española? ¡Y qué, señores! ¿ es eso patriotismo por ventura?¿Es eso ser patriota? ¡Ah! no. ¿Sabéis lo que es ser patriota? Ser patriota, señores, es amar, es aborrecer, es sentir como ama, como aborrece nuestra patria.
Dije, señores, que pasaría muy de ligero por esta cuestión, y ya he pasado.
El Sr. SECRETARIO Lafuente Alcántara: Pasadas las horas de reglamento, se pregunta al Congreso si se prorroga la sesión. (Muchas voces: Sí, sí.) Se acordó afirmativamente.
El Sr. Marqués de VALDEGAMÁS: Pero, señores, ni las circunstancias interiores que eran tan graves, ni las circunstancias exteriores que eran tan complicadas y peligrosas, son bastantes para disminuir la oposición en los señores que se sientan en aquellos bancos. ¡Y la libertad! nos dicen. ¡Pues qué! la libertad, ¿no es sobre todo? Y la libertad, á lo menos la individual, ¿no ha sido sacrificada? ¡La libertad, señores! ¿Saben el principio que proclaman y el nombre que pronuncian los que pronuncian esa palabra sagrada? ¿Saben los tiempos en que viven? ¿No ha llegado hasta nosotros, señores, el ruido de las últimas catástrofes? ¡Qué! ¿ no saben á esta hora que la libertad acabó? Pues qué, ¿no han asistido como he asistido yo con los ojos de mi espíritu á su dolorosa pasión? Pues qué, señores, ¿no la habéis visto vejada, escarnecida, herida alevemente por todos los demagogos del mundo? ¿ No la habéis visto llevar su angustia por las montañas de la Suiza, por las orillas del Sena, por las riberas del Rhin y del Danubio, por la» márgenes del Tíber? ¿No la habéis visto subir al Quirinal, que ha sido su calvario?
Señores, tremenda es la palabra; pero no debemos retraernos de pronunciar palabras tremendas si dicen la verdad, y yo estoy resuelto á decirla. ¡La libertad acabó! No rematará, señores, ni al tercer día, ni al tercer año, ni al tercer siglo quizá. ¿Os gusta, señores, la tiranía que sufrimos? De poco os asustáis; veréis cosas mayores. Y aquí os ruego, señores, que guardéis en vuestra memoria mis palabras, porque lo que voy á decir, los sucesos que voy á anunciar en un porvenir más próximo ó más lejano, pero muy lejano nunca, se han de cumplir á la letra.
El fundamento, señores, de todos vuestros errores (dirigiéndose á los bancos de la izquierda) consiste en no saber cuál es la dirección de la civilización y del mundo. Vosotros creéis que la civilización y el mundo van, cuando la civilización y el mundo vuelven. El mundo, señores, camina con pasos rapidísimos á la constitución de un despotismo el más gigantesco y asolador de que hay memoria en los hombres. A esto camina la civilización, y á esto camina el mundo. Para anunciar estas cosas no necesito ser profeta. Me basta considerar la combinación pavorosa de los acontecimientos humanos desde su único punto de vista verdadero, desde las alturas católicas.
Señores, no hay más que dos represiones posibles, una interior y otra exterior; la religiosa y la política. Estas son de tal naturaleza, que cuando el termómetro religioso está subido, el termómetro de la represión política está bajo; y cuando el termómetro religioso está bajo, el termómetro político, la represión política, la tiranía está alta. Esta es una ley de la humanidad, una ley de la historia. Y si no, señores, ved lo que era el mundo, ved lo que era la sociedad que cae al otro lado de la Cruz, decid lo que era cuando no había represión interior, cuando no había represión religiosa. Entonces aquella era una sociedad de tiranías y de esclavos. Citadme un solo pueblo donde no haya esclavos y donde no haya tiranía. Este es un hecho incontrovertible, este es un hecho incontrovertido, este es un hecho evidente. La libertad, la libertad verdadera, la libertad de todos y para todos no vino al mundo sino con el Salvador del mundo. Este también es un hecho incontrovertido , es un hecho confesado hasta por los mismos socialistas que lo confiesan. Los socialistas llaman á Jesús un hombre divino, y los socialistas hacen más, se llaman sus continuadores. ¡Sus continuadores, Santo Dios! ¿Ellos, los hombres de sangre y de venganzas, continuadores del que no vivió sino para hacer bien; del que no abrió la boca sino para bendecir; del que no hizo prodigios sino para librar á los pecadores del pecado, á los muertos de la muerte; el que en el espacio de tres años hizo la revolución más grande que han presenciado los siglos, y la llevó á cabo sin haber derramado más sangre que la suya?
