miércoles, 30 de mayo de 2012

MAGISTÉRIO ORDINÁRIO, O GRANDE DESCONHECIDO


ARNALDO XAVIER DA SILVEIRA

TEXTO

 http://www.arnaldoxavierdasilveira.com/_/I_-_O_Magisterio_ordinario_pode_ensinar_por_atos_e_gestos_%28port%29.html



   I - O MAGISTÉRIO ORDINÁRIO PODE ENSINAR POR ATOS E GESTOS (PORT)
 PAGINA INICIAL GRAVE LAPSO TEOLÓGICO DE MONS OCARIZ (PORT)
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 MSGR OCARIZ'S SERIOUS THEOLOGICAL LAPSUS (ENGL) 
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GRAVE LAPSUS TEOLOGICO DI MONS OCÁRIZ (ITAL) 
TRADICÃO DO 1.º MILÊNIO OPOSTA À DO 2.º ? (PORT) 
ATOS, GESTOS, ATITUDES E OMISSÕES PODEM CARACTERIZAR O HEREGE (PORT)
 O LIVRO DE 1970 SOBRE A MISSA NOVA  (PORT)
 UM DEUS A BILHÕES DE ANOS DE NÓS   (PORT)


MAGISTÉRIO ORDINÁRIO, O GRANDE DESCONHECIDO


I – O Magistério ordinário pode ensinar por atos e gestos


O Magistério ordinário da Igreja, exercido pelo Papa e pelos Bispos, amparado pelas promessas de Nosso Senhor, efetiva-se não apenas por palavras escritas ou orais, mas também por atos e fatos,  de  natureza  extremamente  variada  e  rica.




1] Com o presente artigo dou início à publicação de alguns estudos sobre o Magistério ordinário da Igreja. Não é minha intenção cobrir a matéria de modo amplo e completo, como seria um tratado. Considero que o Magistério ordinário é hoje o grande desconhecido, a respeito do qual autores de renome têm defendido teses surpreendentes, que se afastam totalmente da regra da fé. No panorama geral dos debates teológicos de nossos dias, sobretudo nas vésperas do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, espero que, pela intercessão de Nossa Senhora, estas notas contribuam para a elucidação de alguns aspectos importantes e pouco conhecidos da verdadeira doutrina da Ecclesia docens.

2] Inicio esta série de trabalhos tratando de um ponto delicado. É que se introduziu de há muito nos meios católicos a ideia equivocada de que todo e qualquer ensinamento do Papa ou dos Bispos só tem força magisterial se se fizer por palavras, sejam estas escritas ou orais. Nessa concepção, um ato simbólico do Papa, ou uma cerimônia na igreja de São Pedro, ou uma prática litúrgica difundida em todo o orbe mas não estabelecida por documento escrito ou declaração explícita, não teria força de ensinamento do Magistério ordinário.

3] Após haver fixado o tema aqui estudado (itens 1 e 2 retro), divido a matéria em três capítulos: no primeiro, “I – Um estudo da década de 1960 sobre a heresia por atos e gestos” (itens 4 a 7 adiante), indico antigo trabalho meu sobre a heresia expressa sem palavras, apenas por fatos, no qual entretanto não abordei a questão de professar a fé e de ensinar dessa forma; no segundo, “II – Da profissão de fé não por palavras, mas por atos e fatos” (itens 8 a 18), aduzo as razões e autoridades que explicam que sem palavras é possível manifestar o pensamento, e portanto a fé; no terceiro, “III – Como se exerce o Magistério ordinário da Igreja” (itens 19 a 29), mostram que a exteriorização de ideias por atos e gestos pode constituir autêntico magistério.



I – Um estudo da década de 1960 sobre a heresia por atos e gestos

4] Em Catolicismo, mensário de cultura católica da diocese de Campos, RJ, publiquei em dezembro de 1967 um breve artigo sob o título “Atos, gestos, atitudes e omissões podem caracterizar o herege” (transcrito neste site em outra página).

5] Aquele trabalho baseou-se nas Sagradas Escrituras, em ensinamentos do Magistério, nas leis canônicas, em grandes moralistas e canonistas da neo-escolástica. Ali se mostrou que “um simples sinal de cabeça, um gesto de mão ou uma expressão de fisionomia podem indicar, de maneira inequívoca, um pensamento. Num terreno mais vasto, uma tomada de posição política, o silêncio de uma autoridade, ou uma atitude pública podem expressar, conforme as circunstâncias, que quem assim procede tem tais ou tais ideias” (p. 4, 3ª coluna).

6] A preocupação principal, naquela exposição, era procurar tirar a máscara de modernistas disfarçados de católicos, consoante expôs São Paio X na Encíclica Pascendi Dominici Gregis: “os fautores de erros já não devem ser procurados entre inimigos declarados, mas (...) se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos. Aludimos (...) a muitos membros do laicato católico e (...) a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja (...), se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo” (tradução da ed. Vozes, 1948, p.4).

7] Com esse objetivo de denunciar os modernistas disfarçados, o artigo tratou principalmente da possibilidade de manifestação de heresia por atos, gestos etc. Estudou as graves e delicadas questões da heresia interna e externa, da pertinácia no erro, das admoestações ao herege exigidas por São Paulo, e tantas outras conexas. Mas não aprofundou o outro lado da questão, que é a manifestação da fé por atos, gestos etc.



