sábado, 4 de febrero de 2012

UM DEUS A BILHÕES DE ANOS DE NÓS

UM DEUS A BILHÕES DE ANOS DE NÓS


Posto neste site em 03.02.2012                                         Arnaldo Xavier da Silveira



Do ateísmo boçal de grandes cientistas de hoje

1) Para a larga maioria dos físicos modernos, a ideia de Deus não passa de uma ficção herdada de nossos ancestrais das cavernas, que não sabiam como explicar raios, trovões, terremotos. Julgam que, com o tempo e com o avanço do conhecimento humano, essa ficção há de sumir, como já vem minguando. Segundo eles, a ciência jamais teria demonstrado a existência de Deus. Para essa gente, o simples fato de não haver unanimidade quanto a esse assunto é suficiente para que se negue a hipótese da criação. Uma lei da física se define quando os pesquisadores, repetindo cá e lá, por conta própria, os experimentos de um ou alguns pioneiros, obtêm resultados idênticos. Para eles, tal consenso é essencial para que uma tese seja tida como certa, e isso não ocorre, nem de longe, quanto à existência de Deus.

2) Essa concepção nasce de uma absoluta falta de espírito metafísico. Confunde as ciências naturais com a filosofia, e na realidade nega a esta, pois não a considera uma ciência, mas apenas uma espuma ilusória, vazia e malcheirosa do pensamento humano, cultuada por gente abobada ou exploradora dos hipossuficientes. Partindo de um materialismo dogmático, nega o espírito. Não é este o lugar para aprofundamento de tal questão.


Jogando tudo para um passado inatingível

3) O que ora se busca é chamar a atenção para uma manobra frequente na argumentação dos físicos ateus. Eles ressaltam que o big bang teria ocorrido num passado remoto, extremamente remoto, tão remoto que excede qualquer parâmetro concebível pela mente e pela imaginação dos homens. Algo da ordem de catorze bilhões de anos nos separam da intervenção divina imaginada, segundo eles, pelos criacionistas. E, segundo muitos desses sábios ateus, não se tem notícia certa sobre o que haveria antes desses quase catorze bilhões de anos, de forma que a ação criadora de Deus, se tivesse ocorrido, estaria irremediavelmente sepultada num passado inescrutável.

4) Quanto à vida, a tática que adotam não é muito diversa. Também viria de um passado impenetrável. E talvez os primeiros seres vivos, extremamente simples e primitivos, dos quais os demais se teriam formado pela força cega da evolução, tenham vindo do espaço sideral, ou de algum outro lugar sobre o qual nada possamos saber.

5) De tudo isso, e de muita coisa mais que afirmam com uma altivez que assombra, concluem que Deus não existe, que sua figura é perfeitamente dispensável para a ciência, como afirmou recentemente um dos maiores mestres dessa seleta casta de sábios. Teria obig-bang, então, provindo do nada?


Santo Tomás e a conservação das criaturas na existência

6) Se, deixando de lado tais divagações doentias da maioria dos cientistas modernos, procurarmos conhecer em Santo Tomás de Aquino o que nos ensina a Igreja sobre a ação de Deus no universo, veremos que essa ideia de uma criação incognoscível, perdida num mundo tenebroso de catorze bilhões de anos atrás, é de todo em todo falsa, incompleta, enganadora.

7) Partindo daquilo que é bem sabido, lembramos que Santo Tomás, para demonstrar a existência de Deus, argumenta que nada pode advir do nada. Ou o ser existente tem em si mesmo sua razão de existir, e então é necessário e é Deus, ou não tem em si mesmo sua razão de existir, e então é contingente e é criatura. O ser contingente é aquele que poderia existir ou não existir. Se constatamos que há seres contingentes, é porque existe um Deus que os causou, que lhes deu a razão de existir.

8) Tratando da conservação dos seres na existência, explana Santo Tomás que “é necessário dizer que (...) as criaturas são por Deus conservadas no ser. (...) Pois o ser de qualquer criatura depende de Deus de tal modo que ela não poderia subsistir nem por um momento, mas seria reduzida ao nada, se não fosse conservada no ser por uma ação do poder de Deus” (Summa Theol., I, q. CIV, a. 1, c.).

9) A isso, Santo Tomás objeta: “Deus é mais poderoso que qualquer agente criado (...); ora, o agente criado pode fazer com que seu efeito se conserve mesmo após cessada sua operação, como a casa permanece depois de cessada a ação do construtor, e como a água aquecida conserva o calor por algum tempo após a ação do fogo” (ibidem, obj. 1). E responde: “Deus não pode fazer com que uma criatura se conserve no ser após cessada a ação divina (...), pois a criatura precisa ser conservada por Deus na medida em que a própria existência do efeito depende da causa do existir” (ibidem, ad 2).

10) A seguir, Santo Tomás ensina que Deus conserva as criaturas no ser por uma ação imediata dele próprio, sem prejuízo do fato de que, num sentido secundário, uma criatura pode contribuir para a conservação de outra (ibidem, a. 2). E conclui mostrando que “reduzir algo ao nada não é próprio à manifestação da graça, pois o poder e a bondade de Deus mais se revelam pela conservação das coisas no ser; donde se deve dizer que absolutamente nada há de ser reduzido ao nada” (ibidem, a. 4, c).


Conclusão: agora e sempre, e por todos os séculos dos séculos

11) Note-se que, no caso, não se está tratando da presença espiritual de Deus em todas as criaturas e em todo lugar. Nem da Providência divina, que governa todas as coisas visíveis e invisíveis, ordenando-as para seu fim tanto no que é universal quanto no que é singular e individualíssimo em cada ser, como ensina Santo Tomás (Summa Theol., I, q. XXII, aa. 1 e 2). Mas aqui se fala de algo metafisicamente mais profundo, que é a ação ontológica e imediata de Deus ao manter na existência todos os seres contingentes.

12) Vê-se, pois, que não é necessário mergulhar num passado longínquo, misterioso, insondável, para demonstrar que existe Deus, sem o qual nada existiria e nada se conservaria na ordem do ser. Ele, que não se sujeita à cronologia deste Universo material, está presente em tudo, agindo sempre em tudo, mantendo tudo na existência, está hoje aqui a meu lado, em mim e no mais íntimo de meu ser, e em todos nós, bem como nas paragens de nós mais afastadas no espaço e no tempo.

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