Señores, os ruego me prestéis atención; voy á poneros en presencia del paralelismo más maravilloso que ofrece la historia. Vosotros habéis visto que en el mundo antiguo, cuando la represión religiosa no podía bajar más porque no existia ninguna, la represión política subió hasta no poder más, porque subió hasta la tiranía. Pues bien, con Jesucristo, donde nace la represión religiosa, desaparece completamente la represión política. Es esto tan cierto, que habiendo fundado Jesucristo una sociedad con sus discípulos, fue aquella la única sociedad que ha existido sin gobierno. Entre Jesús y sus discípulos no había más gobierno que el amor del Maestro á los discípulos y el amor de los discípulos al Maestro. Es decir, que cuando la represión era completa, la libertad era absoluta.
Sigamos el paralelismo. Llegan los tiempos apostólicos, que los extenderé, porque así conviene ahora á mi propósito, desde los tiempos apostólicos propiamente dichos, hasta la subida del cristianismo al Capitolio en tiempo de Constantino el Grande. En este tiempo, señores, la religión cristiana, es decir la represión religiosa interior, estaba en todo su apogeo; pero aunque estaba en todo su apogeo, sucedió lo que sucede en todas las sociedades compuestas de hombres, que comenzó á desarrollarse un germen, nada más que un germen de licencia y de libertad religiosa. Pues bien, señores, observad el paralelismo: á este principio de descenso en el termómetro religioso corresponde un principio de subida en el termómetro político. No hay todavía gobierno, no es necesario el gobierno, pero es necesario ya un germen de gobierno. Así en la sociedad cristiana entonces no había de hecho verdaderos magistrados, sino jueces árbitros y amigables componedores, que son el embrión del gobierno. Realmente no había más que eso; los cristianos de los tiempos apostólicos no tuvieron pleitos, no iban á los tribunales, decidían sus contiendas por medio de árbitros. Obsérvese, señores, cómo con la corrupción va creciendo el gobierno.
Llegan los tiempos feudales, y en estos la religión se encuentra todavía en su apogeo, pero hasta cierto punto viciada por las pasiones humanas. ¿Qué es lo que sucede, señores, en este tiempo en el mundo político? Que ya es necesario un gobierno real y efectivo, pero que basta el más débil de todos, y así se establece la monarquía feudal, la más débil de las monarquías.
Seguid observando el paralelismo. Llega, señores, el siglo XVI. En este siglo, con la gran reforma luterana, con ese grande escándalo político y social, tanto como religioso, con ese acto de emancipación intelectual y moral de los pueblos, coinciden las siguientes instituciones. En primer lugar, en el instante, las monarquías, de feudales, se hacen absolutas. Vosotros creeréis, señores, que más que absoluta no puede ser una monarquía: un gobierno, ¿qué puede ser más que absoluto? Pero era necesario, señores, que el termómetro de la represión política subiera más, porque el termómetro religioso seguía bajando; y con efecto subió más. ¿Y qué nueva institución se creó? La de los ejércitos permanentes. ¿Y sabéis, señores, lo que son ejércitos permanentes? Para saberlo, basta saber lo que es un soldado: un soldado es un esclavo con uniforme. Así, pues, veis que en el momento en que la represión religiosa baja, la represión política sube al absolutismo, y pasa más allá. No bastaba á los gobiernos ser absolutos; pidieron y obtuvieron el privilegio de ser absolutos y tener un millón de brazos.