II – Da profissão de fé não por palavras, mas por atos e fatos

8] Embora a matéria, tanto na teoria como na prática, seja em geral pouco versada nos meios católicos, é evidente que, no caso, vale para a manifestação da fé o que vale para a manifestação da heresia. Se o erro pode exteriorizar-se por atos, gestos, atitudes, omissões, é patente que a verdade e a fé podem também exprimir-se de modo inconfundível por atos, gestos, atitudes, omissões, silêncios, fatos, símbolos, sinais, cerimônias, e tantos outros recursos que a condição humana nos dá para manifestar externamente, sem palavras escritas ou orais, o que pensamos internamente.

9] Seria talvez supérfluo aduzir textos da Sagrada Escritura, da História da Igreja, de moralistas e canonistas para dar suporte a essa afirmação. Como, no entanto, poderia haver resistências à tese, e como realmente as há na literatura católica recente, permitimo-nos expor melhor algumas razões teológicas que a fundamentam.


II.a – Nos Evangelhos e na História da Igreja

10] Na pregação de Nosso Senhor são tantos os exemplos de ensinamentos através de atos e fatos, sem o emprego de palavras, que bastaria passar os olhos nos Santos Evangelhos para dar-se conta da solidez da tese aqui exposta. Ele repreendeu e ao mesmo tempo perdoou a São Pedro com um olhar; calou-se diante de Pilatos, com um silêncio cheio de conceitos que inspiraram e ainda inspiram séculos de homilética; também pelo silêncio, aceitou os bálsamos com que Madalena o ungia, provocando mesmo a reação de Judas; e tanta coisa mais.

11] É de força singular o exemplo do mártires que se negaram a sacrificar aos deuses.

12] Na Sagrada Liturgia são abundantes, e mesmo essenciais ao culto divino, os gestos e atos densos de doutrina. Basta aqui aludir às genuflexões, às inclinações do busto, aos atos de incensar.

13] O mesmo se diga quanto à vida dos santos. São Francisco de Assis chamou certa vez seus discípulos mais próximos, anunciando-lhes uma pregação. Em fila, saíram pela cidade, percorreram uma distância não pequena e voltaram diretamente para o convento. Seus discípulos perguntaram onde estava a anunciada pregação, ao que São Francisco respondeu que a simples passagem deles pela cidade era verdadeira pregação.


II.b – Da profissão de fé por “fatos” em Santo Tomás de Aquino

14] Sobre as cerimônias da lei velha. – Santo Tomás, perguntando se depois da Paixão de Cristo os ritos da lei antiga podem ser observados sem pecado mortal, escreve que “todas aquelas cerimônias são profissões de fé, na qual consiste o culto interior de Deus. Assim, o homem pode professar a fé interior por meio de fatos, como de palavras: e em ambas as profissões, se o homem professa algo de falso, peca mortalmente” (Sum. Th., I-II, q. 103, a. 4, co.). – E conclui que “circuncidar-se, e observar as demais cerimônias [da lei antiga] é pecado mortal” (ibidem, sed c.)

15] Sobre o falso culto do Deus verdadeiro. – Perguntando se pode haver algo de pernicioso no culto do verdadeiro Deus, Santo Tomás ensina: “Dá-se a mentira quando alguém exprime exteriormente o que é contrário à verdade. Assim como essa expressão pode fazer-se pela palavra, assim também pode fazer-se por um fato. Nessa expressão pelo fato, consiste o culto exterior da religião. Portanto, se pelo culto exterior se exprimir algo de falso, esse culto será pernicioso” (Sum. Th., II-II, q. 93, a.1, co.).

16] Sobre o vício da mentira, Santo Tomás observa que “aquele que, por acenos, quisesse exprimir algo de falso, não deixaria de estar mentindo” (Sum. Th., II-II, q. 110, a. 1, ad 2).

17] Sobre o martírio, Santo Tomás ensina que “para a verdadeira fé não basta crer interiormente, mas é também necessário professá-la exteriormente. E isto se faz não só por palavras de confissão da fé, mas também por fatos pelos quais alguém revela ter fé”. E logo a seguir acrescenta: “as obras de todas as virtudes, segundo se reportam a Deus, são confissões de fé, pela qual sabemos que Deus as requer de nós, e por elas nos remunera. E assim podem ser causa do martírio” (Sum. Th., II-II, q. 124, q. 5, co.). ― Mais adiante, diz ele: “sofre como cristão não só quem sofre pela confissão da fé que se faz por palavras, mas também quem sofre por fazer qualquer boa obra, ou para evitar qualquer pecado por amor a Cristo; e tudo isso é professar a fé” (ibidem, ad 1).

18] Note-se que Santo Tomás opõe sempre a confissão de fé que se faz por palavras escritas ou orais, à que se faz por “fatos”. Em latim, facta é o particípio passado substantivado do verbo facio - facere, fazer. Assim, os “fatos” são aquilo que se faz, que foi feito, e não são, nesse contexto, os acontecimentos estranhos à ação humana, como terremotos e tempestades. – Portanto, os “fatos” de Santo Tomás correspondem ao que indicamos como atos, gestos etc.



III – Como se exerce o Magistério ordinário da Igreja

19] Tanto em doutrina quanto na prática quotidiana dos fieis, é relativamente bem conhecida a natureza do Magistério extraordinário. Sua conceituação, aparentemente muito singela, tornou-se corrente e inquestionada entre os verdadeiros católicos, com a definição do Concílio Vaticano I. A proclamação ex cathedra de uma verdade de fé ou moral, pelo Papa no uso da plenitude de seus poderes apostólicos, de forma solene quanto à vontade de definir, dirigida a toda a Igreja, válida por si mesma independente da aprovação de quem quer que seja, é conhecida como infalível pelos católicos, mesmo pelos de formação simples ou mediana. A Imaculada Conceição é uma das devoções mais difundidas. Todos sabem que Nossa Senhora foi elevada aos Céus em corpo e alma. Também se consolidou a convicção de que um concílio ecumênico pode definir dogmas, nos quais todos devem crer. Mutatis mutandis, aplicam-se ao concílio as mesmas condições da infalibilidade de uma definição ex cathedra do Papa, como as fixou o Vaticano I.

20] O ensinamento do Magistério Extraordinário é um ato singular, que corta a discussão sobre determinada doutrina com uma solução definitiva. Pode ser comparado ao raio, que concentra toda a sua luminosidade num determinado momento e numa única descarga. Pode ser comparado a uma intervenção cirúrgica. O Magistério Ordinário, pelo contrario, não concentra sua luz num único feixe, mas sua luminosidade se espalha no tempo e no espaço. Equipara-se a um tratamento clínico, mais do que a uma ação cirúrgica.

21] A definição solene do Concílio Vaticano I sobre a infalibilidade do Magistério ordinário tem o seguinte teor: “Ademais, deve-se crer com fé divina e católica tudo que está contido na Palavra de Deus escrita ou transmitida, e que a Igreja, seja por juízo solene, seja por seu Magistério ordinário e universal, propõe a crer como divinamente revelado”. ― O Vaticano I, ao proclamar a infalibilidade do Papa e a do Magistério ordinário universal, estudava as condições em que esse Magistério ordinário é infalível, mas não chegou a defini-las, pois foi interrompido pela guerra franco-prussiana de 1870.

22] As promessas solenes de Nosso Senhor – “ide e ensinai a todas as gentes”, “estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”, “quem vos ouve a mim ouve” – foram feitas apenas aos apóstolos e seus sucessores, o Papa e os Bispos, que constituem a Sagrada Hierarquia. Valem, de modo eminente, para o Magistério ordinário, que ensina no dia-a-dia, na vida comum que se estende dos mais altos graus da Hierarquia aos bispos dos rincões mais afastados da Terra. Valem para o discurso solene do Sumo Pontífice numa comemoração na igreja de São Pedro, para as encíclicas, para os decretos e condenações mais graves das Congregações romanas, assim como para as cartas pastorais e as pregações dos Bispos por todo o orbe.


III.a – Aprofundando a noção de ensinar

23] Recentemente introduziu-se nos meios católicos uma confusão grave entre ensinar e “dialogar”. O ensino é a transmissão de uma verdade como tal, isto é, não se restringe à proposição vaga e indefinida de uma idéia que possa ser tida como simples noção genérica, que o ouvinte pode aceitar ou não. Manifestamente, o ensino pode e deve atribuir graus diferentes de certeza e de impositividade às verdades que são ensinadas. Algumas envolvem a infalibilidade, e portanto não é possível negá-las. Outras não implicam a autoridade da Igreja nesse grau extremo, mas se apresentam como verdades que seria temerário negar. Outras ainda são transmitidas com grau menor de certeza ou de probabilidade, constituindo, por exemplo, deduções dos dogmas e dos princípios maiores, que entretanto a Igreja ensina mas não chega a atribuir-lhes uma segurança doutrinária maior. Tudo isso, entretanto, é ensinamento, e não é mero dialogo, não é apenas uma proposição de temas para mera troca de ideias.

24] Impõe-se aqui um esclarecimento sobre as omissões e os silêncios. Umas e outros contêm uma doutrina ou ensinamento quando há a obrigação de agir ou de falar, e no entanto o mestre não age nem fala. Se a obrigação de agir ou falar for de ordem moral, a omissão e o silêncio estarão exteriorizando um mal, um erro, uma heresia. – Se, ao contrário, se tratar de uma imposição injusta de uma autoridade, de um ambiente social, de quem quer que esteja fora da boa regra, então a omissão ou o silêncio representarão uma resistência à imposição injusta, caracterizando a exteriorização da retidão moral, ou da fé, podendo então constituir um ensinamento. É o caso do mártir que se recusa a incensar o ídolo ou a professar a heresia.

25] Devemos distinguir o que é uma simples manifestação de ideia por um Bispo, por exemplo, daquilo que é um ato de ensino. Se ele, em seus aposentos, se inclina reverentemente perante uma imagem de Jesus crucificado, temos aí apenas um ato de piedade particular, em que ele manifesta sua devoção sem nenhum traço de ensino. Se, contudo, ele pratica esse mesmo ato perante uma assembléia de fieis, de público, de modo que todos vejam, é patente que, então, ele está transmitindo uma doutrina, um ensinamento, com força maior ou menor conforme as circunstâncias, mas como se exprimisse por palavras aquilo que o gesto exterioriza.


III.b – O ensinamento do Magistério ordinário por atos e gestos

26] Do exposto, se entende que o Magistério ordinário da Igreja, exercido pelo Papa e pelos Bispos, amparado pelas promessas de Nosso Senhor, se efetiva não apenas por palavras escritas ou orais, mas também por atos e fatos, de natureza extremamente variada e rica. É o que se torna claro, por exemplo, sempre que um membro da Hierarquia, de público, em circunstâncias que manifestam seu propósito de transmitir ensinamentos, pratica gestos, celebra cerimônias, recorre a símbolos etc., que trazem em seu bojo verdadeiros atos de magistério.