A pesar de esto, señores, era necesario que el termómetro político subiera más, porque el termómetro religioso seguía bajando; y subió más. ¿Qué nueva institución, señores, se creó entonces? Los gobiernos dijeron: tenemos un millón de brazos y no nos bastan; necesitamos más, necesitamos un millón de ojos; y tuvieron la policía, y con la policía un millón de ojos. A pesar de esto, señores, todavía el termómetro político y la represión política debían subir, porque á pesar de todo, el termómetro religioso seguía bajando; y subieron.
A los gobiernos, señores, no les bastó tener un millón de brazos; no les bastó tener un millón de ojos; quisieron tener un millón de oídos, y los tuvieron con la centralización administrativa, por la cual vienen á parar al gobierno todas las reclamaciones y todas las quejas.
Y bien, señores; no bastaba esto, porque el termómetro religioso siguió bajando, y era necesario que el termómetro político subiera más. ¡Señores, hasta dónde! Pues subió más.
Los gobiernos dijeron: no me bastan para reprimir, un millón de brazos; no me bastan para reprimir, un millón de ojos; no me bastan para reprimir, un millón de oídos; necesitamos más : necesitamos tener el privilegio de hallarnos á un mismo tiempo en todas partes. Y lo tuvieron; y se inventó el telégrafo.
Señores, tal era el estado de la Europa y del mundo cuando el primer estallido de la última revolución vino á anunciarnos, á anunciarnos á todos, que no había bastante despotismo en el mundo; porque el termómetro religioso estaba por bajo de cero. Ahora bien, señores, una de dos...
Yo he prometido, y cumpliré mi palabra, hablar hoy con toda franqueza.
Pues bien, una de dos : ó la reacción religiosa viene ó no : si hay reacción religiosa, ya veréis, señores, como subiendo el termómetro religioso comienza á bajar natural, espontáneamente, sin esfuerzo ninguno de los pueblos, ni de los gobiernos, ni de los hombres, el termómetro político, hasta señalar el día templado de la libertad de los pueblos : pero si por el contrario, señores, y esto es grave (no hay la costumbre de llamar la atención de las asambleas deliberantes sobre las cuestiones hacia donde yo la he llamado hoy; pero la gravedad de los acontecimientos del mundo me dispensa, y yo creo que vuestra benevolencia sabrá también dispensarme); pues bien, señores, yo digo que si el termómetro religioso continúa bajando, no sé a donde hemos de parar. Yo, señores, no lo sé, y tiemblo cuando lo pienso. Contemplad las analogías que he puesto á vuestros ojos; y si cuando la represión religiosa estaba en su apogeo no era necesario ni gobierno ninguno siquiera, cuando la represión religiosa no exista, no habrá bastante con ningún género de gobierno, todos los despotismos serán pocos.
Señores, esto es poner el dedo en la llaga, esta es la cuestión de España, la cuestión de Europa, la cuestión de la humanidad, la cuestión del mundo.
Considerad una cosa, señores. En el mundo antiguo la tiranía fue feroz y asoladora, y sin embargo esa tiranía estaba limitada físicamente, porque todos los Estados eran pequeños, y porque las relaciones internacionales eran imposibles de todo punto; por consiguiente en la antigüedad no pudo haber tiranías en grande escala, sino una sola, la de Roma. Pero ahora, señores, ¡cuán mudadas están las cosas! Señores, las vías están preparadas para un tirano gigantesco, colosal, universal, inmenso; todo está preparado para ello : señores, miradlo bien; ya no hay resistencias ni físicas ni morales : no hay resistencias físicas, porque con los barcos de vapor y los caminos de hierro no hay fronteras; no hay resistencias físicas, porque con el telégrafo eléctrico no hay distancias; y no hay resistencias morales, porque todos los ánimos están divididos y todos los patriotismos están muertos. Decidme, pues, si tengo ó no razón cuando me preocupo por el porvenir próximo del mundo: decidme si al tratar de esta cuestión no trato de la cuestión verdadera.