27] Citando Aristóteles, Santo Tomás diz que a prudência está no príncipe “ao modo de uma arte arquitetônica”, como virtude reitora do ato de governar, a qual aplica os princípios especulativos ao caso concreto  (Sum. Th., II, q.47, art. 12, co.). ─ Há hoje pastores de boa doutrina que, por falta de prudência, desdizem, por atos e gestos, o que em teoria ensinam. ─ Observando, certa ocasião, que determinado hierarca falava para a direita e agia para a esquerda, o Pe. Congar concluía que o que contam são os fatos, não as palavras. ─ Dizemos que essa conclusão vale no terreno prático, como vitória efetiva da orientação esquerdista; vale no terreno moral, porque facilmente o mau exemplo do pastor prevalece sobre sua fala correta; e vale também no terreno magisterial, porque, entre ensinamentos contraditórios, o dos fatos tende a marcar mais profundamente o espírito dos fieis.

28] É em grande parte esse Magistério ordinário exercido por atos, gestos, cerimônias etc., que, em tempos de normalidade e fervor, leva as crianças a saberem o que não sabem os padres austríacos do chamado Apelo à desobediência, próceres do casamento dos sacerdotes, da ordenação de mulheres e de tantos desmandos mais. Entendemos que isso é de suma importância em relação ao que afirma Bento XVI em sermão da quinta-feira santa, 5 de abril de 2012: “Os elementos fundamentais da fé, que no passado toda criança sabia, são cada vez menos conhecidos” (“Gli elementi fondamentali della fede, che in passato ogni bambino conosceva, sono sempre meno noti”). ― Veja-se, com particular atenção, que nessa frase lapidar, que tem força e porte para orientar a Pastoral e mesmo a Teologia dogmática em todo o futuro da Igreja, Sua Santidade usou o tempo pretérito: “no passado qualquer criança sabia”. – Nos estudos amplos sobre o Concílio Vaticano II, que se estão desenvolvendo de modo extraordinário nestas vésperas da comemoração de seu cinquentenário, essa frase histórica de Bento XVI deve ser um marco básico para todos os teólogos verdadeiramente católicos.

29] Uma observação final. O Papa e os Bispos não proclamam a verdade só por seus escritos e pregações pessoais, mas também pela aprovação expressa ou tácita que dão ao que é ensinado sob sua autoridade. Desenvolveremos esse tema em futuro estudo desta nossa série sobre o “Magistério Ordinário, o Grande Desconhecido”, para a qual invocamos, como sempre, a benção de Maria Santíssima.

martes, 22 de mayo de 2012

Florida 500 años después


TRIBUNA

Florida 500 años después

Resulta sorprendente el desinterés español por reivindicar el importante legado hispano en EE UU

La historia de España en las relaciones con Estados Unidos está repleta de acercamientos y alejamientos incomprensibles. Unos lazos marcados en exceso por el desconocimiento mutuo, a pesar de que la profunda raíz hispana de Estados Unidos debería facilitar una vinculación privilegiada. Tras el ostensible desapego entre Madrid y Washington durante los años de la presidencia de José Luis Rodríguez Zapatero, ahora toca una etapa de aproximación y una oportunidad de cimentar una sólida y duradera relación que evite nuevos sobresaltos.
La ocasión no es otra que la conmemoración del V Centenario de Florida en 2013. Con tal motivo, el gobernador de Florida, el republicano Rick Scott, está de visita en Madrid hasta el jueves 24 de mayo con el afán de recordar a las autoridades, empresas y opinión pública españolas el realce de tal celebración. Por su alcance histórico, cultural y comercial, el gobernador Scott pretende que el V Centenario de Florida sea una gran conmemoración. Desea recordar que Estados Unidos nació en Florida y que este Estado sigue siendo clave como centro del triángulo comercial y cultural entre Europa, Estados Unidos y Latinoamérica.
Además, una quinta parte del electorado actual de Florida es de origen hispano, con lo que está fuera de toda duda su influencia política en todo el país y, sobre todo, su peso cada cuatro años cuando se elije al presidente de Estados Unidos.
La Corona española invirtió enormes recursos en la exploración de Florida y del sureste y suroeste de Norteamérica
La oportunidad para España de aprovechar lo más posible este acontecimiento se justifica plenamente si repasamos la historia y retrocedemos cinco siglos para entender cómo con la fundación de Florida en 1513 comenzó la exploración del sureste y suroeste del territorio de Norteamérica por los exploradores españoles y, en definitiva, se gestó el principio del nacimiento de Estados Unidos.
El castellano Juan Ponce de León, primer gobernador de Puerto Rico, bautizó como Florida un territorio inhóspito del que se desconocía entonces si era una simple isla o la península de un enorme continente. Ponce divisó una costa repleta de flores el domingo de la Pascua Florida de 1513 y de ahí surgió el nombre de La Florida. Llegó a un punto cercano a lo que luego sería Puerto Cañaveral. En los mapas españoles del siglo XVI ya aparece la palabra Canaveral (sin eñe) y resulta llamativo el paralelismo de lo que entonces representó la Era de la Exploración con lo que 450 años después supuso ese mismo Cañaveral para la historia de la humanidad con el comienzo de la exploración espacial y la llegada del hombre a la Luna.
Ponce de León quedó asociado al mito de la búsqueda de la fuente de la eterna juventud. Mito que surgió muchos decenios después. Sin embargo, su principal contribución, además de la fundación de La Florida, fue encontrar la corriente del Golfo; una corriente que impulsaba a los barcos con más fuerza que el viento y que cambió radicalmente el flujo de los galeones entre España y América. La Corona española invirtió enormes recursos en la exploración de Florida y del sureste y suroeste de Norteamérica hasta que en 1565 se logró la fundación de San Agustín, la primera ciudad de Estados Unidos por el gran marino asturiano Pedro Menéndez de Avilés. Hasta 1821, con escasos intervalos, la bandera española ondearía poderosa en Florida.
En un país con más hispanohablantes que en España parece obligado que se consoliden unos lazos basados en 500 años de historia común
Sorprende el enorme contraste entre esa compacta huella hispana presente a lo largo de Estados Unidos con la apatía entre ambas naciones. No hay ninguna duda histórica sobre la trascendencia de Florida en el nacimiento de Estados Unidos o de la profunda estela que dejaron los exploradores españoles en todo el país. Cierto es que no ha habido —ni apenas habrá— ningún interés en la parte anglo en destacar esa influencia, pero lo que resulta aún más sorprendente es el desinterés español por reivindicar esa parte de la historia o defender con más determinación la importancia del legado hispano.
Florida, con casi 22 millones de habitantes, recibe cada año 80 millones de turistas y con una fuerte campaña de marketing el gobernador Scott pretende que otros 10 millones de visitantes vengan atraídos no por los parques de Orlando, el sol, las playas o la sofisticación de Miami sino por la cultura y la historia. En su visita a España, el gobernador Scott aspira, además, a captar más inversiones españolas para su Estado y que Florida siga siendo la puerta de entrada para las empresas que quieren establecerse en Estados Unidos y en Latinoamérica.
Más de 350 empresas españolas ya están presentes en Florida —mucho más que en ningún otro estado— y el número seguirá creciendo por la búsqueda de nuevas oportunidades de mercado, más aún con la magnitud de la crisis que sufren España y Europa y una seguridad jurídica en las inversiones que contrasta con los vaivenes sufridos en algunos países latinoamericanos.
Por eso la conmemoración del V Centenario de Florida ofrece una oportunidad única de reclamar ese legado cultural e histórico y reforzar las relaciones políticas y comerciales con Estados Unidos, lo que ayudaría a su vez a fortalecer la presencia global de España en el mundo. En un país con más hispanohablantes que en España y con un imparable crecimiento de la influencia de las comunidades hispanas parece obligado que se consoliden al máximo unos lazos basados en 500 años de historia común. No cultivar esta ocasión histórica por las urgencias del momento de crisis económica supondría desaprovechar una ocasión excepcional.
Con ese propósito de reivindicar el legado hispano y subrayar la importancia de los vínculos culturales, históricos y comerciales con Florida y Estados Unidos, un grupo de empresas españolas creó en 2008 la Fundación España-Florida 500 años. El propósito no es otro que vincular la historia y la cultura con el desarrollo comercial entre ambos países para que se conozca mejor la contribución histórica española a Florida y a Estados Unidos y se valoren más los productos y servicios de las empresas españolas. Es decir, fortalecer la marca y la imagen de España. Una marca que aparece demasiadas veces difusa por la falta de consistencia en las campañas que han buscado más el rendimiento a corto plazo que la firmeza con objetivos a largo plazo. Para lograrlo, la Fundación España-Florida 500 trabaja en la organización de una serie de actividades culturales, educativas y comerciales. Desde una gran exposición de historia en el Museo Frost de Miami, en la que se utilizará el mito de la fuente de la eterna juventud en torno a la figura de Ponce de León, a sendos conciertos de música pop y clásica con temas de artistas y compositores latinoamericanos, así como eventos deportivos y seminarios en colegios y universidades. Y sin que falten actividades comerciales para mostrar la marca España.
La visita del gobernador Scott a Madrid, durante la que entregará una invitación personal al Rey Juan Carlos para que presida los principales actos de la primavera del 2013, servirá de esta manera para despertar el interés de las autoridades españolas de un acontecimiento histórico de enorme relevancia en las relaciones bilaterales.
Un mes después de la visita del gobernador Scott a Madrid, ambos países volverán a encontrarse para confirmar el nuevo clima de acercamiento durante la reunión del 22 al 24 de junio del Consejo España-Estados Unidos en New Jersey, bajo la presidencia del senador Bob Menéndez, el líder político hispano más representativo y respetado en Washington. A la cita acudirán la secretaria de Estado Hillary Clinton, varios secretarios del Gobierno del presidente Barack Obama y ministros del Gobierno español, además de una amplia representación empresarial española. La reunión servirá para sentar las bases de una nueva y sólida era de cooperación bilateral tras las oscilaciones de los últimos años.
Porque España no puede permitirse el lujo de obviar la construcción de una relación firme con un país cuyas raíces son netamente hispanas, ni desaprovechar su influencia con la vibrante comunidad latina de Estados Unidos.
Emilio C. Sánchez es presidente de la Fundación España-Florida 500 años y director general de voxxi.com.

Ellas también hicieron las Américas


Ellas también hicieron las Américas

El Nuevo Mundo no solo fue cosa de hombres

Tras las huellas de Colón viajaron mujeres épicas que han sido engullidas por el olvido