Una sola cosa puede evitar la catástrofe, una y nada más: eso no se evita con dar más libertad, más garantías, nuevas constituciones; eso se evita procurando todos, hasta donde nuestras fuerzas alcancen, provocar una reacción saludable, religiosa. Ahora bien, señores: ¿es posible esta reacción? Posible lo es: pero ¿es probable? Señores, aquí hablo con la más profunda tristeza: no la creo probable. Yo he visto, señores, y conocido á muchos individuos que salieron de la fe y han vuelto á ella: por desgracia, señores, no he visto jamás á ningún pueblo que haya vuelto á la fe después de haberla perdido.
Si aun me quedara alguna esperanza, la hubieran disipado, señores, los últimos sucesos de Roma : y aquí voy á decir dos palabras sobre esta cuestión, tratada también por el Sr. Cortina.
Señores, los sucesos de Roma no tienen un nombre: ¿cómo los llamaríais, señores? ¿Los llamaríais deplorables? Deplorables, todos los que he citado lo son; esos son mucho más. ¿Los llamaríais horribles? Señores, esos acontecimientos son sobre todo horror.
Había en Roma, ya no le hay, sobre el trono más eminente el varón más justo, el varón más evangélico de la tierra. ¿Qué ha hecho Roma de ese varón evangélico, de ese varón justo? ¿Qué ha hecho esa ciudad en donde han imperado los héroes, los Césares y los pontífices? Ha trocado el trono de los pontífices por el trono de los demagogos. Rebelde á Dios, ha caído bajo la idolatría del puñal. Eso ha hecho. El puñal, señores, el puñal demagógico, el puñal sangriento, ese es el ídolo de Roma. Ese es el ídolo que ha derribado á Pió IX. Ese es el ídolo que pasean por las calles tropas de caribes. ¿Dije caribes? dije mal, que los caribes son feroces, pero los caribes no son ingratos.
Señores, me he propuesto hablar con toda franqueza, y hablaré. Digo que es necesario que el rey de Roma vuelva á Roma, ó que no quede en Roma, aunque pese al Sr. Cortina, piedra sobre piedra.
El mundo católico no puede consentir, y no consentirá en la destrucción virtual del cristianismo por una ciudad sola entregada al frenesí de la locura. La Europa civilizada no puede consentir, y no consentirá que se desplome, señores, la cúpula del edificio de la civilización europea. El mundo, señores, no puede consentir, y no consentirá que en Roma, esa ciudad insensata, se verifique el advenimiento al trono de una nueva y extraña dinastía, la dinastía del crimen. Y no se diga, señores, como dice el Sr. Cortina, como dicen en periódicos y discursos los señores que se sientan en aquellos bancos, que hay dos cuestiones allí, una temporal y otra espiritual, y que la cuestión ha sido entre el rey temporal y su pueblo. Que el pontífice ha sido respetado, que el pontífice existe todavía. Dos palabras sobre esta cuestión, dos palabras, señores, lo explicarán todo.
Sin duda ninguna el poder espiritual es lo principal en el Papa, el temporal es accesorio; pero ese accesorio es necesario : el mundo católico tiene el derecho de exigir que el oráculo infalible de sus dogmas sea libre é independiente : el mundo católico no puede tener una ciencia cierta, como se necesita, de que es independiente y libre, sino cuando es soberano, porque solo el soberano no depende de nadie. Por consiguiente, señores, la cuestión de soberanía, que es una cuestión política en todas partes, es en Roma además una cuestión religiosa; el pueblo que puede ser soberano en todas partes, no puede serlo en Roma; asambleas constituyentes que pueden existir en todas partes, no pueden existir en Roma; en Roma no puede haber más poder constituyente que el poder constituido. Roma, señores, los Estados pontificios, no pertenecen al Estado de Roma, no pertenecen al papa; los Estados pontificios pertenecen al mundo católico; el mundo católico se los ha reconocido al papa para que fuera libre é independiente, y el papa mismo no puede despojarse de esa soberanía, de esa independencia.
Señores, voy á concluir, porque el Congreso está muy cansado y yo lo estoy también. (Varios señores: No, no.) Señores, francamente tengo que declarar aquí, que no puedo extenderme más porque tengo la boca mala, y ha sido un prodigio que yo pueda hablar, pero lo principal que tenía que decir lo he dicho ya.