Miles de españolas emigraron en el siglo XVI para explorar estas tierras

TEREIXA CONSTENLA 20 MAY 2012 - 00:01 CET72
Descendiente de españoles, sor Juan Inés de la Cruz, a la derecha, nació en México en 1651. Brillante, culta, aguda y sensible, reivindicó el papel de las oprimidas mujeres
Isabel Barreto. La única almiranta de Felipe II y su nombre no dice nada. Aventurera a la altura de Magallanes y Orellana. Soñadora capaz de ajusticiar a un marinero desobediente y avisar a navegantes: “Señor, matadlo o hacedlo matar… y si no, lo haré yo con este machete”. Una de tantas mujeres que protagonizaron gestas épicas en el Nuevo Mundo y olvidos legendarios en el Viejo. América no solo fue cosa de hombres. Pisando los talones de Colón se movilizaron un tropel de pioneras como Isabel Barreto, recordadas en una exposición en el Museo Naval de Madrid cuyo título lo dice todo: No fueron solos.
En 1595, tras enviudar, Isabel Barreto asumió el mando de la expedición que había partido de Perú en busca de las islas Salomón, donde ella y su marido, Álvaro de Mendaña y Neira, ubicaban Ophir, un reino de oro y piedras preciosas, otro Eldorado de los tantos de la época. Ni le intimidó la idea de cruzar el Pacífico ni le atemorizó hacerse cargo de una tripulación de héroes y villanos a partes iguales, que conspiraban para amotinarse cada dos por tres, que a la mínima amenazaban con beber en la calavera del prójimo, que malvivían a fuerza de agua con cucarachas podridas y tortitas amasadas con el mar.
Barreto se puso a la altura de aquellos marinos que navegaban con la muerte enrolada entre ellos. “Apenas había día que no echasen a la mar uno o dos [cadáveres], y día hubo de tres y cuatro”, escribió Pedro Fernández de Quirós, piloto y cronista de la travesía. A él debemos esta descripción de su jefa: “De carácter varonil, autoritaria, indómita, impondrá su voluntad despótica a todos los que están bajo su mando, sobre todo en el peligroso viaje hacia Manila”. En su búsqueda de las Salomón se toparon con las desconocidas islas Marquesas, donde fondearon. No cabe duda de que Isabel Barreto desconocía el desaliento. Con 7.000 millas náuticas a sus espaldas, el descontento de la tripulación soplándole en el cogote y un marido recién fallecido, ordenó zarpar hacia Filipinas. Pocos discutirían sus cargos (almiranta, gobernadora de Santa Cruz y adelantada de las islas de Poniente) cuando avistaron Manila. Allí se casaría con Fernando de Castro, al que contagió su arrebato y embarcó en otra enfebrecida travesía hacia las Salomón.
No fue Barreto la única protagonista de aquellos días de choque de civilizaciones. Sin embargo, fuera del circuito académico apenas han trascendido sus historias. “Mucho se ha hablado y escrito de la participación del hombre, del caballo e incluso del perro en la conquista del Nuevo Mundo. Muy poco, sin embargo, acerca de la participación de la mujer y de su importantísima labor en todos los aconteceres de lo que supuso el descubrimiento, conquista y colonización de las tierras americanas”, escribe el historiador de la Universidad de Vermont Juan Francisco Maura en el libro Españolas de ultramar en la historia y la literatura, publicado por la Universidad de Valencia.
¿Cuándo fueron las primeras? De la mano de Colón. En el tercer viaje del almirante (1497-1498) iban a bordo 30 mujeres a petición de los reyes Isabel y Fernando, aunque en los últimos años, según Maura, se ha constatado la presencia de embarcadas en el segundo (1493) y algún historiador sostiene que podrían haber participado en el primero (1492). Se desconoce con exactitud cuántas partieron hacia América porque muchas no figuran en los registros y otras viajaron ilegalmente, pero entre 1509 y 1607 se han contabilizado, según la investigadora de la Universidad de Alicante Mar Langa Pizarro, 13.218 pasajeras. Emigraron muchas –el 36% de los inscritos–, y entre ellas, algunas poderosas. María de Toledo, nuera de Cristóbal Colón –se casó con su hijo Diego–, fue virreina de las Indias Occidentales entre 1515 y 1520, aunque no le concedieron el permiso para dirigir la Armada y colonizar tierra firme después de la muerte de su esposo. María sufrió prejuicios sexistas (no se libró pese a sus redes familiares: era sobrina de Fernando de Aragón) y practicó prejuicios raciales (en una carta da poderes para que le lleven a las Indias “300 piezas de esclavos negros”). Bueno, en puridad histórica, no fueron tales, aclara el catedrático de Historia Moderna Carlos Martínez Shaw: “En la época no había prejuicios racistas, simplemente los europeos veían la esclavitud de los negros como la cosa más natural del mundo”.
La brazalera, como esta de plata, ágata y castaña de Indias del XVIII, tenía una misión protectora. Se colocaba bajo la manga / MUSEO DEL TRAJE
Una de las razones por las que se ha borrado la presencia femenina es malévola: “Para presentar a los españoles como una panda de piratas que solo buscan sexo y oro. Las mujeres humanizan el proceso”, expone Juan Francisco Maura, que achaca el silenciamiento al gran peso de la historiografía anglosajona para contar la aventura americana hispana. “En general presentan a los anglosajones como colonos, sin el matiz violento de la conquista, mientras que dibujan a los españoles como saqueadores y violadores que querían hacerse ricos”, contrasta. Desde luego, subraya, las pioneras en llegar a América no iban en el Mayfloweren 1620. Hacía décadas que miles de españolas de todo pelaje habían recomenzado su vida al otro lado del océano. “Y no solo en un segundo plano como muchos quieren pensar, sino a la vanguardia de una sociedad naciente”, aclara Maura.
En menos de un siglo emigraron 13.218 mujeres de variada clase. Todas se Iban "a valer más", según Pérez Canto
Hubo armadoras como la sevillana Francisca Ponce de León, que fleta su nao San Telmo a Santo Domingo 17 años después del descubrimiento; gobernadoras como Beatriz de la Cueva, que rigió los destinos de Guatemala; innovadoras como María Escobar, la primera en importar y cultivar trigo en América; empresarias como Mencía Ortiz, que funda una compañía para enviar mercancías a las Indias en 1549, o feroces conquistadoras como la extremeña Inés Suárez, que embarcó en 1537 como servidora de Pedro de Valdivia y acabó siendo su amante y guerreando contra los araucanos en Chile, a cuyos caciques (presos) decapitó sin contemplaciones. No eran tiempos de convenciones que defendiesen derechos de prisioneros de guerra.
Parte del trasiego hacia América se debe a una orden de la Corona (1515), que pronto obligó a todos los cargos y empleados públicos a embarcarse con sus esposas. “Las mujeres seguían a sus maridos, padres o hermanos o un alto funcionario con séquito o servicio, pero esto enmascara muchas situaciones, y a partir de 1550, más o menos, muchas viajaron solas buscando el cónyuge que no siempre encontraron o llevadas por otros bajo fórmulas muy distintas, criadas, amigas, institutrices. Todas, fuera cual fuera su posición, llegaron a América a valer más”, sostiene Pilar Pérez Canto, catedrática de Historia y coordinadora, junto a Asunción Lavrín, del volumen La historia de las mujeres en España y América Latina (Cátedra).
El sueño transoceánico contagió a toda la población. Las solteras no se arredraron: fueron el 60% de las que emigraron. Ricas, pobres, religiosas, prostitutas o aventureras con certificado de buena conducta, imprescindible para viajar legalmente. Las trabas migratorias no son un invento moderno: en una real cédula de 1549 se prohibía el viaje de “judíos y moros conversos, reconciliados con la Iglesia, hijos y nietos de quemados por herejía, extranjeros nacidos fuera de los territorios del imperio español y esclavos blancos y negros sin licencia especial”. Tampoco los subterfugios ni los burladores de la ley son modernos… ni masculinos (en exclusiva). Francisca Brava hizo las Américas sin dejar tierra firme. En un documento del Archivo de Indias se da cuenta de su negocio: “Quien quiera comprar una licencia para pasar a las Indias, váyase entre la puerta de San Juan y de Santiesteban, al camino que sale a Tudela, cabo de una puente de piedra, y allí pregunte por Francisca Brava, que allí se la venderá”.
Lo que las une a todas, según Carolina Aguado, comisaria de la exposición del Museo Naval de Madrid, son sus narices. “Eran mujeres de armas tomar. Abandonan un país en el siglo XVI y una sociedad donde la mujer era un cero a la izquierda y se meten en un barco cuando esos viajes eran terroríficos, con riesgo de pirateo y naufragio para llegar a una sociedad que no conocían”. A la comisaria le impresiona la peripecia de Mencía Calderón, que viaja con sus tres hijas y toma las riendas de la expedición al fallecer su marido, Juan de Sanabria: “Tardan seis años en llegar a Asunción, afrontan una tempestad, les atacan piratas y luego los indios tupis, ella pierde a una hija, y cuando en Brasil no les dejan volver a embarcar, se pone al frente del grupo que cruza el Mato Grosso. Del medio centenar de mujeres que habían zarpado llegan solo diez”. La gesta de Calderón se ha popularizado en los últimos años gracias a la novela de Elvira Menéndez El corazón del océano (Temas de Hoy), que ha inspirado una serie que emitirá Antena 3, con Ingrid Rubio, Clara Lago y Hugo Silva en el reparto.
Cada día de la expedición que dirigió Isabel Barreto "echaban uno o dos cadáveres al mar"
Uno de los testimonios femeninos más notables en la conquista americana fue narrado en primera persona por Isabel de Guevara, una de las fundadoras de Asunción y Buenos Aires, en una carta enviada a la princesa Juana, hermana de Felipe II, el 2 de julio de 1556, que se conserva en el Archivo Histórico Nacional. En ella detalla las penalidades sufridas por los 1.500 hombres y mujeres del grupo que encabezó Pedro de Mendoza hasta el río de la Plata. “Al cabo de tres meses murieron mil, esta hambre fue tamaña que ni la de Jerusalén se le puede igualar, ni con otra ninguna se puede comparar. Vinieron los hombres en tanta flaqueza, que todos los trabajos cargaban de las pobres mujeres, así lavarles las ropas, como curarles, hacerles de comer lo poco que tenían, limpiarlos, hacer centinela, rondar los fuegos, armar las ballestas cuando algunas veces los indios les vienen a dar guerra (…), dar arma por el campo a voces, sargenteando y poniendo en orden los soldados (…). Si no fuera por ellas, todos fueran acabados; y si no fuera por la honra de los hombres, muchas más cosas escribiera con verdad y los diera a ellos por testigos”.
La investigadora Mar Langa, que ultima el libro Mujeres de armas tomar, que editará Servilibro en Paraguay, cree que “probablemente” lo que omite es el canibalismo, detallado por testigos que sobrevivieron a la hambruna. En Viaje al río de la Plata (1567), el bávaro Ulrico Schmidl narró lo siguiente: “Tres españoles se robaron un rocín y se lo comieron sin ser sentidos, mas cuando se llegó a saber los mandaron prender e hicieron declarar con tormento; y luego que confesaron el delito los condenaron a muerte en la horca (…). Esa misma noche, otros españoles se arrimaron a los tres colgados en las horcas y les cortaron los muslos y otros pedazos de carne (…) para satisfacer el hambre”.
Los archivos españoles tutelan historias similares. Maura destaca que son un territorio inexplorado, “formidable pero sin catalogar”. No sabemos lo que no sabemos. Una cosa sí: cada documento deteriorado (y sin digitalizar) esparce una nube de amnesia sobre el pasado. Gracias a los archivos conocemos cuándo se fundaron el primer convento y el primer prostíbulo, aunque no lo hicieran precisamente en este orden. Cuatro beatas que habían viajado con Hernán Cortés abrieron las puertas del primer monasterio femenino (en el que acabarían ingresando dos nietas del emperador Moctezuma) en Ciudad de México en 1540. Para entonces la primera “casa de mujeres públicas” autorizada por la corona española era ya una institución consolidada en la ciudad de Santo Domingo, desde que el rey aprobó su construcción en agosto de 1526, “por la honestidad de la ciudad y mujeres casadas de ella y por excusar otros daños e inconvenientes”.
Tras compartir 11 meses agónicos, Ana de Ayala enterró a Orellana junto al Amazonas
Viajaron rameras, pero no todas las aventureras eran meretrices como a veces algunos interpretan. Alfonso Dávila, director del Archivo General de la Administración, investigó la biografía de la sevillana Ana de Ayala, esposa de Francisco de Orellana, para una exposición sobre la exploración del Amazonas. “Es una de las grandes incógnitas de la historia de España, unos la convierten en noble y otros en prostituta que vive amancebada con Orellana en Sevilla mientras prepara la segunda incursión en el Amazonas, debió de ser una mujer de clase media, de grandes redaños, porque se casó en contra de todos con Orellana”, explica Dávila.
Orellana y Ayala zarparon en 1544 a pesar de las órdenes de cancelar la travesía. La flota, que salió con 400 hombres y cuatro capitanes, se diezmó nada más llegar a Cabo Verde, “posiblemente por el agua corrompida y la falta de provisiones”. Orellana desoyó todos los presagios que anticipaban el desastre y dividió el menguado grupo en dos lanchas con las que embocaron el Amazonas. Surcaron el gran río durante 11 meses, perdidos, extinguiéndose uno tras otro, incluido Orellana, al que Ana de Ayala enterró en la orilla izquierda, bajo la sombra de un árbol. Sobrevivieron 44 personas, entre ellas la sevillana, que tuvo la valentía de afear al rey que la falta de medios les había precipitado al fracaso.
Quizá la única trayectoria que se impuso al olvido fue la de Catalina de Erauso, la singular monja alférez. Su asombrosa vida se transmitió y agrandó en diversas obras, que es la vía más directa para abrirse un hueco en la eternidad. Erauso, novicia en un convento español, zarpó para América, donde luchó vestida de soldado en un sinfín de combates que acabaron granjeándole el respeto de compañeros y superiores. Todas sus vulneraciones de la norma fueron toleradas. Incluida su sexualidad, porque Erauso jamás ocultó sus preferencias: “A pocos días me dio a entender que tendría a bien que me casase con su hija, que allí consigo tenía; la cual era muy negra y fea como un diablo, muy contraria a mi gusto, que fue siempre de buenas caras”. Lo dejó escrito en sus memorias hace casi cuatrocientos años, poco antes de coger de nuevo otro barco para América.
La exposición ‘No fueron solos’ podrá visitarse en el Museo Naval de Madrid desde el 21 de mayo hasta el 30 de septiembre.