Después de haber tratado las tres cuestiones exteriores que trató el Sr. Cortina, vuelvo, para concluir, á la interior. Señores , desde el principio del mundo hasta ahora ha sido una cosa discutible si convenía más el sistema de la resistencia ó el sistema de las concesiones, para evitar las revoluciones y los trastornos; pero afortunadamente, señores, esa que ha sido una cuestión desde el primer año de la creación hasta el año 48, en el año de gracia de 48 ya no es cuestión de ninguna especie, porque es cosa resuelta : yo, señores, si me lo permitiera el mal que padezco en la boca, haría aquí una reseña de todos los acontecimientos desde febrero hasta ahora, que prueban estas aserciones; pero me contentaré con recordar dos : el de la Francia, señores : allí la monarquía, que no cedió, fue vencida por la república que apenas tenía fuerza para moverse; y la república que apenas tenía fuerza para moverse, porque resistió, venció al socialismo.
En Roma, que es otro ejemplo que quiero citar, ¿qué ha sucedido? ¿No estaba allí vuestro modelo? Decidme: si vosotros fuerais pintores y quisierais pintar el modelo de un rey, ¿encontraríais otro modelo que no fuera su original Pió IX? Señores, Pió IX quiso ser, como su divino Maestro, magnífico y dadivoso: halló proscriptos en su país, y les tendió la mano y los devolvió á su pátria: había reformistas, señores, y les dio reformas: había liberales, señores, y los hizo libres : cada palabra suya, señores, fue un beneficio : y ahora, señores, decidme, ¿ sus beneficios no igualan, si no exceden, á sus ignominias? Y en vista de esto, señores, ¿el sistema de las concesiones no es una cosa resuelta?
Señores, si aquí se tratara de elegir, de escoger entre la libertad por un lado y la dictadura por otro, aquí no habría disenso ninguno; porque ¿quién, pudiendo abrazarse con la libertad, se hinca de rodillas ante la dictadura? Pero no es esta la cuestión. La libertad no existe de hecho en Europa; los gobiernos constitucionales que la representaban años atrás, no son ya en casi todas partes, señores, sino una armazón de un esqueleto sin vida. Recordad una cosa, recordad á Roma imperial. En la Roma imperial existen todas las instituciones republicanas, existen los omnipotentes dictadores, existen los inviolables tribunos, existen las familias senatorias, existen los eminentes cónsules; todo esto, señores, existe; no falta más que una cosa, y no sobra más que otra cosa: sobra un hombre, y falta la república.
Pues esos son, señores, en casi toda Europa los gobiernos constitucionales; sin pensarlo, sin saberlo el señor Cortina, nos lo demostró el otro día. ¿No nos decía V. S. que prefiere, y con razón, lo que dice la historia á lo que dicen las teorías? A la historia apelo. ¿Qué son, señor Cortina, esos gobiernos con sus mayorías legítimas, vencidas siempre por las minorías turbulentas, con sus ministros responsables que de nada responden, con sus reyes inviolables siempre violados? Así, señores, la cuestión, como he dicho antes, no está entre la libertad y la dictadura; si estuviera entre la libertad y la dictadura, yo votaría por la libertad, como todos los que nos sentamos aquí. Pero la cuestión es esta, y concluyo : se trata de escoger entre la dictadura de la insurrección y la dictadura del Gobierno ; puesto en este caso yo escojo la dictadura del Gobierno, como menos pesada y menos afrentosa : se trata de escoger entre la dictadura que viene de abajo y la dictadura que viene de arriba; yo escojo lo que viene de arriba, porque viene de regiones más limpias y serenas: se trata de escoger, por último, entre la dictadura del puñal y la dictadura del sable; yo escojo la dictadura del sable, porque es más noble. Señores, al votar nos dividiremos en esta cuestión, y dividiéndonos seremos consecuentes con nosotros mismos. Vosotros, señores, votaréis, como siempre, lo más popular; nosotros, señores, como siempre, votaremos lo más saludable.
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