jueves, 3 de mayo de 2012

Científicos españoles explican por primera vez el fenómeno del aura de las personas


CIENCIA

Científicos españoles explican por primera vez el fenómeno del aura de las personas

En términos neurológicos, la sinestesia consiste en que en el cerebro de ciertas personas se produce un «cruce de cables»

Día 02/05/2012 - 15.39h
Científicos españoles explican por primera vez el fenómeno del aura de las personas
UNIVERSIDAD DE GRANADA
Investigadores españoles de la Universidad de Granada han descubierto la capacidad de ver el aura de las personas es un fenómeno neuropsicológico denominado sinestesia. Los sinéstetas «mezclan los cinco sentidos, al tener más interconectadas las áreas del cerebro encargadas de procesar cada uno de los estímulos, de forma que son capaces de ver o paladear un sonido, según explica la nota de presa de la universidad española.
De este modo, conocidos popularmente como «curanderos» o «santones», presentan en realidad esta capacidad, que explicaría científicamente esta supuesta «virtud»
En un artículo publicado en la prestigiosa revista «Consciousness and Cognition», los profesores del Departamento de Psicología Experimental de la Universidad de Granada Óscar Iborra, Luis Pastor y Emilio Gómez Milán han ofrecido, por primera vez en el mundo, una explicación científica al fenómeno esotérico del aura, un supuesto campo energético de radiación luminosa multicolor que rodearía a las personas a modo de halo y que resulta invisible para la gran mayoría de los seres humanos.
En términos neurológicos, la sinestesia consiste en que en el cerebro de ciertas personas se produce un «cruce de cables» o conexiones sinápticas . Este hecho «les permite establecer asociaciones automáticas entre regiones cerebrales que habitualmente no están conectadas», según explica el profesor Gómez Milán, una cualidad que tendrían muchos de los curanderos que dicen poder ver el aura.

Varios tipos de sinestesia

Para realizar esta investigación, los científicos entrevistaron a varias personas afectadas por sinestesia, entre los que se encontraban supuestos curanderos, como el granadino Esteban Sánchez Casas, conocido como «El Santón de Baza».
Muchos le atribuyen ciertos «poderes paranormales», como poder ver el aura de las personas, «cuando en realidad se trata de un claro ejemplo de sinésteta», explican los autores de esta investigación.
Los autores del estudio destacan que en el caso de «El Santón de Baza» presenta sinestesia caras-color (por lo que asocia a cada persona con un color); sinestesia tacto-espejo (cuando observa a una persona que está siendo tocada o que experimenta un dolor, él experimenta ese mismo dolor); una alta empatía (la capacidad de sentir lo que está sintiendo otra persona) yesquizotipia (ciertos rasgos de personalidad con tendencia a formas atenuadas de paranoia y de alucinación que se da en las personas sanas).